Em agosto de 1996 ganhei este livro da
minha filha Clara, e foi emocionante lê-lo
várias vezes à noite juntos, antes de dormirmos…
Hoje Clara já tem 12,5 anos, e passei a ler junto
com a Sophie (com 3,5 anos), e continua sendo
emocionante quando ela me pede para ler novamente…
E nos despedimos com um “até a lua – ida e volta !”
ADIVINHA QUANTO EU TE AMO
PARECER 1
O texto celebra o amor entre pai e filho aqui representados não por humanos, mas por dois coelhos, únicos personagens da história.
O fio condutor do enredo é a tentativa dos animais de mensurar o tamanho do amor que um sente pelo outro. É o filho quem inicia o diálogo na hora de dormir, no momento em que o pai vai acomodá-lo na cama.
As tentativas do filho de demonstrar o tamanho do amor, (usando o próprio corpo), esticando os braços, espichando o corpo e ficando na ponta dos pés, dando pulos cada vez mais altos, são sempre superadas pelas medidas do pai, maior e mais alto do que ele.
Quando se dá conta que o próprio corpo é muito pequeno para mensurar seu amor pelo pai, o filho procura no ambiente em que vivem outros elementos maiores do que ele. Assim compara o tamanho do seu amor com a estrada e com o rio até que descobre que nada é tão imenso quanto a distância entre a terra e a lua que brilha no céu e se dá por satisfeito. A história termina quando o pai acomoda o filho na cama de folhas e sussurra dizendo que também o ama até a lua, mas a distância de ida e de volta, ou seja, por mais que amor do filho seja grande, o do pai será sempre maior.
O autor consegue dar uma nova roupagem a um tema bastante desgastado e quase sempre conflitante: as relações entre pai e filhos. Histórias de pais que abandonaram filhos na floresta ou os confiaram aos cuidados de madrastas ciumentas foram muito exploradas na literatura, principalmente voltada para a criança desde os contos de fada. O autor, no entanto, consegue revigorar o tema ao abordar o amor na relação pai e filho, sem a presença da figura materna, que não só biologicamente, mas também por tradição mantém maior vínculo com os filhos em todas as culturas. O texto vem apoiado numa linguagem acessível à compreensão do leitor sem abrir mão da qualidade literária que se mantém na tradução do inglês para o português.
A ilustração em tons pastéis ocupando página inteira sobre a qual se insere o texto visualiza através de imagens o enredo, o que facilita a compreensão do leitor iniciante ao qual o texto supostamente se destina.
O formato quadrado do livro com páginas bem costuradas e arrematadas por capa dura dão ao leitor iniciante e ainda descuidado mais segurança no manuseio do objeto livro.
O tratamento do tema por um autor estrangeiro, abordando valores como o amor na relação pai e filho, por vezes esquecidos pela sociedade globalizada de consumo, mas fundamentais para a formação psicológica e emocional da criança, aliado às ilustrações e ao projeto gráfico justificam a escolha.
(Rosa Cuba Riche)
PARECER 2
Enquanto caminhavam para a cama, um Coelhinho e seu Coelho Pai iniciam uma travessia afetiva que reúne uma série de provas de amor. O enigma proposto pelo Coelhinho ao Coelho Pai é o seguinte: “Adivinha quanto eu te amo.” Bem ao gosto do ser poético da infância, a questão é formulada como uma adivinhação onde a palavra manifesta-se de forma mágica, lúdica. O Coelhinho, que elabora a questão, é portador de um saber de natureza íntima, profunda. O Coelho Pai, no papel de adivinhador, deve esforçar-se para ampliar esse saber na condição de sábio, mais velho e mais experiente.
A questão proposta pelo filhote deixa o Coelho Pai constrangido sem uma saída imediata. O esperto Coelhinho, na tentativa de iniciar o Pai nessa experiência tão pessoal e necessária, apressa-se, “esticando os braços o mais que podia”, e revela, nesse gesto, o tamanho do seu amor. Num passe de mágica, o Coelho Pai penetra no caminho dessa aprendizagem e estende os seus “braços mais compridos”, ainda, afirmando que o seu amor pelo filho tem a extensão deste movimento do seu corpo. O Coelhinho, percebendo a amplitude desse amor, logo quer dilatar mais ainda a grandeza do sentimento e declara ao pai que o ama “toda a sua altura” de filhote bem esticado. O Coelho Pai, reduplicando o gesto do filho, estende-se ao máximo como prova desse amor. E, nesse bailado de afetos, as provas se sucedem e o Coelho filho vai compreendendo que o tamanho, o salto e a experiência do Coelho pai são sempre maiores e, portanto, conferem ao amor do pai uma dimensão mais extensa. Possuidor deste segredo, o Coelhinho adormece e o Coelho Pai abriga a sabedoria deste afeto.
Qual é o tamanho do amor? É possível medir a extensão dos nossos sentimentos? Eis as questões cifradas nesta filosófica fábula que reúne uma sábia aprendizagem: a necessidade da experiência afetiva, através de sucessivas provas, permite a cada ser elaborar a construção do seu amor.
O livro Adivinha quanto eu te amo, de Sam MacBratney, foi publicado originalmente em inglês e teve a sua primeira edição em 1994. As ilustrações de Anita Jeram resultam numa narrativa visual, com a leveza dos traços, a movimentação das cenas, que evolui paralelamente à do texto escrito. O lirismo do tema abordado é acentuado pela arte das ilustrações, inspiradoras de um deleite estético. O projeto gráfico também integra-se, perfeitamente, a qualidade do texto.
As fábulas estão relacionadas aos tempos inaugurais da Humanidade e sempre atraíram gerações e gerações de leitores. Adivinha quanto eu te amo é uma fábula moderna que traduz conhecimentos essenciais da natureza humana na atemporalidade sua força mítica. Sem dúvida, as crianças- leitoras brasileiras precisam ler e penetrar na universalidade desse fabuloso imaginário.
(Fátima Miguez)
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Adivinha quanto eu te amo.
Sam MacBratney. Il. Anita Jeram. Trad. Fernando Nunes. São Paulo:Martins Fontes,1996. 36p. Capa dura. (23 x 26 x 1cm – 350 gr)
Láurea “Altamente Recomendável – Tradução para a Criança” – 1996 – FNLIJ
Fundação do Livro Infantil e Juvenil
http://www.fnlij.org.br/
Do site PAI LEGAL