Violência & amamentação?!
Artigo de Desirée Mena Tudela, professora da Universitat Jaume I e membro da APILAM – Asociación para la Promoción e Investigación científica y cultural de la Lactancia Materna/Espanha.
Traduzido e adaptado por Marcus Renato de Carvalho
Os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres é uma campanha anual e internacional que começa no dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Nesses dias, gritamos mais alto: Chega de violência contra as mulheres!
E, queremos convidar a uma breve reflexão sobre a violência contra a mulher e o aleitamento materno.
A ONU define violência contra as mulheres como
“qualquer ato de violência de gênero que resulte, ou possa resultar em dano físico, sexual ou psicológico às mulheres, incluindo ameaças de tais atos, coerção ou privação liberdade arbitrária, seja na vida pública ou privada” [1].
Dentro da violência contra a mulher, classificam-se diferentes tipos de violência, entre eles, a violência obstétrica. Esse tipo de violência ainda não obteve um consenso internacional sobre como defini-la, mas existem diferentes definições desse termo. Assim, segundo Jesusa Ricoy, a violência obstétrica pode ser definida como
“qualquer prática ou atitude médica, expressa por meio de linguagem ou atos, que, durante o acompanhamento ginecológico-obstétrico de gestantes, parturientes ou lactantes, desconsidera direitos, desejos, decisões, necessidades, emoções e/ou dignidade da mulher, bem como de seus bebês”.
Nesse cenário, é necessário refletir sobre a amamentação.
Mulheres se sentem pressionadas por padrões estéticos
Em nosso ambiente cultural e social, como mulheres, fomos criadas em um contexto em que fomos levadas a acreditar que nosso corpo funciona mal ou não é bom o suficiente. Não é de estranhar que, além disso, junto com os estereótipos da moda de uma mulher magra e esguia, com seios que têm uma certa forma, uma certa posição e uma certa inserção de aréola e mamilo, as mulheres sentem profundamente condicionadas durante a amamentação.
Profissionais e serviços de saúde despreparados
A todas essas condições se soma a escassa formação dos profissionais de saúde, produto evidente da falta de pesquisa, interesse e educação sobre gênero, delineia-se uma conjunção nítida que é perfeita para a compreensão da escassa cultura da amamentação.
Toda essa situação não pode ser separada de certos fatores políticos e legislativos que ajudam a perpetuar a violência institucional que cria um mundo feito por e para homens. Nesse sentido, na Espanha, as mulheres não conseguem obter licença maternidade o tempo suficiente para atender às necessidades de seu bebê e poder oferecer aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses vida conforme a OMS e a UNICEF recomendam.
O desmame é ainda muito precoce
É difícil em um espaço de escrita tão limitado conseguir captar como a conjugação de fatores e condicionantes da amamentação se perpetuaram ao longo do tempo para atentá-la, mas, sem dúvida, a mistura dessas condições deu origem ao panorama atual. o que ainda não favorece o estabelecimento e subsequente manutenção da amamentação exclusiva, obtendo dados tão marcantes em alguns estudos como que mais de 35% das puérperas não se sentem amparadas durante o período pós-parto nas questões de aleitamento e cuidados com o bebê [2] e, no caso da escolha da amamentação, mais de 37% das mulheres não se sentiram amparadas ou não foram auxiliadas no esclarecimento de dúvidas ou dificuldades relacionadas ao aleitamento [2]. Com essa visão, não é surpreendente que ao iniciar a amamentação em cerca de 95% das mulheres no momento do pós-parto, apenas 16,8% dessas mulheres alcancem a amamentação exclusiva aos 6 meses [3].
Referências
1. World Health Organization. Violencia contra la mujer.
https://www.who.int/topics/gender_based_violence/es/#:~:text=Las Naciones
Unidas definen la producen en la vida pública. Published 2020. Accessed
November 24, 2020.
2. Mena-Tudela D, Iglesias-Casás S, González-Chordá VM, Cervera-Gasch A,
Andreu-Pejó L, Valero-Chilleron MJ. Obstetric Violence in Spain (Part I):
Women’s Perception and Interterritorial Differences. Int J Environ Res an Public
Heal. 2020;17(21):7726. doi:https://doi.org/10.3390/ijerph17217726
3. Cabedo R, Manresa JM, Cambredó MV, et al. Tipos de lactancia materna y
factores que influyen en su abandono hasta los 6 meses. Estudio LACTEM.
Matronas profesión. 2019;20(2):54-61.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7203765. Accessed December
26, 2019.
Reafirmamos aqui os princípios do aleitamento.com – dar espaço, Lugar de Fala para as mulheres. É a “amamentação com enfoque de gênero”.