A IMPORTÂNCIA do PAI na AMAMENTAÇÃO
MATHEUS ALVES RIBEIRO
Monografia apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção da graduação em Enfermagem. Orientadora Profª. Mestre Maria Inês Motta.
Campos dos Goytacazes
2005
RESUMO
O presente estudo trata da importância do pai no aleitamento materno. O objetivo proposto foi identificar a participação do pai durante o período de amamentação e analisar a sua importância na fase da amamentação. Optei por uma abordagem qualitativa, pois a mesma permite compreender o problema no meio em que ele ocorre sem criar situações articuladas que mascaram a realidade ou que levam a interpretações ou generalizações equivocadas. Esta foi uma pesquisa de campo e teve como instrumento uma entrevista estruturada com dez puérperas. As questões da entrevista foram baseadas nos dez passos para participação efetiva e afetiva do PAI no apoio ao aleitamento materno. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica, onde concluímos que o pai é o maior e o principal incentivador do aleitamento materno, pois das mulheres entrevistadas apenas 20% amamentaram exclusivamente até os seis meses e 10% até o 2° ano de vida, sendo as únicas que afirmaram a participação do pai durante o período de amamentação. Assim concluímos que quando o pai participa no período da amamentação este pode contribuir para o êxito do mesmo.
Palavras chaves: Aleitamento materno, paternidade, enfermagem.
ABSTRACT
The present study one is about a research on the importance of the father in the breastfeeding. The considered objective was to identify the forms with that the father can be acting during the period of breast-feeding to show its importance to them in this so special phase of its son. I opted to a qualitative boarding therefore the same one allows to understand the problem in the way where it occurs without creating articulated situations that mask the reality or that they take the maken a mistake interpretations or generalizations. The instrument used for field research was an interview structuralized with ten puerperal, being the questions based on the ten steps for participation it accomplishes and affective of the FATHER in the support to the breastfeeding. The data had been analyzed on the basis of the theoretical recital, where we conclude that the father is the greater and the main incentivation of the breastfeeding, therefore of interviewed women only 20% had exclusively suckled until six months and 10% until 2° year of life, being the only ones that they had affirmed the participation of the father during the period of breast-feeding. Thus we conclude that when the father participates in the period of breast-feeding this can contribute for the success of exactly.
Words keys: breastfeeding, father, nursing.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a OMS/UNICEF, a amamentação não é totalmente instintiva do ser humano. Muitas vezes tem que ser aprendida para ser prolongada com êxito, e a maioria das nutrizes precisam de reforço e apoio constantes.
Muitos pais sentem-se, de certa forma, excluídos do processo de amamentação, pois, efetivamente, esses não amamentam os seus filhos. Por outro lado, o pai deve entender que ele pode contribuir em muito nesse processo, não necessariamente amamentando, obviamente, mas procurando fazer a sua parte, seja dando apoio a sua esposa, tanto afetivamente quanto nos cuidados com o bebê. O apoio do pai freqüentemente faz a diferença entre o sucesso da amamentação ou o seu fracasso, como o abandono precoce. Este apoio é ainda mais crucial quando se trata do primeiro filho (GIULLIANO, 2000).
O interesse por este assunto surgiu a partir de uma certa indignação de não perceber a figura do pai sendo valorizada ou sendo pouco valorizada durante o período de amamentação. É dada mais visibilidade à figura materna e pouca importância à figura paterna. O que se percebe é que todas as iniciativas para orientar e reforçar a questão da amamentação exclusiva não contempla o pai e, no entanto, ele pode desempenhar um papel determinante da manutenção da amamentação.
Tanto se ouve sobre amamentação exclusiva, sua importância e seu incentivo pela mídia. Mas onde se encontra o pai da criança que é amamentada? Será que ele não é importante nesta fase tão especial da vida de seu filho? Assim, se o pai tem alguma finalidade qual é esta? Como o pai pode atuar na fase de amamentação? Como os pais se sentem diante desta realidade? As mulheres acreditam em um novo pai, acreditam que eles podem fazer diferença neste momento?
Devido a estes fatores o objeto deste estudo é a importância do pai no aleitamento materno.
O presente estudo tem como objetivo identificar a participação do pai durante o período de amamentação e analisar a sua importância na fase da amamentação.
1.1 JUSTIFICATIVA
Nos dias atuais um trabalho como este se faz necessário, a partir do momento em que há uma necessidade de reflexão sobre a família, para que, assim, se fortaleça os laços familiares, contribuindo também para a igualdade de gênero na família, mostrando aos pais que eles também são importantes neste período tão especial na vida de um casal e ainda mais especial para aquele que foi gerado.
Desta forma o presente estudo servirá como apoio aos pais, para que estes assumam uma responsabilidade ativa nos cuidados com a criança, servindo também de objeto de estudo para enfermeiros, acadêmicos de enfermagem e demais profissionais de saúde, contribuindo para o fortalecimento na linha de pesquisa de materno-infantil, uma vez que reconhecem que o pai é um importante influenciador no processo de aleitamento materno, pois este apresenta-se como agente estimulador da prática, e por isso considera-se talvez este apoio a fonte mais significativa que uma mulher recebe.
Assim sendo, cabe também ao enfermeiro valorizar a figura do pai durante a amamentação, pois em estudos efetuados provou-se ser o pai uma figura importante para a prática do aleitamento materno. No entanto, muitos pais não sabem de que maneira podem apoiar as mães, provavelmente devido à falta de preparo e orientação. Nesse sentido, o profissional de saúde deve dar atenção ao novo pai e estimulá-lo a participar ativamente desse período vital para a família.
