Como é produzido o leite materno?
O leite materno, ou leite de peito, é produzido basicamente pela ação de vários hormônios, entre outros complexos fatores bioquímicos que ocorrem no corpo da mulher (acompanhe ilustração). “Mas não é só isso. O leite também é produzido na cabeça da mãe”, revela o pediatra Marcus Renato de Carvalho, da Clínica Interdisciplinar de Apoio à Amamentação do Rio de Janeiro. Pode parecer estranho, mas é verdade (saiba por que no quadro abaixo).
A preparação do corpo feminino para uma boa lactação começa bem antes de o bebê nascer. Ainda durante a gravidez, em função dos hormônios (estrógeno e progesterona) secretados pela placenta, os seios ficam bem maiores (cada um pode pesar até 650 gramas!) e mais sensíveis. Eles também ganham mais gordura e os vasos sangüíneos se dilatam. Tudo à espera do bebê que virá. As aréolas (círculos da pele ao redor do mamilo) tornam-se escurecidas e, ao seu redor, surgem pequenos caroços. Sua função é secretar uma substância oleosa que limpa, lubrifica e protege o mamilo de infecções durante a amamentação.
O pediatra lembra ainda que o peito da mãe não é um depósito de leite, que se esvazia a cada mamada. “Ele mais lembra uma fábrica, que trabalha por demanda. Quanto mais o bebê mama, mais leite a mãe produz. É como um fast food: leitinho fresco, feito na hora. Só que bem mais saudável”, compara Marcus Renato. Para o bebê, o leite materno dado de forma exclusiva (sem água, chás ou vitaminas) é extremamente importante em seus primeiros meses de vida. Ele tem tudo de que o recém-nascido necessita. Tem muita água (87% de sua composição), é rico em gordura, sais minerais e vitaminas, além de outras substâncias essenciais que protegem a recém-nascido contra doenças.
Como o leite de peito é produzido segundo a demanda, a mãe que “fabricar” mais leite do que seu “bezerrinho” pode mamar, ainda tem a chance de praticar uma boa ação: doar o excedente a um Banco de Leite Humano.
Fast food do bem
Hormônios e fatores emocionais se unem na produção do leitinho do bebê
1. Durante a gestação, os hormônios estrógeno e progesterona, que tomam conta da mãe quando ela engravida, preparam seu seio para a amamentação. A produção do leite, no entanto, só tem início após o parto, quando a glândula hipófise-anterior ou adeno-hipófise (localizada na base inferior do cérebro) acelera a produção de um hormônio chamado prolactina.
2. Após cair na corrente sangüínea, a prolactina chega aos alvéolos mamários, células localizadas no interior dos seios que se parecem com pequenos cachos de uva. É lá que o leite é produzido.
3. A seguir, ele flui para os chamados ductos lactíferos, uma pequena rede de canais por onde ele irá trafegar no interior da mama. Estes dutos ramificam-se em canais menores e terminam em pequenas estruturas chamadas lóbulos, localizados bem abaixo da aréola. Cada mama tem entre 15 e 20 lóbulos.
4. Dos lóbulos ele flui para a boquinha do bebê por meio de dez a 15 furinhos localizados ao redor do bico do peito da mãe. Mas só o esforço da criança não é suficiente para o leite sair dos lóbulos e extravasar pelo mamilo. Mas a natureza é sábia… Nesse momento ocorre um processo neuro-hormonal conhecido como “reflexo de ejeção” ou “de descida” do leite.
5. Esse processo tem início entre um e cinco minutos após o bebê começar a mamar. Ao sugar o peito da mãe, ele estimula as terminações nervosas do mamilo que irão percorrer o corpo da mulher até a glândula hipófise posterior ou neuro-hopófise. A tal glândula, que tem o tamanho de uma ervilha, entra em ação novamente, produzindo outro hormônio: a ocitocina.
