PEITO SOLIDÁRIO
A história emocionante das doadoras de leite
Outras amostras vão para pequenos tubos em uma centrífuga, para análise da gordura Os leites são classificados e guardados em outro freezer, no qual duram até seis meses
Toda vez que o leite é manuseado, é preciso acender uma chama para que o ar ao redor seja esterilizado
Estoques baixos
Embora quase todas as mulheres tenham condições de amamentar, a doação é muito necessária. Como todo banco, temos um cliente preferencial, que é o prematuro, diz a coordenadora dos bancos de leite do estado de São Paulo, Maria José Guardia Mattar. Ela explica que as mães desses bebês demoram mais para produzir leite, por dificuldades orgânicas ou emocionais. Além disso, a maioria dos prematuros não tem força para sugar o peito, retardando a descida do leite. Mas, se está em condições, o bebê é colocado no seio materno. Só depois, a mamada é complementada com leite do banco, por sonda, copinho ou mamadeira, diz.
A demanda vem crescendo em função dos avanços da medicina, que garantem a sobrevivência de bebês nascidos cada vez mais precocemente. Mas, como a doação é voluntária, ela depende exclusivamente da conscientização da população, diz Sonia Salviano, do Ministério da Saúde. Ultimamente, com a participação também de organizações não-governamentais, tem crescido a demanda pelo leite humano e o número de doadoras.
A comida chegou
Giovana, emocionada, com Robson nos braços Giovana e Verônica, mãe do bebê que recebeu o leite, seguram Marcos Vinícius, de 6 meses, que segundo a mãe já está aprendendo a dividir desde pequenino
Robson, na UTI semi-intensiva, bebe o leite doado por Giovana
Olhos nos olhos
Normalmente, as mães dos prematuros nunca chegam a conhecer as doadoras. As voluntárias, por sua vez, também não sabem para quem vai o leite extra que oferecem. Os bancos, porém, costumam convidar as doadoras para visitar o berçário. Quando a voluntária percebe a fragilidade dos prematuros e a importância do leite humano para eles, fica mais motivada, conta Joana. Depois de quatro meses como doadora, Giovana atendeu a um desses convites da Maternidade Leonor Mendes de Barros. E, lá, no berçário, conheceu Verônica, a mãe do pequeno Robson. Foi um encontro marcado pela emoção. No momento mais comovente, a doadora observou o garotinho tomando, em um copinho, o leite que ela havia retirado em casa, na semana anterior. Giovana não conteve o choro e pediu para segurá-lo nos braços. Verônica prontamente concordou. Agradecida, a jovem mãe não vê a hora de poder manter o pequeno Robson com o próprio leite. Eu gostaria de, um dia, retribuir ajudando outros prematuros, diz Verônica. Tomara, pois assim ela vai estar multiplicando também a solidária fraternidade do leite.
Para doar
A doadora precisa amamentar o próprio filho e ser saudável: não pode beber, fumar ou tomar remédios. Deve seguir à risca o ritual para a retirada do leite. Até 1985, quando foi normatizada a doação no país, as voluntárias eram recompensadas com roupas e alimentos, mas isso foi proibido e hoje não há remuneração. Na Europa e nos Estados Unidos, o leite chega a ser vendido por US$ 30 a US$ 50 o litro. O telefone 0800-268877 informa sobre os bancos de leite de todo o país. Este ano, no dia 1º de outubro, será comemorado pela primeira vez o
Dia Nacional de Doação do Leite Humano.
Reportagem de Deborah Kanarek