O sabor do leite materno varia com a dieta materna
Alguns alimentos podem modificar o sabor e o aroma (“Flavor”) do leite materno, apesar dessas mudanças serem pequenas e variar de uma nutriz para outra.
Não vai dar para ler, ouça com o VOOZER!
Por Aitor S. García para consumer.es. Indicação: babyfood-ufrj@
Tradução: Marcus Renato de Carvalho para o aleitamento.com
Entre os numerosos mitos que existem ao redor da Amamentação, vários são relacionados ao sabor do leite.
Há alimentos que fazem com o que o leite tenha um gosto diferente e o bebê possa estranhar?
Ou, ao contrário se a nutriz aumenta o consumo de determinados alimentos, estará seu leite mais gostoso e o lactente mamará mais?
Se a lactante (ou nutriz) comer uma grande variedade de alimentos, seu filho aceitará melhor os novos sabores quando começar a receber outros alimentos?
Nesse artigo abordamos os alimentos que modificam o sabor do leite materno e como influi essa experiência na alimentação complementar a partir dos 6 meses de vida.
Compostos que modificam o sabor do leite humano
O leite materno não é um fluido sempre idêntico ou homogêneo. A composição do leite de mãe varia constantemente, adaptando-se as necessidades do bebê. Porém, seu sabor é sempre o mesmo? Não, o sabor do leite humano tem flutuações atribuíveis a essas mudanças de composição (com mais ou menos lipídios – gorduras, em maior ou menor quantidade) e também a compostos responsáveis pelo sabor presentes na dieta materna, como os terpenos (ou terpenóides que são uma diversificada classe de substâncias naturais, ou metabólitos secundários de origem vegetal) contidos em muitas frutas e hortaliças ou temperos (condimentos). Também a quantidade de lactose está muito veiculada ao sabor mais ou menos doce do leite.
Portanto, os compostos voláteis que aportam sabor e aroma aos alimentos podem passar para o leite materno, porem de maneira seletiva e em quantidades muito baixas e, além disso, uma importante variação de uma mulher para outra.
Há trabalhos científicos curiosos, como um estudo antigo de 1993, que concluía que quando as nutrizes ingeriam capsulas de alho, os bebês mamavam mais. Porém, de novo, há que recordar as variações entre as mulheres, como indica uma investigação recente que analisa a presença de metabolitos de alho no leite materno, antes de fazer desse achado uma prescrição do tipo “coma alho para que o seu bebê mame mais”. A recomendação, portanto, é prudência.
Aparentemente, crucíferos (repolho, brócolis, couve-flor, etc.), cebola, chocolate e espargos ingeridos pela lactante podem resultar em sabores diferentes ao leite materno, porém não se tem certeza de que esse fato influa na aceitação pelo lactente. A mudança, sim pode afetar a alguns bebês com a aparição de cólicas.
Como influi a amamentação na introdução dos novos alimentos?
O leite materno contem partículas que produzem efeitos químico-sensoriais nos bebês e que se relacionam com a aceitação posterior de novos alimentos. O interessante é que isto não só acontece com os sabores habituais na dieta da mãe, que poderia fazer pensar que o lactente os aceita melhor quando começa a alimentação complementar, porque já havia sido exposto a esses sabores e, portanto, não lhe resulte estranhos. Os bebês amamentados aceitam melhor inclusive sabores de alimentos que a mãe não consumia. Os bebês alimentados por fórmulas infantis, pelo contrário, não experimentam essas variações de sabor, textura e composição durante o período de amamentação exclusiva, seu alimento é sempre igual e não tem em consequência, essa vantagem adaptativa.
Assim, ainda que a dieta da mãe varia o sabor do leite (já que há compostos responsáveis do sabor e aroma – “flavor”, que chegam a ela), não é possível estabelecer um padrão claro dieta-sabor. Além das variações individuais de cada mulher, isso depende de mais fatores, como a quantidade de alimento consumido, o resto da dieta, a composição nutricional do leite no momento, etc. Por essa razão, não há motivo para dar conselhos dietéticos as nutrizes em função que sua ingesta afetará o sabor do leite e a sua aceitação pelo seu bebê.
Isso sim, sempre é uma boa ideia promover que as lactantes tenham uma dieta saudável, não porque influa no sabor e composição do leite materno, senão pelo exemplo que os hábitos da mãe e do pai podem transmitir as crianças e suas repercussões na saúde futura. E logicamente, é importante recordar mais uma vez que a AMAMENTAÇÃO é sempre a melhor opção e deveria ser continuada até 2 anos ou mais e exclusiva nos primeiros 6 meses de vida.
Não deu para ler, ouça com o Vooozer.
Karina Rodrigues de Moura – obrigado por sua voz nesse texto.