6. Assim como a prolactina, a ocitocina também cai na corrente sanguínea e chega às mamas. Sua missão é produzir contrações em pequenos músculos mamários que arrebentam os alvéolos, onde o leite está estocado, fazendo com que ele flua para o mamilo. Enquanto isso, a prolactina continua agindo e mais leite é “fabricado” pela mãe.
7. Se esse “reflexo de ejeção” ou de “descida” não funcionar, o bebê não conseguirá ingerir a quantidade de leite suficiente. Por isso, na hora de amamentar, a mãe precisa estar calma, tranqüila e confiante. Se alguma preocupação ou mal-estar a incomodar, a “fábrica” ficará prejudicada. Alguns fatores ajudam muito, como o olhar a criança com carinho ou mesmo o som de sua voz. Por isso, quanto maior o contato e a convivência entre mãe e filho, melhor será a produção do leite e mais fácil ele irá fluir.
Consultoria: Marcus Renato de Carvalho, médico da Clínica Interdisciplinar de Apoio à Amamentação, RJ
É bom saber
* Preocupação em excesso, dores, stress, ansiedade, frustrações e fatores emocionais prejudicam a produção do leite materno?
Sim. Por que a ocitocina, hormônio que provoca a contração das células musculares no interior da mama, é produzida na glândula hipófise posterior. Ela está localizada numa área do cérebro conhecida como hipotálamo, que também regula as emoções. Ou seja, se a mãe não estiver bem emocionalmente, produção de ocitocina será inibida.
* Dar o peito cansa?
Sim, e muito. Porque é um esforço tremendo para o organismo produzir às vezes até 800 ml de leite por dia!
* Por que a mãe transpira?
Por que ela sente muito calor, já que produção do leite “esquenta” o organismo. E ainda há o contato com o corpinho do bebê, que também é quente. Por isso, toda mulher que amamenta deve ingerir mais líquido do que o habitual, principalmente água, sucos naturais e chás. A cerveja preta é prejudicial, porque sabemos que o teor alcóolico do sangue é igual ao do leite… Ou seja, a nutriz fica bêbada – “mais tranqüila” e o bebê também, dormindo mais e se nutrindo inadequadamente…
* Mulheres que adotam uma criança e não ficam grávidas também podem produzir leite?
Sim. Com o apoio de um profissional competente, o reflexo da descida do leite pode ser condicionado. Basta à mãe tocar, ouvir ou mesmo pensar em seu bebê. Para isso ele deve colocar a criança para mamar seguidas vezes. É demorado, mas compensa.
* A amamentação é instintiva?
Não. O aleitamento materno não é inato. Na verdade, é uma habilidade que precisa ser aprendida. Ao contrário do que ocorre com os mamíferos mais inferiores (cães, gatos, baleia, golfinhos, koalas…) que não possuem cultura, o processo de lactação é totalmente instintivo.
* A produção de leite à noite é maior?
Sim. A glândula hipófise produz mais prolactina à noite. Portanto, o aleitamento materno à noite ajuda a manter uma boa produção de leite para o estoque do dia seguinte.
* É verdade que o bebezinho é o melhor personal trainer que há?
Sim. Amamentar um recém-nascido gasta mais energia do que gerá-lo, o que, em certos casos, ajuda a mãe perder os quilos extras ganhos durante a gravidez. A nutriz necessita de cerca de 500 quilocalorias (kcal) a mais por dia do que uma mulher normal. Se ela não ingerir esta quantidade extra de calorias, irá retirar de sua reserva corpórea, chegando até a desnutrir-se para preservar a qualidade do leite. Mesmo uma mãe desnutrida produz leite de excelente qualidade.
Mergulhe nessa:
* Na Internet
* Nas bibliotecas e livrarias:
Carvalho, MR e Tamez, R – “AMAMENTAÇÃO – bases científicas para a prática profissional”, Ed. Gb Koogan, RJ, 2002.
Carvalho, MR e Pamplona, V – “Pós-parto e Amamentação – dicas e anotações.” Ed. Ágora, 2001
Infográfico de Érika Ondeira