Dr. Patch Adams fala sobre a importância da medicina humanizada
“Os médicos, não. Os pacientes me ajudaram. Fizeram-me ver que os ajudando esquecia de meus problemas. Foi o que fiz. Ajudei vários. Pela primeira vez na vida, esqueci meus problemas. Foi um barato incrível”.
Esse trecho foi retirado do filme “Patch Adams – o amor é contagioso”, protagonizado pelo ator Robin Williams e baseado na história real de Hunter Adams. E foi justamente contagiar mais de 600 médicos, estudantes de medicina, profissionais de saúde, entre outros, que o verdadeiro Dr. Hunter Adams veio ao Brasil. “Ter saúde, é amar a vida que temos”, sorri o doutor vestido em trajes, digamos, esquisitos. “Há anos só compro roupas de palhaço, logo, não tenho nada certinho para vestir”, explica o médico americano sob olhares encantados com a imagem do senhor de 60 anos recém completos, cabelos compridos, grisalhos e com mechas azuis e presos em rabo de cavalo.
Em quase duas horas da palestra “A importância de uma medicina mais humana”, o Dr. Adams contou um pouco de sua história, de como se tornou médico e palhaço, arrancou gargalhadas da platéia e, inclusive das até então, sérias tradutoras. “O riso é terapêutico, e foi sobre seus efeitos que me propus a estudar ao longo de minha vida”, explica.
E o interesse Hunter Adams pela profissão começou aos 16 anos quando foi internado em uma clínica psiquiátrica por conta se uma depressão profunda após perder o pai militar em combate. “Eu não queria viver num mundo de injustiças”, disse justificando sua depressão. Indignado com a desigualdade e com os efeitos devastadores da guerra, tomou duas decisões. A primeira era que serviria à humanidade por meio da medicina. E a segunda era que se tornaria um cientista para poder estudar a felicidade e seus efeitos terapêuticos. A primeira decisão, segundo o próprio Hunter, o tornou médico, já a segunda o tornou palhaço.
E, aos 18 anos, entrou para a faculdade de medicina, onde enfrentou professores “rudes, arrogantes e pouco amigos” e lutou “contra um sistema que treinava os médicos para atenderem em 8 minutos”, elucida. Desde então, Adams decidiu que iria celebrar a vida diariamente e que todos os dias da sua vida seriam felizes. Passou, então, a fazer o que chama de “exercício de amar”, contagiando conseqüentemente todos à sua volta. “Eu queria amar todas as pessoas, queria que percebessem que eu realmente me importo com elas”, diz o sempre sorridente doutor.
A escolha pelo curso de medicina foi motivada justamente porque Adams queria, como lembrou, “entender como eram oferecidos os cuidados de saúde a outros seres humanos, entender como as pessoas cuidavam umas das outras”. E assim, aprofundou-se nos estudos sobre a relação médico-paciente e sobre diferentes técnicas e práticas de cuidados com a saúde e de pessoas. “Amigos, é importante que vocês entendam que a medicina é um exercício constante de compaixão”, aconselha.
Nas “horas vagas”, Hunter atuando como um cientista, experimentava métodos pouco ortodoxos que pudessem comprovar suas teorias sobre o riso. Para isso, passava trotes para diversas pessoas e ficava conversando com elas por longos períodos para que desabafassem com ele e, assim, pudessem se sentir mais leves ao final do telefonema. Além disso, aplicava seus métodos também quando estava em elevadores. Afirmando que nesses ambientes as pessoas ficam muito sérias e mal se olham, ele conta que sempre gostou de surpreender e fazer rir. Coisa que, segundo garante, ainda faz até hoje e recomenda que todos façam.
Ansioso por poder dar andamento as suas experiências e por praticar a medicina que sempre sonhou, em 1971 o médico alugou uma casa de 6 quartos, em Virgínia, EUA que se tornaria o Gesundheit Institute. Na casa moravam amigos estudantes de medicina, suas esposas e filhos, além de pacientes internados. O médico lembra que não raro, dormiam cerca de 50 pessoas naquele espaço. Segundo Dr. Hunter, a idéia era criar um projeto-piloto de um hospital que atendesse a todos sem distinção de raça, cor, idade e, principalmente, independente se eram segurados por planos de saúde ou não. “Nos EUA a medicina é um negócio, queríamos eliminar a idéia de que o paciente devia dinheiro por ter sido atendido como merecia. Queríamos que as pessoas se sentissem parte, colaborando como pudessem”, explica. Explicando que até hoje não se associou aos programas de saúde pública dos EUA, o médico afirma: “relacionar-se com seguradoras de saúde é como fazer contrato com o diabo”.
