Primeira-ministra recebeu críticas ao encurtar viagem para amamentar
Críticos disseram que chefe de Estado da Nova Zelândia deveria ter ficado em casa, e ela questiona a igualdade de gêneros
Quando assumiu o cargo em outubro do último ano, aos 37 anos, Jacinda Ardern foi celebrada como a mais jovem primeira-ministra da Nova Zelândia em 150 anos, a segunda líder mundial a dar à luz durante o mandato e a primeira a tirar licença maternidade neste período. Ardern faz parte do clube dos líderes jovens e progressistas, junto com Justin Trudeau, que tentam combater os impulsos do presidente americano Donald Trump em áreas como o meio ambiente.
Voo extra para primeira-ministra amamentar filha causa polêmica na Nova Zelândia
WELLINGTON — A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, se envolveu em uma polêmica por causa da amamentação da sua filha, de apenas 11 semanas. Para poder participar do Fórum das Ilhas do Pacífico, que acontece esta semana em Nauru, ela decidiu que o avião da Força Aérea deveria fazer uma viagem extra para que ela pudesse ir e voltar para casa no mesmo dia, a um custo de 80 mil dólares neozelandeses, cerca de R$ 215 mil.
O avião da força aérea neozelandesa levou o vice-primeiro-ministro, Winston Peters, para Nauru nesta segunda-feira, e retornou para Nova Zelândia, de onde parte para uma segunda viagem na quarta-feira, com Jacinda a bordo. Ela retorna no mesmo dia. O plano era que Jacinda viajasse na segunda-feira, mas sua filha recém-nascida ainda não tem idade suficiente para receber as vacinas exigidas por Nauru.
Uma espécie de “Jacindamania” correu o mundo, e Ardern foi saudada como exemplo do futuro das mulheres na política. Nos EUA, onde muitas delas — incluindo jovens mães — estão procurando um cargo em 2018, sua situação é uma prévia do que poderia ocorrer.
Com sua posse, a primeira-ministra passaria a administrar um país E cuidar de um bebê ao mesmo tempo — sem uma babá ou uma aliança de casamento. Seu parceiro, Clarke Gayford, de 40 anos, apresentador de um programa de TV sobre pescaria, seria o pai que ficaria em casa cuidando da filha, mostrando o caminho para homens modernos.
Ardern, então, fez sua primeira viagem oficial desde que sua filha, Neve, nasceu, e a fantasia da igualdade evaporou. A primeira-ministra foi forçada a justificar a abreviação de sua ida de três dias ao Fórum das Ilhas do Pacífico para amamentar a bebê, que ainda é nova para receber as vacinas que a permitiriam viajar com a mãe, Ardern decidiu que um avião da Força Aérea deveria fazer uma viagem extra para que ela pudesse ir e voltar para casa no mesmo dia. Críticos disseram que ela deveria ter ficado em casa, deixado as funções para Peters. Ele seria “mais do que capaz de manter a corte com todos os líderes locais bebendo no happy hour”, disse o apresentador de TV Duncan Garner.
Grant Robertson, o ministro das Finanças, a defendeu: “Esta aeronave e sua tripulação estariam em operação, de qualquer modo. Então seria para esse ou outro voo”.
“QUERO SER UMA BOA LÍDER”
Quando conheci Jacinda Ardern, em seu bangalô, algumas horas após ela ter chegado em casa, a primeira-ministra estava amamentando sua filha e angustiada com aquilo que chama de um momento “ruim se faço, ruim se eu não faço”.
— O que mais me surpreendeu (sobre a redução da viagem) foi como enfrentei isso, tendo tido dificuldade para ir, e, na verdade, tendo me aborrecido um pouco — disse ela, vestindo um jeans com rasgos nos joelhos e um pulôver, e chutando seus chinelos para se sentar no chão. Gayford ficou na cozinha, embalando o bebê.
— Na Nova Zelândia, temos muito cuidado com o excesso — afirmou a primeira-ministra. — Odeio a ideia de alguém achando que não penso no custo para os contribuintes. Ardern instituiu um congelamento salarial no mês passado que impediu um aumento de 3% nos pagamentos dela e de membros do Parlamento.
— Quero ser uma boa líder, não uma boa moça líder — disse. — Não quero ser conhecida apenas como a mulher que deu à luz.
A Nova Zelândia celebra 125 anos do sufrágio feminino e sua terceira mulher como primeira-ministra. Mas Ardern diz que ainda há trabalho a ser feito.
— Recebi uma carta de uma jovem que ficou grávida mais ou menos na mesma época em que eu. Ela sentiu seu chefe mais disposto a ser flexível, certificando-se de que as mulheres podem ter bebês e permanecerem em seus empregos — contou. — Eu pensei: mesmo que eu crie apenas esse sentimento, esse ambiente ou mesmo um pouco de solidariedade para outras mulheres, isso já é alguma coisa.
A primeira-ministra quer mostrar que as mulheres podem liderar com diferentes estilos, não se lançando nos moldes egoístas e impetuosos de muitos políticos.
— Uma das críticas que tenho recebido é de não ser agressiva ou assertiva o bastante. Ser compreensiva significa para alguns que sou fraca — disse ela. — Revolto-me totalmente contra isso. Eu me recuso a crer que você não pode ser, ao mesmo tempo, compassivo e forte.
Fonte: Jornal O Globo
Nosso apoio à Primeira-Ministra por sua coragem de tentar conciliar seu trabalho e manter a amamentação de sua filha – um exemplo para os políticos em sua maioria ainda machistas.
Prof. Marcus Renato de Carvalho