Cabendo ao enfermeiro valorizar a participação paterna no período da amamentação durante as atividades de educação em saúde, realizada nos encontros com gestantes ou consultas de enfermagem, e dessa forma obter êxito na prática da amamentação.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 AMAMENTAÇÃO
A amamentação é um rico processo de entrosamento entre dois indivíduos, que embora já se relacionem há algum tempo enquanto feto e gestante, a partir do nascimento, vão interagir em um outro meio, o aéreo, com novas denominações: recém-nascido e puérpera.
Dentro de um tempo determinado pela convivência diária acontecerá um entrosamento capaz de desencadear um processo de formação de mais do que a soma de dois indivíduos, mas uma dupla, depois um trio, uma família e, finalmente, uma sociedade ajustada (REGO, 2002). Desta forma, é preciso lembrar que a terceira pessoa deste processo, ou seja, o pai, é o maior incentivador desde o período gestacional, devendo portanto o profissional de saúde valorizá-lo desde as consultas do pré-natal, diminuindo desta forma inseguranças e incertezas trazidas pela mulher.
A importância do aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida foi documentada como evidência científica apenas em meados da década de 1980. Os primeiros artigos publicados a respeito foram à revisão de Feachem & Koblinski e o estudo feito em Pelotas por Victora, ambos preocupados com mortes infantis por doenças infecciosas, diarréia em particular, e sua relação com a alimentação infantil. Nosso país lança, em 1981, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), com duas grandes campanhas na mídia, nas quais as mensagens não mencionavam “aleitamento materno exclusivo”. Depois dessas campanhas, não se repetiu nada de alcance parecido, mesmo com a mudança de recomendação. Assim, não há estudos que documentem como as mães tomaram conhecimento de que a prática recomendada nos primeiros seis meses é a de dar apenas leite materno. (REA, 2003, p.2).
Estudos mostram que há um aumento da duração do aleitamento materno no Brasil. Os dados mais recentes são de estudos realizados em 1999 pelo Ministério da Saúde realizado nas capitais que confirmou a tendência do aumento da amamentação exclusiva.(op. cit 2003).
Mesmo com esse aumento, estamos longe de alcançar o recomendado: que todas as crianças recebam amamentação exclusiva até os seis meses de vida. A OMS e a política nacional coincidem hoje na recomendação de amamentação exclusiva por seis meses e na continuidade da amamentação, com a entrada de alimentos complementares, a partir dessa idade até pelo menos dois anos. A proporção de crianças em amamentação exclusiva aos 180 dias nas capitais, em 1999, foi de apenas 9,7% longe, portanto, da recomendação de 100% (op. cit 2003).
Assim sendo com o objetivo de reverter essa situação, várias ações têm sido propostas e implementadas por grupos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Academia Americana de Pediatria e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, e nacionais, tais como o Ministério da Saúde, o Instituto da Saúde de São Paulo, secretarias de estado, a Sociedade Brasileira de Pediatria, dentre outras. Tais grupos estão realizando ações como: educação em amamentação, treinamento de profissionais de saúde e aconselhamento em amamentação, entre outras. (id, 2004).
De acordo com a OMS/UNICEF: Os motivos alegados pelas mães para não amamentar ou para interromperem a amamentação precocemente, indicam que existe uma falta de conhecimento do processo fisiológico da lactação, e do fato de que a maioria das mães pode amamentar e produzir leite suficiente para seu filho. Os tremores, as crendices, as inseguranças e a preocupação estética decorrem da falta de informações e de estímulos para enfrentar as dificuldades que surgem.
Desta forma pensando que a mulher passa por um longo período de gestação até que possa concretamente amamentar seu filho, entende-se que esta mulher deve ser preparada para a amamentação ainda no período de gravidez, pois conhecer os aspectos relacionados à pratica do aleitamento materno é fator fundamental no sentindo de colaborar para que a mãe, pai e criança possam vivenciar a amamentação de forma efetiva e tranqüila recebendo do profissional as orientações necessárias e adequadas para o seu êxito.
Assim sendo cabe ao enfermeiro enquanto profissional de saúde orientar de forma adequada aos pais sobre a produção do leite e a maneira pela qual o leite vai do peito para o bebê, diminuindo assim o índice de mães que interrompem a amamentação precocemente.
A produção do leite se dá por um estímulo neuro-endócrino e três órgãos são importantes neste processo: placenta, hipófise e mama (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
A placenta é responsável pela produção dos esteróides placentários (estrógenos e progesterona) que, durante a gravidez, preparam a mama para a lactação, estimulando a deposição de gorduras , o crescimento dos ductos e alvéolos.Com a saída da placenta após o parto, os níveis de esteróides caem, conduzindo a hipófise anterior a liberar prolactina, que irá estimular os alvéolos mamários a produzir leite.
Durante a gravidez as altas concentrações destes hormônios esteróides, presentes no plasma inibem a secreção do leite, ocorrendo somente a síntese do pré-colostro que é uma substancia que, na sua composição, contém grande quantidade de imunoglobulinas e lactoferrina.
À medida que os níveis plasmáticos de estrógeno e progesterona caem, cerca de 3 a 5 vezes nos primeiros dias após o parto, a produção de leite tem inicio.O período em que se inicia a produção de leite é chamado de apojadura ou descida. Acontece em torno de 48 a 72 horas após o parto. As mamas aumentam de tamanho e temperatura, tornam-se dolorosas e este fenômeno dura, em media, três a quatro dias. A apojadura marca a mudança do controle endócrino para o autócrino da lactação. O volume de leite produzido tende a aumentar gradativamente. Assim, no segundo dia, está por volta de 50ml/dia. No quarto dia, ao redor de 550ml/dia.Já aos três meses , é de cerca de 850ml/dia. Este conhecimento é importante para a informação da puérpera de que a pequena quantidade de leite produzida nos primeiros dias é normal.
