Saúde mental da mãe interfere na experiência da maternidade e na relação mãe-filho
Maturidade emocional, flexibilidade de personalidade, capacidade de superação de angústias, e outros aspectos saudáveis do psiquismo da mãe favorecem o desenvolvimento de uma boa experiência de maternidade
Os processos psíquicos inconscientes das mães influenciam a maternidade e a relação mãe-filho. A constatação é da psicóloga Eliana Marcello De Felice, que em um estudo exploratório acompanhou doze mães de primeira gestação em diferentes momentos, antes e após o parto. Os resultados indicaram que a saúde mental da mãe atua sobre a experiência emocional da maternidade desde a gestação, oferecendo, segundo a pesquisadora, indicativos da evolução das vivências maternas e do futuro da relação mãe-filho.
Em sua tese de doutorado pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, Eliana pretendeu investigar, sem hipóteses pré-concebidas, a evolução dos afetos e vivências em relação à maternidade. Para isso, verificou se havia repetições ou variações de sentimentos e atitudes no desempenho do papel materno e observou a forma como elas afetam a relação mãe-filho e o desenvolvimento da criança.
Todas as mulheres que participaram do estudo eram casadas, estavam grávidas do primeiro filho, tinham nível socioeconômico médio e formação educacional de nível médio a superior. “Foram realizadas entrevistas no 7º mês de gestação da mãe e em três momentos após o parto: aos 15 dias, 18 meses e aos 3 anos, além de uma entrevista com o marido e uma observação da dupla mãe-filho numa situação do cotidiano familiar, como a alimentação ou o banho da criança”, conta Eliana.
Os resultados evidenciaram a influência do psiquismo materno inconsciente sobre a experiência da maternidade e sobre os padrões de afetos e atitudes apresentados pelas mães na relação com os filhos. De acordo com Eliana, a predominância de aspectos mais saudáveis do psiquismo da mãe, tais como a maturidade emocional, a flexibilidade de personalidade, a capacidade de aprender por meio da experiência e de superação de angústias, entre outros fatores, “favoreceu o desenvolvimento de uma experiência de maternidade mais feliz e gratificante para ela e promotora de saúde mental para o filho”.
Por outro lado, a interferência maciça de aspectos masoquistas, narcísicos e obsessivos, características patológicas do psiquismo da mãe, associou-se a uma experiência materna menos favorável e muitas vezes conflituosa, além de acarretar dificuldades e prejuízos no desenvolvimento psicológico da criança.
Aprender com a experiência
A psicóloga ainda pôde observar que, em alguns casos, a maternidade atuou para a mulher como uma experiência emocional terapêutica e corretiva. “Aprendendo com essa nova experiência, a mulher permitiu-se reformular parcialmente ou até superar antigos conflitos”, afirma ela.
Outros fatores que demonstraram ter forte associação com a experiência emocional da maternidade são a qualidade da relação conjugal e o tipo de figuras materna e paterna que essa mulher tem introjetada em seu mundo psíquico. O primeiro diz respeito ao papel que o marido representa na maternidade. Desse modo, se o pai se mostra afetivo e atencioso com a mãe, provavelmente essa terá mais tranqüilidade no seu desempenho materno. Já quanto ao segundo, dependendo do tipo de relação que a mãe tem com as figuras introjetadas materna e paterna, ela poderá ter conflitos no relacionamento com a criança..
A pesquisa evoluiu da sua dissertação de mestrado, na qual fez um acompanhamento de mulheres na gestação e no puerpério, ou seja, a fase do pós-parto, seguindo a abordagem até os 3 anos de idade da criança. Os resultados foram reunidos no livro Vivências da Maternidade e suas conseqüências para o desenvolvimento psicológico do filho, lançado recentemente pela Vetor Editora Psicopedagógica.
Saúde mental da mãe interfere na experiência da maternidade e na relação mãe-filho
Na Maternidade Escola da UFRJ participo da coordenação do curso de pós-graduação – Atenção Integral à Saúde Materno-Infantil
em uma abordagem interdisciplinar integrada, com o espírito de cuidado com o binômio, com o pai do bebê e sua família.
Prof. Marcus Renato de Carvalho