UFMG: fígado do lactente pode ter problemas com interrupção da amamentação exclusiva
Daniele Franco hojeemdia.com.br
Imagem: UFMG/Amy Bundy
Antes de desmamar da mãe, fígado de bebês desenvolve o sistema imunológico
Pesquisa desenvolvida no Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, revelou ainda mais sobre a importância do aleitamento para o desenvolvimento dos indivíduos. De acordo com o artigo, o fígado pode ter uma formação diretamente prejudicada com a interrupção precoce da amamentação.
A pesquisa foi coordenada pelo professor Gustavo Menezes, que analisou camundongos para chegar à conclusão de que, nas primeiras fases de vida, o fígado desenvolve uma função exclusivamente imunológica por não ser tão necessária a função metabólica observada em indivíduos mais velhos.
Nesse sentido, a pesquisa ressalta a importância da amamentação para que o fígado desenvolva suas funções imunológicas. Num recém-nascido, quase todos os tipos de células imunológicas estão em processo de maturação no fígado e diversas funções metabólicas permanecem desligadas até que os animais sejam desmamados da mãe.
Para conferir se a pesquisa em camundongos refletiria resultados comparáveis a humanos, o laboratório fez uma parceria com o Hospital das Clínicas da UFMG e analisou lâminas de fígados de recém-nascidos, crianças e adultos que morreram por problemas não hepáticos e constatou as semelhanças. “Eram lâminas que estavam guardadas, ou seja, não fizemos um estudo invasivo em seres humanos”, afirmou o professor.
O estudo mostra os reflexos que a dieta do bebê tem em sua vida adulta.
“O ambiente de desafio imunológico que um recém-nascido encontra é variável até mesmo dentro da mesma casa. Por isso, é importante que esse sistema seja plástico, capaz de se adaptar, o que provavelmente não seria possível se logo no início da vida já fosse necessário metabolizar macromoléculas em alta escala, alimentos poucos processados, como carnes, frutas e fibras”, explicam Menezes.
“O fígado é como se fosse o berço de todas as células de defesa que vão funcionar a vida inteira. Nesse momento inicial da vida, quando o fígado está ainda amadurecendo, o leite materno é um alimento que já vem pronto da mãe para o filho. É como se mãe poupasse o fígado de precisar exercer funções de digestão porque ela já fez esse papel para ele através do leite materno. O que nós percebemos com a pesquisa é que se nós adiantarmos esse desmame drásticas mudanças acontecem no fígado”, explica Menezes.
Os camundongos que se alimentaram só de leite materno não tiveram alteração no metabolismo. Os que receberam outros alimentos no começo da vida, além de alteração no metabolismo, tiveram mais chance de reduzir a imunidade e sofreram mudanças genéticas.
Programação metabólica ou “Programming”
“Isso pode, por exemplo, ser a chave para explicar por que doenças que podem envolver alergia alimentar, câncer, fibrose hepática, doenças hepáticas gordurosas, por exemplo, podem acometer uns adultos e outros não”, completa Menezes.
A partir dos resultados dessa pesquisa, os cientistas desenvolveram um teste simples, feito com uma amostra de sangue do bebê, que pode indicar se a criança já está preparada para ingerir outros tipos de alimento. O exame pode detectar células de defesa que só estão presentes no nosso corpo durante os primeiros meses de vida.
Além das pesquisas da função hepática, o laboratório ainda realiza estudos no sentido de minimizar as consequências da falta de aleitamento materno em prematuros, por exemplo, cujas mães não tiveram oportunidade de amamentar.
Parabéns à Universidade pública!
Todo apoio a@s pesquisador@s brasileir@s.
Prof. Marcus Renato de Carvalho