Os níveis plasmáticos de prolactina elevam-se em resposta à sucção do recém-nascido e estão diretamente relacionados à freqüência, duração e intensidade da sucção. A sucção do mamilo produz uma elevação de prolactina basal, apresentando um pico de produção entre os 20 a 40 minutos após o inicio da estimulação. Sabe-se que 30 minutos de sucção podem determinar níveis elevados de prolactina por cerca de 3 a 4 horas.Como a prolactina é o hormônio fundamental para a galactopoiese, permitir a sucção do mamilo pela criança a livre demanda à livre demanda é o elemento básico para a manutenção da amamentação. Quanto mais rápido após o nascimento, e mais frequentemente se coloque o recém-nascido ao seio, maior será a produção de leite e menores os sintomas devidos à apojadura.
O leite acumulado nos alvéolos não flui espontaneamente para os ductos e seios lactíferos. A ocitocina, liberada pela hipófise posterior, é o hormônio que atua sobre as células mioepiteliais, determinando sua contração e consequentemente expulsão oferece, tanto para o crescimento e desenvolvimento de lactentes de leite para os ductos.
Nos primeiros dias após o parto, o reflexo de ejeção responde não somente a estímulos tácteis, mas também olfatórios, visuais ou auditivos .Pode responder ainda devido à proximidade física ou pensamento no filho.
É importante lembrar que o reflexo da descida do leite pode ser inibido pelo estresse, assim é importante que a família que irá receber esta criança esteja ciente de todo este processo fisiológico para que colaborem para o êxito da amamentação, pois os estresses físico e emocional causam na fisiologia da lactação alterações que podem influenciar o desenvolvimento do aleitamento materno. Foi comprovada a influencia do stress tanto no processo de ejeção como na produção do leite. Ocorre bloqueio da ejeção do leite tanto por interrupção central da liberação de ocitocina pela neurohipófise quanto por bloqueio periférico causado por adrenalina que age direto na mama.Também foi estabelecida relação entre a lactação e uma atenuação da resposta ao estresse (Costa, 2003).
2.2 VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO
Sabemos que a espécie Homo sapiens – a mais adaptável da escala zoológica – encontrou muito cedo fontes alternativas, ou seja, fontes que substituíam o leite humano para alimentar sua cria. Essa prática tem sido cada vez mais intensamente explorada, levando o homem a distanciar-se de sua condição de mamífero. Paga-se um alto preço por essa quebra de paradigma, pois o leite materno, além de diminuir o risco de infecção e até mesmo de morte infantil, aumenta o vínculo mãe-filho, o que possibilita uma melhor qualidade de vida futura, entre outras vantagens.(TERUYA, 2004).
O ser humano não está pronto para viver independente do organismo humano materno no momento em que deixa o útero, após o período de gestação. Na etapa extra uterina o ninho do útero será substituído pelo colo e o cordão umbilical pelo peito materno, de onde fluirá o colostro, uma espécie de néctar, fonte sobretudo de anticorpos.
Considera-se, pois a amamentação como a segunda etapa da gestação, após a qual, e só então, o bebe começará a evidenciar alguns sinais de independência do organismo materno.Dessa forma, e somente dessa forma o desenvolvimento físico e afetivo do bebê terá uma seqüência natural. (REGO, 2002).
Atualmente, 63% das crianças com menos de seis meses, nos países em desenvolvimento, não recebem adequadamente o leite materno, e os resultados são devastadores, a curto e em longo prazo.
Crianças que não são amamentadas exclusivamente nos primeiros seis meses têm menos defesas contra doenças que podem ser fatais, como pneumonia e diarréia. Para elas, também faltam nutrientes para desenvolver o corpo e a mente. O leite materno fornece nutrientes vitais e aumenta as chances de uma criança crescer saudável. É um presente inestimável que quase toda mãe pode oferecer a sua criança.
Uma maneira adequada para o crescimento das proporções de crianças que se amamentem exclusivamente, é mostrar à mãe e ao pai da criança as vantagens que o leite materno traz.
Para Rego (2002), o leite materno é o único alimento que garante qualidade e quantidade ideal de nutrientes para o bebê, apresentando concentrações ideais de proteínas, açúcares, gorduras, sais minerais e vitaminas.
As proteínas são os elementos formadores do arcabouço corpóreo, assim como os tijolos na edificação de um prédio, promovendo o crescimento dos músculos e vísceras. As gorduras ou lipídeos são fundamentais no desenvolvimento do cérebro e de todo sistema nervoso central ,além de servirem como reservatório de energia para a máquina humana.
Essas são formadas por aminoácidos e só o leite materno contém todos os aminoácidos essenciais em proporções adequadas para garantir o perfeito desenvolvimento do cérebro e, consequentemente, da inteligência.
Açúcares ou glicídios são o combustível propriamente dito que movimenta toda a atividade metabólica do organismo com a sua queima. Os sais minerais são a matéria prima de estruturas básicas como o cálcio nos ossos,o ferro no sangue, o sódio e o potássio nas células. As vitaminas são intermediadores essenciais em mecanismos que favorecem o aproveitamento de tantos outros nutrientes que chegam ao organismo.
Desta forma podemos concluir que o leite materno é o modelo de alimento perfeito que todos os produtos industrializados procuram imitar, sem possibilidades de êxito.
O colostro é insubstituível como o primeiro alimento para o recém nascido. Espesso amarelo pegajoso, contém mais proteína, imunoglobulinas e vitamina A que o leite maduro, ajuda a eliminar o mecônio prevenindo a icterícia ,além de concentrar fatores de crescimento que promovem o desenvolvimento do tubo intestinal imaturo do bebê.
