Summary
O leite humano é uma matriz alimentar complexa, com numerosos componentes que influenciam a composição da microbiota infantil desde os primeiros meses de vida. As evidências sugerem que a colonização intestinal bacteriana o mais cedo possível tem consequências a longo prazo na homeostase digestiva e imunológica do hospedeiro. Esse tema foi amplamente discutido no XXIV Congresso Latino-americano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica que aconteceu no Rio de Janeiro, em outubro de 2023.
Saiba mais sobre a importância do aleitamento materno para a composição da microbiota* e o que foi discutido sobre o tema no Congresso Latino-americano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica 2023.
O leite humano é uma matriz alimentar complexa, com numerosos componentes que influenciam a composição da microbiota infantil desde os primeiros meses de vida. As evidências sugerem que a colonização intestinal bacteriana precoce tem consequências a longo prazo na homeostase digestiva e imunológica do hospedeiro. Esse tema foi amplamente discutido no XXIV Congresso Latino-americano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN) que aconteceu no Rio de Janeiro, entre os dias 25 e 28 de outubro de 2023.
*Microbiota intestinal, a “flora intestinal”, como comumente a microbiota era chamada, pode ser mais familiar. A mudança da nomenclatura se deve ao fato do termo flora significar pequenas plantas e por isso não está de acordo com a classificação de bactérias, fungos, vírus e protozoários. Então, tem se recomendado o uso do termo microbiota intestinal para designar o conjunto de microrganismos que povoam o trato gastrointestinal humano.
Diversas plenárias abordaram a importância do aleitamento materno para a composição da microbiota, destacando-se a sessão apresentada pelo Dr. Ener Cagri Dinleyici, infectologista pediátrico e membro da Associação Mundial de Probióticos, Prebióticos, Posbióticos em Pediatria.
Embora o leite materno já tenha sido considerado estéril em décadas passadas, o palestrante reforçou que ele contém uma composição complexa de bactérias que ajudam a estabelecer a microbiota intestinal infantil saudável.
Os estudos evidenciam que o leite materno possui um microbioma único, incluindo bactérias benéficas, comensais e potencialmente probióticas. Entre os gêneros isolados no leite materno, algumas espécies pertencentes a Bifidobacterium e Lactobacillus foram isoladas, com destaque para Bifidobacterium breve, Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium adolescentis, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus fermentum, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnosus e Lactobacillus salivarius.
O Dr. Ener apresentou dados do estudo TEDDY (The Environmental Determinants of Diabetes in the Young), no qual foi realizada uma análise longitudinal de amostra fecal de cerca de 903 crianças dos 3 aos 46 meses de vida. Esse estudo mostrou que a microbiota intestinal das crianças passa por fases:
- uma fase de desenvolvimento inicial (entre 3-14 meses),
- fase de transição (entre 15-30 meses) e uma
- fase estável (entre 31-46 meses de vida).
Independente da fase de desenvolvimento da microbiota, o fator mais significativo associado à estruturação do microbioma foi o aleitamento materno, exclusivo ou parcial. A amamentação foi associada a níveis mais elevados de espécies de Bifidobacterium. A via de parto também foi significativamente associada ao microbioma durante a fase de desenvolvimento, impulsionado por níveis mais elevados de espécies de Bacteroides em bebês nascidos por via vaginal.
O pesquisador destacou a influência da alimentação materna, estado de saúde materno, idade gestacional ao nascimento, sexo da criança, localização geográfica e tipo de parto (parto vaginal versus cesariana), tipo de alimentação infantil (amamentação exclusiva, fórmula infantil, alimentação mista), tempo desde o nascimento até o contato pele a pele e uso perinatal de antibióticos como fatores importantes para o processo de aquisição e estabelecimento da microbiota infantil.
Mensagem final
- Variações no microbioma do leite podem ser atribuídas a fatores, como dieta materna, saúde materna, tipo de parto, diferenças demográficas ou ambientais;
- Nos últimos anos é crescente a compreensão sobre a composição do microbioma do leite materno;
- O colostro tem sido estudado e visto como influenciador da composição da microbiota nos primeiros meses de vida;
- O aleitamento materno é o fator mais significativo associado à estruturação do microbioma infantil.
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Profa. Carla Taddei afirma nessa entrevista que a AMAMENTAÇÃO modula a MICROBIOTA, e, portanto, se sobrepõe ao parto normal na transmissão materno infantil de “bactérias do bem”. E em outra pesquisa mostrou que os prematuros de UTI Neonatal que tomavam leite materno tinham menos tempo de internação, independentemente se receberam leite da própria mãe ou leite humano pasteurizado do Banco de Leite da maternidade. Está comprovado cientificamente que a Amamentação dá resiliência para a microbiota e, mesmo que a criança precise de antibiótico ou que tenha alguma outra enfermidade, o Aleitamento humano vai garantir a estrutura daquela comunidade microbiana (que antigamente chamávamos de flora intestinal).
Dra. Carla Taddei é Professora Associada do Laboratório de Microbiologia Molecular do HU da USP.
Fonte: pebmed.com.br