Os seios dão apoio imprescindível aos bebês na hora das refeições
Luis Fernando Veríssimo *
Para não dizerem que eu só escrevo sobre frivolidades como a situação internacional e as últimas razões da existência, hoje vou tratar de um assunto sério: o seio.
Para começar, por que existe o seio? Ele não está presente, ao menos não com a mesma, assim, proeminência, nos primatas que nos antecederam. É mesmo difícil lembrar outro animal que tenha seio. Quem disse “Vaca!” está obviamente tentando tumultuar. Retire-se da sala imediatamente.
Especula-se que quando nossos antepassados — ou, no caso, antepassadas — começaram a andar sobre dois pés na savana primeva, sacrificaram seu principal atrativo para os machos da sua espécie, que já naquele tempo (pelo menos os brasileiros) só pensavam nisso: a bunda empinada. À frente, e não mais as costas, da pré-mulher passou a concentrar todos os seus chamarizes sexuais quando ela virou bípede. Era preciso ter um equivalente da bunda na frente e por isso nasceram os seios. Eles seriam uma bunda que subiu na vida. A teoria não é minha, portanto não aceito protestos.
Outra teoria atribui o desenvolvimento de nádegas frontais ao fato das nossas antepassadas, ao deixarem a fase macaca, mas ainda muito longe de chegarem à fase Gisele Bündchen, terem perdido grande parte do cabelo do corpo. Ou seja: quando o bebê ia mamar na mãe não tinha mais — epa, opa — onde se segurar. Os seios vieram para dar aos bebês o que agarrar, ou no mínimo uma sensação de apoio e tranqüilidade, imprescindível na hora das refeições.
Pois é falsa a idéia de que o tamanho dos seios tenha algo a ver com a quantidade de leite da mãe.
O leite está presente nas lactantes independentemente do seu equipamento mamário e para o aleitamento bastam os mamilos.
Os seios existiriam, assim, por razões estéticas, sexuais e práticas (o conforto de bebês inseguros e, claro, de adultos com a mesma carência) e para dar dinheiro a cirurgiões plásticos e fabricantes de silicone. O aleitamento seria uma função secundária.
Não sei se você já se deu conta que o leite materno é o único alimento produzido pela natureza exclusivamente para a gente. Todos os outros estão na Terra para serem compartilhados com outras espécies, inclusive o leite materno de outras espécies. Há claro, alimentos feitos ou descobertos pelo homem que nenhum outro animal come, como o caviar — ou pensando bem, a lesma, que só deve ser comida por outras lesmas, e assim mesmo figurativamente.
Mas original e exclusivo, só o leite da mãe. Que, mal-agradecidos, tomamos por pouco tempo e logo abandonamos. Em outro escandaloso exemplo de desperdício de recursos naturais.
* Tenho vários ídolos, entre os brasileiros: Chico Xavier, Leonardo Boff, Ferreira Gullar, Manoel de Barros…
Um deles, é este grande escritor Luiz Fernando Veríssimo.
Dele já temos alguns outros artigos aqui no www.aleitamento.com publicados:
– Descida do leite (Seção Mãe)
– Sou ANTI-TRANSGÊNICO desde pequenininho (Seção Profissionais)
Agora no término da Semana Mundial de 2004 ele nos brinda com mais esta pérola.
Obrigado querido gaúcho !
PS:
– os trechos em negrito no artigo foram por nossa conta.
– SEIO anatomicamente falando é a região entre as mamas, contudo utilizamos como
sinônimo, inclusive a expressão: alimentado ao seio.
Marcus Renato de Carvalho
Publicado originalmente no www.aleitamento.com em 20/9/2004