Ele ainda protege o recém-nascido de forma inigualável. Concentra fatores de crescimento que promovem o desenvolvimento do tubo intestinal imaturo do bebê, preparando-o para receber o leite maduro.Se o bebê receber leite industrializado antes de mamar o colostro, poderá absorver proteínas não digeridas que costumam lesionar o intestino e causar alergias.
O leite materno favorece o desenvolvimento do sistema imunológico do bebê, protegendo-o contra infecções e alergias não apenas na infância, mas também na idade adulta.
Nas ultimas décadas, estudos científicos demonstram, de maneira inequívoca, o que já se sabia há séculos: lactentes amamentados ao seio sofrem percentual muito menor de doenças infecciosas que aqueles alimentados artificialmente.
Assim sendo é importante lembrar que o leite materno também traz benefícios para as mães, este é importante no espaçamento entre as gestações, pois enquanto amamenta com freqüência a mulher não ovula e, consequentemente não menstrua, tornando-se infértil temporariamente, previne contra hemorragias pós-parto, pois através da sucção do bebê logo após o parto a ocitocina é liberada e esta atua contraindo o útero, ocluindo os vasos sanguíneos após a saída da placenta, evitando as hemorragias, promovendo também uma rápida diminuição do volume do útero, previne anemias, protege contra o câncer ginecológico é um “tranqüilizante” natural e vinculo afetivo.
A amamentação desenvolve o apego que protege a relação mãe-filho, evitando a depressão pós-parto, as negligências, abusos, maus tratos e o abandono.
O desenvolvimento do apego tem como momento crucial o período das primeiras horas após o nascimento. O contato pele a pele, ligação olho a olho atraindo mãe e filho, e a participação do pai tocando o bebê na primeira hora de vida, são de fundamental importância no estabelecimento do vínculo afetivo entre os pais e o recém nascido.Daí é indispensável a presença do pai vivenciando a experiência do nascimento e a primeira mamada, ainda na sala de parto.Esse contato induz a liberação prolactina e de ocitocina (hormônio do vinculo ou hormônio do amor), que vão então modificando o perfil psicológico da mãe, induzindo uma mudança de comportamento veiculada pelo sentimento maternal.
2.3 O PROFISSIONAL DE SAÚDE E OS PAIS
Ao iniciar a pesquisa sobre este tema percebi muitas vezes a inquietação dos meus colegas de turma, quando me perguntavam o tema de meu projeto de conclusão de curso e ao ouvirem minha resposta logo alguém perguntava mais qual é a importância do pai? Como o pai pode ser importante no aleitamento materno?
O que mais me incomodava era perceber que ainda hoje os acadêmicos, profissionais no amanhã ainda não haviam despertado a valorização da figura paterna, pois este, quando presente, é o principal agente influenciador no período da amamentação.
Angustiado com esse tipo de comentário logo percebi que muitas vezes o pai não se envolve nesta fase tão importante para a vida de seu filho e também para a dele, onde começa o fortalecimento dos laços familiares. Talvez movido pelo desconhecimento das maneiras com as quais ele poderá agir neste momento.
Sendo assim é importante lembrar que o profissional escolhido para o acompanhamento de uma gestante e de seu filho deve sempre usar o aconselhamento como instrumento incentivador e esclarecedor.
McKinney (1982 aput TERUYA, 2004, p 3) define aconselhamento como:
“Uma relação interpessoal na qual o conselheiro assiste o indivíduo na sua totalidade psíquica a se ajustar mais efetivamente a si próprio e ao seu ambiente”. É considerado, ainda, como “ajuda na tomada de decisões das pessoas para resolverem os seus próprios problemas, abrangendo informações objetivas que possibilitam uma melhor utilização dos recursos pessoais.
É importante entender a diferença entre o simples ato de aconselhar e aconselhamento. Segundo TERUYA (op. cit. 2004), aconselhar ou dar conselho é dizer à pessoa o que ela deve fazer; aconselhamento é uma forma de atuação do profissional com a mãe onde ele a escuta, procura compreendê-la e, com seus conhecimentos, oferece ajuda no sentido de estimular que a mãe planeje, que tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentando sua autoconfiança e auto-estima. Assim sendo, é importante que os enfermeiros estejam atentos às necessidades de suas clientes e usem o aconselhamento durante suas consultas desde o pré-natal, como uma estratégia didática de comunicação.
Desde 1995 vem sendo implementado o curso de “Aconselhamento em Amamentação: um Curso de Treinamento”, com o suporte do Ministério da Saúde, de secretarias de saúde e do Instituto de Saúde de São Paulo. O curso nasceu da iniciativa do Programa de Controle das Doenças Diarréicas (Control of Diarrhoeal Diseases – CDD) em colaboração com UNICEF/OMS, os quais idealizaram e implantaram o curso, testado pela primeira vez em 1991 nas Filipinas, em 1992 na Jamaica e em 1993 em Bangladesh. Desde então, vários países no mundo adotaram esse curso, que tem como objetivo treinar o profissional de saúde em algumas habilidades específicas para facilitar a comunicação e atingir uma ação construtiva, considerando as bases fisiológicas da lactação.
Uma avaliação sobre o curso de aconselhamento em amamentação feita no Brasil concluiu que os participantes adquirem habilidades de aconselhamento; porém, para que os mesmos passem a aplicar o aprendizado na prática, há necessidade de reforçar o manejo clínico da lactação e também de uma supervisão continuada. (op. cit. 2004).
As habilidades recomendadas no aconselhamento em amamentação da OMS/UNICEF são resumidas na Tabela 1.
