Pais separados e guarda dos filhos
“O mito de que a família tradicional e intacta ainda é a única possibilidade
de ser feliz e criar filhos saudáveis é o que faz com que muitos casais permaneçam em relações infelizes.”
Mônica Lobo in “Além do Paraíso – perdas e transformações na família”.
Domingo passado você viu no Fantástico uma reportagem sobre a luta de homens separados contra o controle excessivo das ex-mulheres sobre os filhos.
O assunto foi um dos mais comentados da semana. Entre as dezenas de e-mails recebidos, críticas ao abuso de poder das mães e à ausência de alguns pais depois da separação.
“Eu não sou uma boleta, que ele paga todo final de mês e está bom, resolveu… Quem teve um pai e depois perdeu sabe o que é isso”, comenta o estudante Alexandre Batista Fortes.
Alexandre tinha quatro anos quando o casamento dos pais acabou. O pai sempre pagou a pensão em dia, mas, para o filho, isso não foi suficiente.
“Eu entrei na Justiça contra o meu pai depois de muito tempo sem contato com ele e eu entrei procurando chamar a atenção dele para uma deficiência que eu tinha, que era a ausência dele, a carência de amor e carinho que todo filho tem em relação ao pai”, diz.
Em 2000, quando completou 18 anos, Alexandre entrou com uma ação contra o pai por abandono. Numa decisão inédita no Brasil, o estudante teve ganho de causa, em segunda instância. O pai está recorrendo da decisão.
“A pessoa tem que ser forte pra agüentar todo esse processo, tudo o que passa… Tem pessoas que são a favor, outros contra, falam que a gente está entrando só por causa do dinheiro. Graças a Deus, problema financeiro eu não tenho”, conta Alexandre.
“Eu acho que um filho de pai e mãe vivos tem o direito de ter o pai e a mãe do lado dele”, opina a economista Fátima Lopes.
Um ano depois de se separar, em 2002, Fátima também foi à justiça para reivindicar que o ex-marido participasse mais da vida do filho Pedro, que hoje tem 13 anos.
“A gente pode fazer uma guarda compartilhada no intuito de tomarmos todas as decisões juntos, termos todos os direitos iguais sobre o Pedro e também os deveres. Ou seja, cobrirmos juntos as despesas e necessidades do Pedro”, diz Fátima.
A disputa pela guarda dos filhos pode virar uma interminável batalha na Justiça. Como é o caso do engenheiro Eduardo Calardo Lira, que você viu domingo passado, no Fantástico.
Em 2002, a ex-mulher dele entrou na Justiça para estipular dias e horários para visitação da filha. Eduardo contestou, pedindo mais tempo de convívio com a menina. Até hoje aguarda a decisão final.
Já o jornalista Rodrigo Dias brigou tanto pelo filho depois da separação que chegou a conquistar a guarda de Lucas. Mas decidiu, pelo bem-estar do menino, propor à ex-mulher a guarda compartilhada.
“Guarda compartilhada é antes de tudo continuar pai e continuar mãe. E principalmente a mãe continuar mulher, tendo tempo pra ela, dividindo as obrigações de criar o filho com o companheiro, com o ex-companheiro”, argumenta Rodrigo.
Será que a lei pode ajudar a transformar o amor de um pai por seu filho?
“Eu já me desencantei um pouco sobre a convivência que eu vou conseguir dele com o Pedro, do meu ex-marido com o filho”, declara Fátima.
“Se vai melhorar, se vai piorar, aí só o tempo que vai poder falar”, diz Alexandre.
“Não existe juiz que obrigue um pai a ser presente na vida do filho, não existe”, garante Fátima.