Capacitação em
aleitamento materno
Especialização da UniFil: profissionais para ensinar, apoiar e incentivar a amamentação
Juliana Gonçalves
Especial para a FOLHA de LONDRINA
Foto de Sérgio Ranalli: Banco de Leite do Hospital Universitário da UEL –
rigoroso cuidado na pasteurização do leite humano recebido pela instituição
Mesmo sendo um processo natural inerente aos mamíferos, a amamentação não é um ato instintivo no ser humano e tem de ser aprendido, tanto pela mãe quanto pelo bebê. Por isso, as mães precisam contar com o auxílio de profissionais capacitados a ensiná-las como extrair o melhor desse momento para si e para seus filhos. Foi para atender a essa demanda que o curso de Especialização em Aleitamento Materno foi criado pela UniFil.
Numa época em que o Brasil é considerado campeão mundial de cesáreas – o último levantamento, feito em 2013 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apontou que 55% dos partos no país foram cesarianas – a promoção da amamentação se torna ainda mais importante. Isso porque a cesárea eletiva antecipa um processo que deveria ocorrer naturalmente e, muitas vezes, dificulta o início da amamentação.
“A amamentação é um ato psicossomático complexo, uma questão interdisciplinar e não é fácil a assistência clínica porque envolve muitos saberes, capacitação específica e uma escuta empática. Amamentar é difícil”,
explica o coordenador do curso, o médico Marcus Renato de Carvalho.
Carvalho se especializou em Amamentação nos Estados Unidos, há 20 anos no Wellstart International, e hoje é consultor em Amamentação reconhecido internacionalmente pela certificação do International Board of Lactation Consultant Examiners (IBCLE). Segundo ele, a formação de profissionais especialistas no assunto é fundamental para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno.
“O aleitamento na espécie humana não é inato ou um reflexo, não acontece automaticamente. Amamentar é uma habilidade que se aprende. É uma cultura que precisa ser recuperada.”
O curso levou cinco anos para ser planejado, tamanha a complexidade do conteúdo programático. O médico explica que, para apoiar efetivamente a mulher que amamenta, é preciso reunir conhecimentos de fisiologia, endocrinologia, anatomia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição, entre outros. “Por isso, o curso tem um conteúdo programático abrangente, com uma abordagem integral e interdisciplinar”, argumenta. Além disso, o curso trabalha a questão do aleitamento como política pública. “Queremos formar especialistas também capacitados na formulação e gestão de políticas públicas de aleitamento.”
FALTA ORIENTAÇÃO
Para a rede de apoio e incentivo à amamentação, essa capacitação de profissionais é um grande reforço, já que ainda há muitas mulheres que não encontram esse auxílio nos serviços de saúde. “Se lá na atenção básica, na atenção hospitalar, tiver um profissional investindo na promoção da amamentação, já vai ser um grande avanço porque ainda temos mulheres que passam os nove meses da gestação sem receber nenhuma orientação sobre amamentação, apesar de toda a legislação existente voltada para esse apoio”, avalia a coordenadora do Banco de Leite do Hospital Universitário (HU), Márcia Benevenuto de Oliveira – Docente do Curso.
Segundo ela, as preocupações com a amamentação começaram a ganhar força nos anos 1990 e ainda hoje existem mães que jogam o leite excedente fora porque não sabem que ele pode ser doado para outras crianças.
O curso visa também à formação de especialistas para atuar na elaboração e gestão de políticas públicas de aleitamento
CURSO é INÉDITO no BRASIL
O curso de Especialização em Aleitamento Materno da UniFil é o primeiro e o único na área no Brasil, segundo o coordenador do curso, Marcus Renato de Carvalho. Ele destaca que existem algumas outras iniciativas com cursos específicos para profissionais que trabalham, por exemplo, com a metodologia Mãe-Canguru, Unidades Básicas Amigas da Amamentação, Bancos de Leite Humano, Hospital Amigo da Criança. Mas são cursos de menor carga horária, entre 20 e 40 horas.
Esse pioneirismo explica a presença de alunos de outros estados já na primeira turma, iniciada em 2015. “Temos alunos de São Paulo, de Porto Alegre, de várias cidades. Tanto que, a princípio, as aulas seriam quinzenais, como na maioria dos nossos cursos. Mas, a procura externa foi tão grande que decidimos fazer aulas mensais, para facilitar para quem vem de fora”, conta a coordenadora adjunta da especialização, Damares Tomasin Biazin.
A Especialização em Aleitamento Materno é feita totalmente na modalidade presencial, com carga horária de 490 horas. Segundo a coordenação, alguns interessados questionam se o curso poderia ser feito on-line, na modalidade de educação a distância (EaD).
argumenta o coordenador, Marcus Renato de Carvalho.
Segundo ele, o atendimento acolhedor à mulher que amamenta, ao bebê e ao companheiro – questões tratadas ao longo do curso – depende muito de uma escuta empática. “Não abrimos mão de nos encontrarmos pessoalmente e aprendermos a ouvir, aprendermos sobre a importância dos relacionamentos interpessoais, sobre os conceitos básicos do aconselhamento, que é uma das disciplinas do curso”, explica. “Não é uma pós em Engenharia ou Contabilidade. Estamos tratando de gente, de humanidade.” (J.G.)