Tabela I – Habilidades para o aconselhamento em amamentação
Habilidades de ouvir e aprender
Use a comunicação não verbal útil
Mantenha a cabeça no mesmo nível
Preste atenção
Remova barreiras
Dedique tempo
Toque de forma apropriada
Faça perguntas abertas
Repita o que a mãe diz com suas palavras
Use expressões e gestos que demonstrem interesse
Demonstrem empatia – mostre que você entende como a mãe se sente
Evite palavras que demonstrem julgamento
Habilidades para aumentar a confiança e dar apoio
Aceite o que a mãe pensa e sente
Reconheça e elogie o que a mãe estiver fazendo certo
Dê ajuda prática
Dê poucas informações, selecionando aquelas que são relevantes.
Use linguagem simples
Dê sugestões, e não ordens.
Segundo Ministério da Saúde, (2000) a equipe de saúde, ao entrar em contato com uma mulher gestante na unidade de saúde ou na comunidade, deve buscar compreender os múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua família. O contexto de cada gestação é determinante para seu desenvolvimento bem como para a relação que a mulher e a família estabelecerão com a criança, interferindo também no processo de amamentação e nos cuidados com a criança e com a mulher. Um contexto favorável fortalece os vínculos familiares, condições básicas para o desenvolvimento saudável do ser humano.
Durante a gestação, a mulher encontra-se numa situação diferente da habitual, com suas dúvidas, insegurança e medo. Isso a torna mais sensível e suscetível frente às pressões de familiares, profissionais de saúde e amigos quanto à sua capacidade de amamentar. Além disso, a mãe pode estar em conflito consigo mesma sobre a decisão de amamentar. Nesse contexto, a mãe pode facilmente perder sua confiança e auto-estima e estar muito propensa a oferecer mamadeira ao seu bebê. (TERUYA op. cit. 2004).
Assim sendo é preciso que profissionais que atuam nesta área estejam treinados a trabalhar com essas mães assegurando sua alto estima, apoiando-as e encorajando-as para que consigam resistir às pressões que são impostas a ela. Uma mãe com auto estima assegurada é capaz de resistir as pressões contra a amamentação.
Uma mãe que amamenta facilmente perde a confiança em si mesma e pode se tornar suscetível à pressão de familiares e conhecidos para que desmame. É importante que o profissional faça a mãe se sentir confiante e bem consigo mesma, evitando o emprego de certas palavras (certo, errado, bem, mal, bastante, adequado, direitinho, normalmente, suficiente, problema) que podem ter conotação de julgamento.
Todas as habilidades do aconselhamento devem ser atentamente usadas na consulta, com ênfase na empatia: aceitar o que a mãe diz, não julgá-la, não “cobrar” dela posturas e atitudes frente à amamentação, elogiar, informar e sugerir para que a mãe possa decidir o que é melhor para o seu filho.
A passagem da ponte do conhecimento do profissional à mãe é uma tarefa árdua a ser vencida. O enfermeiro deve estar sempre alerta e preparado para modificações na sua rotina e postura e lembrar que, mesmo errando, é importante procurar acertar. Mudar o paradigma do atendimento com a ajuda do aconselhamento em amamentação é um desafio que deve ser enfrentado e vencido.
Assim é importante que o enfermeiro use do aconselhamento para realizar atividades de educação em saúde na sua rotina de trabalho, incentivando e defendendo o aleitamento exclusivo. Essas ações devem ser desenvolvidas desde as consultas do pré-natal, onde o profissional deve orientar as gestantes quanto aos benefícios do aleitamento materno, realizar orientações quanto às técnicas de como dar o peito como apoiar e acompanhar o bebê após o nascimento, diminuindo desta forma medos e inseguranças
2.4 O PAI NA AMAMENTAÇÃO
Ser pai era considerado, até pouco tempo, algo da ordem do natural e a ciência, assim como a crença popular, afirmava a importância do pai para o desenvolvimento da criança; em função dessa naturalização, estudos mais aprofundados a respeito da relação pai-filhos/as e sobre os caminhos da paternidade para o homem não eram empreendidos. A rápida ascensão do número de separações/divórcios e o afastamento do pai – não necessário, mas constatado na prática – inaugurou uma vertente de pesquisas que passou a investigar as conseqüências da sua ausência (Silveira, 1998). Entretanto, só a partir dos estudos sobre a mulher, impulsionados pelo feminismo, que pesquisadores/as vão buscar compreender melhor a masculinidade e a paternidade, que passam a ser vistas sob outro prisma, como construções sociais.
As mudanças sócio-econômicas e culturais que foram se consolidando na segunda metade do século XX provocaram alterações nas condições femininas e masculinas, desencadeando a necessidade de se buscar diferentes compreensões sobre as relações pessoais e sobre os laços e novas configurações familiares. Neste contexto, o Feminismo, que inicia como um movimento de reivindicação de igualdade de direitos sociais, abre espaço para investigações em diversas áreas.
Para Hall (1998), o Feminismo, junto a outros movimentos sociais dos anos 60, foram fundamentais para deslocar a concepção de sujeito moderno. Contribuíram de forma direta com questionamentos sobre dicotomias, como privado-público; com a abertura de novas arenas de discussão política, esferas intocadas da vida social como a família, a divisão doméstica do trabalho e o cuidado com as crianças; e, principalmente, com a politização da subjetividade e do processo de identificação.
A partir da compreensão, no âmbito dos estudos feministas, de que estudar a condição da mulher implica, necessariamente, remeter-se à condição do homem, estes estudos evoluíram no sentido de abordar as relações de gênero. Assim, cria-se uma nova perspectiva, que contempla a questão do poder: “… a de conceituar gênero como categoria analítica, que permitiria compreender ou interpretar uma dinâmica social que hierarquiza as relações entre o masculino e o feminino” (Arilha, Medrado e Ridenti, 1998, p.24).
