PATERNIDADE é o tema dessa entrevista do
Mauro Ventura
com o meu amigo Psicólogo da ONG PROMUNDO
Uma síntese das questões que temos estudado e divulgado aqui no nosso site:
CUIDADO do HOMEM – LICENÇA PATERNIDADE – CULTURA para PATERNAGEM…
Marcus Renato de Carvalho
Dois cafés e a conta com Marco Aurélio Martins
Psicólogo carioca coordena relatório mundial sobre importância do envolvimento do pai no cuidado dos filhos
O psicólogo carioca Marco Aurélio Martins, de 38 anos, embarca hoje para Portugal. Sua agenda anda atribulada. Ele é coordenador executivo do Instituto Promundo, ONG brasileira que está à frente de um relatório que será apresentado ano que vem em Washington. A ideia é produzir informações sobre a paternidade no mundo e mostrar a importância do envolvimento do homem no cuidado — dos filhos, da mulher, dos outros homens e dele próprio. Um dos temas do Status dos Pais no Mundo será a ampliação da licença-paternidade. Um obstáculo é o custo financeiro para as empresas, mas ele diz que o governo poderia dar uma contrapartida, como redução de imposto, já que há varias vantagens, como a prevenção da violência. Há muito a ser feito: segundo o Banco Mundial, metade da mão de obra é feminina, mas os homens não participam nem de 20% das tarefas em casa. Entre as medidas para corrigir a distorção, ele sugere: “As escolas poderiam ter no currículo o tema da educação igualitária entre homens e mulheres. Muitos meninos não querem ser violentos, mas agem com violência para que não digam que são maricas.” A ONG tem a campanha Você é meu Pai, sobre os benefícios da paternidade.
REVISTA O GLOBO: Quais as vantagens do envolvimento maior do homem no cuidado dos filhos e no trabalho doméstico?
MARCO AURÉLIO MARTINS: Estudos mostram que é bom para a saúde física e mental das crianças. E elas tendem a ter melhor desempenho escolar. Já as mulheres podem estudar mais, aumentam sua participação no mercado de trabalho, melhoram o salário. E a qualidade de vida dos homens melhora. Tendem a correr menos riscos, a diminuir o álcool e o fumo, a dirigir com mais cuidado. Homens criados em famílias onde o pai dividia as tarefas também são mais propensos a ser igualitários. E nessas famílias há muito menos violência.
Qual seria o modelo ideal de licença-paternidade para você?
Os cinco dias corridos do Brasil são muito pouco para que se estabeleça um vínculo afetivo, e dão uma mensagem de que o homem não é importante nesse cuidado inicial. O ideal seria o modelo dos países nórdicos, onde o que há é licença parental (de 49 semanas), que pode ser dividida entre mãe e pai. Mas é difícil chegar a isso sem passarmos por um aumento menor. Existem projetos de lei no Congresso ampliando para 15 ou 30 dias. Seria um bom começo.
Isso seria suficiente?
O aumento por si só não resolve. As pessoas têm que aderir. É preciso junto ter um trabalho muito forte de mudança de cultura. O cuidado se aprende. Desde cedo a menina é apresentada a ele, pelas brincadeiras relacionadas à maternidade, ao ambiente doméstico. Por outro lado, o menino é criado afastado dos afazeres da casa. Alguns homens gostariam de ajudar mais, mas se bloqueiam, porque suas famílias e seus amigos acham que cuidado é tarefa feminina. Suas próprias mulheres dizem se sentir estressadas com a presença masculina, não querem dividir o espaço da maternidade. Num projeto nosso, uma mulher contou que pediu para o marido levar para a maternidade uma sacola com produtos de higiene íntima, camisola, coisas para o bebê. Ele não levou nada do que ela pediu. Ela disse: “Ele só atrapalha.” Só que ela não havia conversado com ele sobre por que aqueles produtos eram importantes. Numa palestra que fiz no Maranhão sobre participação paterna, um rapaz levantou a mão e disse: “Onde eu moro isso não funciona. Como minha mulher ganhava mais, decidimos que eu ia ficar em casa cuidando do filho. O problema é que somos conhecidos na cidade como o homem que é encostado e a mulher que é mãe desnaturada.” Sofriam preconceito porque tentavam ser mais equitativos nos papéis sociais.
Dê exemplos de iniciativas do Promundo para mudar o cenário.
O programa P, para estimular os pais a participar desde o pré-natal e o parto. Começa no segundo semestre nas unidades de saúde da prefeitura. Fizemos um projeto piloto na Vila Joaniza, na Ilha do Governador. Criamos um manual, eles discutiam temas como modelos de paternidade, expectativas, divisão de cuidados. O guia é também para profissionais de saúde. Eles ainda não estão sensibilizados para receber o homem no pré-natal, não deixá-lo na sala de espera, mostrar que seu papel é maior que o de simples provedor.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/dois-cafes-a-conta-com-marco-aurelio-martins-13047920#ixzz36A7WyeQ6
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