No instituto criado por Hunter, eram aceitos todos os tipos de pacientes. Espaço recebia também pessoas que detinham diferentes conhecimentos sobre cura e cuidados da saúde. Além de medicina tradicional, aplicava-se acupuntura, homeopatia, cura pela fé, tratamentos terapêuticos por meio das artes e promoviam-se ações sociais. Além de tratar os pacientes, Dr. Adams incentivava os “médicos” a conhecerem as histórias e as famílias de seus pacientes, lembrando que uma consulta ideal poderia durar cerca de 4 horas, tempo necessário, para que o paciente lhe contasse tudo e pudesse nele confiar. “Como clínico geral, eu exerço meu amor, minha capacidade de estabelecer amizades e construo uma relação de amor com o paciente”.
Hoje, o doutor leva sua “equipe” de médicos e palhaços para diferentes lugares do mundo, como áreas de conflito, de refugiados de guerra e países como o Sri Lanka, Rússia e Peru, sempre com o objetivo de levar a cura por meio do amor e da alegria. O grupo trabalhado também na arrecadação de recursos para a construção do seu tão sonhado hospital-modelo. “Temos muitas ONGs trabalhando conosco e essa corrente é muito importante para a realização de sonhos como este”.
Sob insistentes aplausos, Dr. Hunter Adams despede-se da platéia e recomenda:
“amem seus pacientes e olhem-nos como pessoas. Não os ignore. Vamos trabalhar pela paz, pela justiça e pelo cuidado do seres humanos com amor”.
Estudante de medicina brasileiro visitará o Gesundheit Institute na próxima semana
“Usaremos o bom humor para curar e aliviar. Médicos e pacientes trabalharão como iguais sem títulos, sem chefes. Gente virá de toda parte para ajudar o próximo. Uma comunidade onde a alegria reina, onde a meta é aprender e o amor é o gol”. Esse é o trecho em que o personagem de Robin Williams explica seu projeto de clínica a sua colega de faculdade.
Ainda que parecesse utópico, o Dr. Adams conseguiu construir o Gesundheit Institute, que já atendeu cerca de 500 mil pessoas. O Instituto atrai estudantes de medicina e da área de saúde, além de voluntários, do mundo todo. Um desses estudantes, Igor Padovesi, responsável pelas palestras do médico americano nas cidades de São Paulo e São Bernardo do Campo (SP), embarca para os EUA na próxima semana onde fará uma espécie de estágio de um mês no Instituto. “Eu sempre vi a medicina muito mais como uma ciência humana que biológica. Infelizmente, no Brasil não se ensina, tampouco se pratica uma medicina mais humana. E é exatamente isso que o Dr. Patch Adams pratica e o que eu quero aprender”, diz.
Estudante do 3º ano de medicina na Universidade de São Paulo (USP), Igor conheceu o trabalho de Adams por meio do filme e depois entendeu melhor sua atuação graças a uma entrevista publicada na revista Veja: “Desde então, pesquiso sobre o assunto e sobre o doutor, além de ter me inscrito no programa para ser voluntário no Instituto”, explica. Ele lembra ainda os contatos que tem feito com o Instituto e com o Dr. Adams desde o começo do ano passado se estreitaram em outubro, quando o Dr. Patch Adams esteve em Campinas para uma palestra e contou com a presença de Igor na platéia. “Falei com o assessor do Patch e no carnaval deste ano ele mesmo me ligou”, recorda animado.
“E por que você decidiu fazer medicina?”, perguntei a Igor, reproduzindo a pergunta repetida diversas vezes por Robin Williams no filme. “Essa é uma pergunta freqüente que não tem uma resposta certa. Mas, acredito que, assim como Patch, sempre quis estar em contato com as pessoas. Quero aliviar a dor das pessoas e melhorar sua qualidade de vida”, reflete o estudante que também é voluntário da ONG Mundo Bem Melhor.
Dicas
Se você não assitiu ao filme “Patch Adams – O amor é contagioso” ou quer relembrar essa história, foi lançada, no ano passado, a versão em DVD.
No livro, com prefácio do ator Robim Williams, o Dr. Patch Adams dá várias dicas a pacientes, médicos e visitantes de doentes e hospitais.
Confira também os sites sobre o filme, sobre a visita do doutor no Brasil e do Gesundheit Institute.
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Estive com Patch Adams e com nossos alunos em sua conferência no Hotel Glória no Rio de Janeiro e ficamos muito impressionados com seu carisma e propostas revolucionárias para as relações médico-pacientes.
Prof. Marcus Renato de Carvalho, UFRJ