Ao longo dos anos a sociedade contemporânea vem passando por várias transformações, dentre elas, o movimento da globalização, considerado o mais avançado processo de internacionalização da economia; a terceira revolução industrial, caracterizada pela evolução da informática e a inserção da mulher no mercado de trabalho. Esses fatores têm estado na base das transformações de cunho tecnológico, científico, econômico, político, cultural e social com mais intensidade a partir da década de 90, causando impactos diretos no que diz respeito à competitividade e à organização do trabalho (MORAES, 2004).
Assim, onde cada vez mais se percebe uma inserção da mulher no mercado de trabalho é preciso que o pai se faça presente e participativo no período do aleitamento materno, para contribuir com o êxito do mesmo.
Infelizmente, em parte por causa da amamentação, os cuidados com o bebê são quase exclusivamente responsabilidade da mulher, na maioria das culturas. Os pais, no entanto, podem desempenhar um papel importante na divisão da responsabilidade nos cuidados com a criança e no apoio à vulnerável dupla mãe-bebê, nas primeiras semanas e meses de vida.(GREINER, 1998).
Existem várias formas de apoio que a mulher necessita por parte do pai do seu bebê. Na verdade, a divisão do trabalho, dentro da família tem sido renegociada pelo mundo. Imagens de homens envolvidos nos cuidados infantis parecem estar limitadas quase exclusivamente ao ato de dar mamadeira. Nós todos concordaríamos que é bem mais divertido ser responsável “pelo que entra” do que “pelo que sai” do bebê. No entanto, a troca de fraldas pode ser facilmente feita pelo pai, com menores riscos para a saúde da criança, que se ele alimenta o bebê (com exceção da alimentação em copinho, com leite materno) (Ibid,1998, p. 2 ).
É importante que os pais compreendam os benefícios da amamentação para assim se disporem a apoiar as mulheres que estão amamentando, se essa é a escolha dela. Seria ainda melhor se ele estivesse disposto a proporcionar apoio emocional e ajuda para superar qualquer crise ou dificuldade que pudesse ocorrer durante a amamentação. (Id, 1998).
É preciso que o enfermeiro incentive o pai a participar efetivo e afetivamente no período do aleitamento materno, fazendo assim que ela compreenda que ele não é um simples incentivador da prática do aleitamento, mas sim, o principal influenciador da amamentação.
Para facilitar a compreensão dos pais, Carvalho, (2003) nos mostra os dez passos para a participação do pai no aleitamento materno:
1. Encoraje e incentive sua mulher a amamentar:
Por vezes ela pode estar insegura de sua capacidade para o aleitamento. Seu apoio será fundamental nestas horas.
2. Divida e compartilhe as mamas com o bebê:
Mesmo que seja difícil aceitar, lembre-se que a amamentação é um período passageiro. Dê prioridade a seu filho (a).
3. Sempre que possível, participe do momento da amamentação:
Sua presença, carícias e toques durante o ato de amamentar são fatores importantes para a manutenção do vínculo afetivo do trinômio mãe + filho + pai.
4. Seja paciente e compreensivo:
No período de amamentação é pouco provável que sua mulher possa manter a casa, as refeições e se arrumar de formas impecáveis. As necessidades do recém nascido são prioridades nesta fase.
5. Sinta-se útil durante o período da amamentação:
Coopere nas tarefas do bebê na medida do possível: trocar fraldas, ajudar no banho, vestir, embalar, etc.
Quando ela estiver dando de mamar, leve um copo de suco de frutas e/ou água, ela vai adorar !
6.Mantenha-se sereno:
Embora o aleitamento traga muitas alegrias, também traz muitas dificuldades e cansaço. Às vezes sua mulher pode ficar impaciente. Mostre carinho e compreensão neste momento. Evite brigas desnecessárias para não prejudicar psicologicamente a descida do leite.
7. Procure ocupar-se mais dos outros filhos (se os tiverem):
Para que não se sintam rejeitados com a chegada do novo irmão. Isto permitirá a sua mulher dedicar-se mais ao recém – nascido.
8.Mantenha o hábito de acariciar os seios de sua mulher:
Se você costumava fazê-lo. Estudos demonstram que quanto mais uma mulher é sensível às carícias do companheiro, mais reagirá à estimulação rítmica de seu bebê.
9. Fique atento as variações do apetite sexual de sua mulher:
Algumas reagem para mais, outras para menos, são alterações normais. Esta é uma ocasião para o casal vivenciar novas experiências e hábitos sexuais, adaptando-se ao momento.
10. Não traga para casa latas de leite, mamadeiras e chupetas:
O sucesso deste período depende, em grande parte, de sua atitude.
É bom constatar que, diante da oportunidade, os homens se mostram capazes de cuidar dos filhos e de ganhar mais consciência sobre seu papel na formação da personalidade das crianças. Um contato mais íntimo entre o bebê e o pai, seja na hora do banho, da alimentação, seja num momento de carinho, nos traz a esperança de novas gerações mais solidárias e mais fraternas e de um mundo onde a violência dê lugar à delicadeza.
Por isso é preciso apoiar os pais para que assumam a responsabilidade ativa nos cuidados com a criança, contribuam para a igualdade de gênero na família e se empoderem nas relações dentro da família.
