Alma Feminina
Para horror dos machistas, Emanuel Tadeu Borges, de 46 anos, não tem medo de dizer que acaba de conquistar algo significativo em sua existência: aprendeu a ninar o filho de seis meses. Escapando de preconceitos e convenções, sentiu um pouco o gosto da maternidade. Isso, sem deixar de ser pai, companheiro e psicoterapeuta da linha junguiana.Tadeu, como é conhecido, fala sobre os relacionamentos do século 21 e vê que muita coisa tem que mudar. E o primeiro item da lista é fazer com que os homens incorporem o lado feminino, aprendendo as lições nas letras dos compositores Chico Buarque, Gilberto Gil e John Lennon, três homens sensíveis, que captaram a alma da mulher.
Como anda a cabeça do homem atualmente?
O homem está em um momento muito complicado, em que vive o processo de repressão da força feminina. Existe uma dificuldade em aceitar essas características, o lado mais sensível e delicado. Já a mulher introjetou o olhar machista, porque esse é o nosso modelo cultural. Vivemos em uma sociedade masculina, em que a mulher se tornou agressiva e, assim, acabou reprimindo o seu lado feminino.
E como estão os relacionamentos?
Há muitos desencontros nos casais. É difícil generalizar, mas o homem reclama que a mulher está mais agressiva, fazendo muitas exigências. Ela, por sua vez, diz que não está sendo compreendida. Existe uma impossibilidade de aproximação, uma distância muito grande. Acho melhor quando aparece o conflito, quando se tenta reconquistar alguém. Mas, o que tenho visto, mais em relação aos homens, é que eles estão com dificuldade para escutar. Ninguém busca mais o diálogo. Atualmente, a fórmula em vigor nos relacionamentos é o ficar, algo muito diferente de investir na relação, uma expressão antiquada, mas significativa. As pessoas estão sem paciência para as outras e ter paciência é uma questão ying, feminina.
Então, na primeira dificuldade, o casal rompe e acaba tudo?
Sim, o relacionamento deixa de ser amoroso e fraterno e se reduz ao sexual. Quando o tesão acaba, vem aquele vazio e a relação termina. O desafio, principalmente para o homem, é aprender a cuidar do outro. Existe um livro de Leonardo Boff chamado Saber Cuidar, em que ele fala sobre esse resgate em nossas vidas. A mulher também precisa aprender a cuidar do outro. Quando é mãe, a mulher tem essa oportunidade. Carregar uma vida, parir, amamentar, ter o peso da responsabilidade de criar um filho é uma grande chance, mas o valor da maternidade foi deixado de lado. Nossa sociedade nega a maternidade em seu aspecto coletivo. Mas a mulher não quer só cuidar do filho, ela também quer trabalhar e se realizar. E o homem, por sua vez, deve aprender a cuidar do filho.
Eles estão conseguindo?
Uso o meu exemplo. Tenho dois filhos, um de 5 anos e um de seis meses. Eu me esforcei e consegui uma grande alegria ao ninar o meu filho. Isso aconteceu às duras penas. E esse tipo de conquista é sempre prazerosa. Estou ninando tão bem quanto a minha mulher. Isso vai contra o jeito oficial de ser homem, mas é possível incluir isso na vida. Tenho o gostinho de ser mãe, apesar de ser homem e pai. Acho muito interessante estudar a história dos costumes e as velhas tradições. Durante muito tempo, existiram dois tipos de mulher: a esposa, aquela com a qual o homem se casava e tinha filhos, e a cortesã, com quem sentia prazer. O homem ainda carrega essa questão. No nosso tempo, tentamos juntar as duas em uma só, mas é muito difícil ser duas pessoas. A mulher tem que cuidar da casa, trabalhar e depois ser sensual, à noite, cansadíssima, e sem poder reclamar.
E o homem, não precisa ser sensual?
A mulher está mais apta para seduzir, ela sabe mais do que o homem. Quanto a isso, ele é muito sem graça. Quando o homem canta bem uma mulher, ele lança mão do feminino. O homem é prático. Desde a época das cavernas, ele saía para caçar. A mulher ficava cozinhando e matutando… Ela é muito mais ardilosa, mais esperta.
Em uma sociedade como a nossa, é possível educar os filhos para que eles cooperem mais com a mulher, com a casa?
Tive um amigo na adolescência que sempre ajudou nas tarefas de casa e nunca deixou de ser homem por causa disso. Pelo contrário, tornou-se um homem bem-resolvido. Assisti a uma entrevista na TV em que a mãe dizia que seu filho queria brincar de boneca, e ela acolheu os desejos do menino. Isso não quer dizer que ele vai perder o seu link com o lado masculino, pelo contrário, ele pode se tornar um homem mais afetivo e mais amoroso, aceitando o lado da mulher. Mas tudo é muito relativo. A mãe não deve tomar um susto quando o filho quer brincar de boneca, não deve jogar com o preconceito social.
E o que fazer com as convenções?
Acho chatíssimas as convenções. Nunca fui uma pessoa convencional, por isso escolhi Jung e não Freud, muito certinho para a nossa época. É claro que cada um tem uma visão de mundo. Aqui, no consultório, acolho as coisas mais interessantes, as pessoas são muito diferentes, singulares. E elas querem libertar essa singularidade que, muitas vezes, está presa a padrões coletivos. Desde o movimento iluminista, houve uma grande racionalização e com a busca do intelecto, esqueceu-se do lado do sentimento.