3 METODOLOGIA
Deslandes; Neto; Gomes; Mináyo (1994 apud GAUTHIER-MAURICE, 1998, p.11), entendem a metodologia como caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade e reportam-se à assertiva de Lênin (1965) – “O MÉTODO É A ALMA DA TEORIA” (p. 148). Para os autores a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem e o conjunto de técnicas destinadas à construção da realidade à potencializarão da criatividade do pesquisador.
Ao reconhecerem a necessidade de um instrumental claro e coerente para o encaminhamento dos impasses teóricos no desafio da prática, esse autores alertam para o cuidado na utilização das técnicas de pesquisa, afirmando que seu endeusamento conduz ao formalismo árido, ou a respostas estereotipadas; Ao passo que seu desprezo leva ao empirismo ilusório nas conclusões ou as especulações abstratas e estéreis.
De acordo com Triviños (id. 1987) a pesquisa qualitativa permite compreender o problema no meio em que ele ocorre sem criar situações articuladas que mascaram a realidade ou que levam a interpretações ou generalizações equivocadas segundo ele o observador é indivíduo separado da vida e das atividades sob estudo é também um participante daquele círculo de atividades tendo um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma completa e contextualizada.
Este estudo foi realizado a partir do método qualitativo, tendo como sujeitos, puérperas do alojamento conjunto do Hospital dos Plantadores de Cana no município de Campos dos Goytacazes-RJ, sendo utilizado como critério para escolha dos sujeitos, as puérperas que já haviam sido mães outras vezes, tendo como referência as experiências vivenciadas com o último filho amamentado.
Foram feitas entrevistas estruturadas com dez puérperas, sendo as questões baseadas nos dez passos para participação efetiva e afetiva do PAI no apoio ao aleitamento materno. As entrevistas foram realizadas em dois dias com mulheres em pós-parto imediato que se enquadravam dentro dos seguintes critérios determinados.
É importante ressaltar que na segunda pergunta, perguntei as mães se o pai da criança sentia ciúmes de suas mamas no período da amamentação, facilitando assim a compreensão das mesmas.
Para fazer a análise de dados, as respostas foram colocadas em forma e tabelas de maneira que pudessem ser contabilizadas as respostas e, dessa forma, tornasse mais fácil a visualização e compreensão.
Para realização da pesquisa de campo foi utilizado termo de compromisso e consentimento livre e esclarecido, na qual os sujeitos da pesquisa autorizam o uso das informações colhidas através de instrumento de coleta de dados para fins de estudo científico, sendo assegurado o anonimato e sigilo das informações contidas neste instrumento. A pesquisa foi desenvolvida dentro dos parâmetros contidos na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde que dispõe sobre pesquisa que envolve seres humanos.
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para melhor visualização e compreensão dos resultados, foram construídas duas tabelas sendo a primeira referente ao tempo de amamentação e a segunda sobre a participação do pai durante o período de amamentação. Tais tabelas foram construídas para mostrar que as mulheres que amamentaram até os seis meses ou mais foram as que afirmaram, durante a entrevista, a participação do pai neste período, facilitando assim, a interpretação dos mesmos, como podemos observar a seguir:
Tabela 1- Respostas referentes ao tempo de amamentação
TEMPO DE AMAMENTAÇÃO N° %
Não amamentou 1 10
1 mês 3 30
2 meses 2 20
3 meses 1 10
6 meses 2 20
2 anos 1 10
TOTAL 10 100
Como foi possível verificarmos, enquanto a organização mundial da saúde preconiza aleitamento até dois anos, sendo exclusivo até os seis meses, das mulheres entrevistadas, apenas 20% amamentaram até o 6º mês e 10% até o 2º ano de vida. É importante ressaltar que das mulheres entrevistadas, 60% deixaram de amamentar com 3 meses ou menos e que 10% não amamentou. Um número bastante significativo.
Tabela 2- Resultado contabilizado das entrevistas
O pai de seu filho:
Sim Não TOTAL
1. encorajava e incentivava durante a amamentação? 4 6 10
2. dividia e compartilhava suas mamas com seu bebê? 8 2 10
3. Participava do momento da amamentação, te acariciando? 5 5 10
4. era paciente e compreensivo no período de amamentação 6 4 10
5. cooperava nas tarefas do bebê? 1 9 10
6. se mantinha calmo quando no período da AM você ficava impaciente 6 4 10
7. ocupava-se com os outros filhos para que eles não se sentissem rejeitados? 5 5 10
8. acariciava seus seios durante o período da amamentação? 1 9 10
9. soube respeitar a diminuição da vontade de ter relações? 6 4 10
10. levava para casa latas de leite, mamadeira e chupetas? 7 3 10
TOTAL 49 51 100
Na primeira pergunta 60% das mães responderam que o pai não incentivava e nem a encorajava durante a amamentação, onde as 6 mães disseram:
“Ele nunca ligou nem se interessou por estas coisas”. (entrevistas. n.2,3,4,5,7,9e 10 )
Assim sendo é importante que o pai incentive e encoraje sua mulher a amamentar, pois a mesma poderá estar insegura de sua capacidade para o aleitamento materno. Sendo o apoio do pai fundamental.
Na segunda pergunta 80% das mulheres responderam que o pai da criança dividia e compartilhava sua mama com o bebê, para facilitar a compreensão das mães a pergunta feita foi a seguinte:O pai de seu filho sentia ciúmes de suas mamas quando o bebe estava amamentando? Nesta fase se faz necessário orientar aos pais que mesmo que seja difícil aceitar a prioridade da mama é do filho.
Na terceira pergunta 50% das mães disseram que o pai não participava do momento da amamentação, acariciando-as. Desta forma se faz necessário ressaltar algumas falas :
Como seria mais fácil amamentar se alguém me desse carinho algumas vezes (entrevista n° 3)
Quando ficava cansada tudo que eu queria era carinho, e ele mal me olhava. (entrevista n° 9)
O pai deve ser estimulado a participar do momento da amamentação, pois sua presença é importante para a manutenção do vínculo afetivo no trinômio mãe + pai + filho.
Na pergunta número quatro, 60% das mães disseram que quando a casa não ficava tão arrumada porque as necessidades do recém-nascido eram mais importantes, os pais eram pacientes e compreensivos. Vale ressaltar que as duas mães que amamentaram até os 6 meses exclusivamente responderam:
Ele arrumaria a casa para mim (entrevistas n° 1 e 6)
É preciso lembrar que uma das mães que respondeu que o pai de seu filho não aceitaria disse:
Ele nunca aceitaria isso, iria reclamar o dia todo na minha cabeça. (entrevista n°3)
O pai do bebe deve estar orientado que nesta fase as necessidades do recém nascido são prioridades, e que neste momento é pouco provável que a mulher arrume a casa de forma impecável.
Na quinta pergunta 90% das mulheres disseram, como forma de justificar a não participação dos pais nos cuidados com os filhos, frases como essa:
Os homens têm medo e são sem jeitos para cuidar das crianças (entrevistas n°1,2,3,4,5,7,8,9 e 10)
A única mãe que respondeu que o pai era participativo nas tarefas do bebê amamentou até os seis meses. Desta forma percebemos aqui que ainda hoje as instituições que realizam pré-natal e cursos para gestantes não se voltaram para a participação do pai nos cuidados com o bebê
Na sexta pergunta 60% das mães responderam que o pai se mantinha calmo quando no período da amamentação ela estava impaciente.O aleitamento materno embora traga muitas alegrias o mesmo traz também muitas dificuldades e cansaços, fazendo com que a mulher fique impaciente. É sabido que o estresse psicológico pode estar associado com eventos emocionais perturbadores e também pode resultar em complicações obstétricas durante a gravidez e pós-parto, dificultando a descida do leite.(Costa, 2003). Assim sendo é preciso que o pai mantenha-se sereno, mostrando carinho e compreensão neste momento.
Na sétima pergunta 50% das mães disseram que os pais ocupavam–se com os outros filhos, tal atividade é importante na medida em que evita-se que filhos mais velhos se sintam rejeitados com a chegada do novo irmão, permitindo a mulher dedicar-se mais ao recém-nascido.
Na oitava pergunta 90%das mulheres responderam que os pais de seu filhos não acariciavam seus seios durante a amamentação. Desta forma se faz necessário que o profissional incentive o pai a acariciar os seios de sua mulher pois estudos demonstram que quanto mais uma mulher é sensível às carícias de seu companheiro mais reagirá a estimulação de seu bebê. É importante ressaltar que a única mãe que respondeu que o pai de seu filho acariciava sua mama amamentou ate os seis meses exclusivamente.
Na nona pergunta 60% das mães entrevistadas responderam que seus companheiros souberam respeitar a diminuição da vontade de ter relações sexuais. Assim sendo as quatro mães que responderam que os pais de seus filhos não souberam respeitar a diminuição que as mesmas tiveram de ter relações sexuais informaram que não tinham nenhuma vontade de praticar sexo mais que não tinha outro jeito e elas tinham que fazer. Assim sendo é preciso que durante as consultas do pré-natal o enfermeiro explique ao homem, quanto às variações do apetite sexual de sua mulher após o parto.
Na décima pergunta 70% das mulheres responderam que os pais de seus filhos levavam para casa latas de leite, mamadeira e chupetas. É importante ressaltar que as únicas mães que responderam que os pais não levavam para casa tais objetos, foram as que amamentaram 6 meses ou mais. Assim percebemos que quando o pai está orientado quanto às condutas que ele deve tomar enquanto pai, este é incentivador e facilitador da prática do aleitamento materno. Desta forma os pais devem estar orientados à não levarem para casa latas de leite, mamadeiras e chupetas e que o sucesso deste período depende, em grande parte, de sua atitude. O pai deve estar consciente que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, seu carinho e apoio é tudo que seu bebê necessita para crescer inteligente e saudável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A amamentação natural é muito importante, principalmente nos seis primeiros meses de vida, considerando os aspectos nutricionais, imunológicos, de desenvolvimento e emocional, satisfazendo desta forma as necessidades do bebê.
Entretanto com a civilização e o avanço tecnológico, perdeu-se o hábito de amamentar ou diminui-se o tempo, tornando inadequada essa função em condições naturais.
Infelizmente, percebemos que 60% das mulheres entrevistadas deixaram de amamentar com três meses ou menos e que 10% não amamentou. Um número bastante significativo uma vez que o Ministério da Saúde recomenda aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida.
A realização deste estudo nos fez verificar a real importância do pai no aleitamento materno e perceber que quando o mesmo se faz participativo durante tal período a mulher se torna mais motivada se sentindo apoiada e amada conseguindo desta forma amamentar durante os primeiros seis meses de vida. Os resultados nos mostram que as mães que amamentaram até os seis meses, foram as que durante a entrevista mais confirmaram a participação do pai durante o período exclusivo do aleitamento materno, o que faz com que possamos concluir que quando o pai se faz participativo durante o período de amamentação, este é o maior e o principal incentivador de uma mulher, contribuindo para o êxito da mesma.
Desta forma para que os pais se sintam mais motivados a participar ativamente do período de amamentação, se faz necessário que as instituições e profissionais de saúde valorizem e incentivem a participação do pai desde o período do pré-natal, para que assim o mesmo apoie, incentive e colabore no período de amamentação contribuindo assim com o êxito do mesmo.
REFERÊNCIAS
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