OMS: EUROPA tem a menor taxa global de AMAMENTAÇÃO
Dados recentes mostram que entre 21 países da região, uma média de apenas 13% dos bebês são alimentados exclusivamente com leite materno; pobreza, obesidade e políticas do mercado de trabalho são causas dos baixos índices.
Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.
A Europa tem o menor índice global de amamentação, segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS. Dados recentes colhidos em 21 países da região afirmam que apenas 13% dos bebês até seis meses são alimentados exclusivamente com leite materno.
O alerta da OMS está sendo feito durante a Semana Mundial da Amamentação, que em Portugal é comemorada em outubro.
54 dias é a média brasileira de aleitamento materno exclusivo. A OMS recomenda que até os seis meses de idade a criança só se alimente do leite da mãe. Essa lacuna fica mais difícil de ser compreendida se pensarmos que amamentar é um ato fisiológico. Até os 2 anos de idade (atenção, ou mais), a OMS ressalta a qualidade do alimento produzido pelo corpo da mulher e os benefícios para as crianças. A média do Brasil é de 342,6 dias, ou seja, menos de um ano.
Causas
Uma outra pesquisa, feita entre 2006 e 2012, mostrou que apenas 25% dos bebês europeus eram amamentados, contra 43% do sudeste asiático. A OMS destaca que o índice da Europa está muito abaixo do recomendado.
Segundo a agência da ONU, pobreza, marginalização social, obesidade, regras do emprego e políticas do mercado de trabalho são algumas das causas da baixa taxa de amamentação.
Dificuldades no Emprego
De Lisboa, o especialista em aleitamento materno José Guerra confirmou à Rádio ONU que o retorno ao trabalho contribui para que as mães deixem de amamentar.
“Isto também acontece com alguma frequência, inclusive no caso de Portugal. É uma situação que é referida e às vezes as pessoas até são despedidas pelo fato de ter tido um bebê. Essa é uma situação que acontece com alguma frequência e nos é relatada pelas mães, pelas dificuldades que têm no local de trabalho. E por vezes, as mães ao extraírem leite em seu local de trabalho é muitas vezes um fator desmotivador, porque muitas pessoas e colegas não sabem, não percebem e acabam por achar um pouco estranho que as mães mesmo depois de voltar ao trabalho, continuem a amamentar.”
Marketing
Segundo José Guerra, que dirige a empresa Geofar, especializada em bancos de leite e amamentação, a falta de apoio de colegas de trabalho e até mesmo familiares prejudica o plano de amamentação de muitas mães.
Já a Organização Mundial da Saúde destaca que propagandas de fórmulas que substituem o leite materno e de suplementos alimentares também contribuem para que a prática da amamentação seja fraca na Europa.
A OMS lembra que o aleitamento é a melhor opção para alimentar bebês, porque fornece todos os nutrientes necessários para o crescimento, o desenvolvimento, além de prevenir doenças.
Durante os seis primeiros meses de vida, o ideal é que os bebês recebam apenas o leite materno. Dos seis meses até os dois anos de idade, as crianças devem receber alimentos e também o leite da mãe.
A situação portuguesa
Em Portugal, nos últimos anos, a tendência tem sido a de incentivar o aleitamento materno exclusivo. O próprio Plano Nacional de Saúde 2004-2010, que agora termina, definia um período de duração do aleitamento materno como meta prioritária. Também a Direção-geral da Saúde (DGS) refere que, “de acordo com as estatísticas disponíveis, à data da alta hospitalar a larga maioria das puérperas e seus recém-nascidos terão como plano alimentar esperado o aleitamento materno exclusivo, o que permite falar numa taxa de 90 por cento de iniciação”. No entanto, a DGS reconhece que “a elevada taxa de aleitamento materno exclusivo à alta parece ter um acentuado declínio logo no primeiro mês de vida para ser inferior a 50 por cento aos três/quatro meses”.
Contatada pelo PÚBLICO, a secretária da mesa do Colégio de Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia da Ordem dos Enfermeiros, Teresa Félix, para as mães que estão neste momento a amamentar ou para as futuras mães, refere que “o mais importante é manter a amamentação mesmo que se introduza outro alimento”. De todas as formas, Teresa Félix lembra que “o leite materno é fundamental em termos nutricionais e um alimento que é impossível igualar. É um alimento vivo que muda ao longo do dia e que responde às necessidades do bebé”, pelo que é importante que a mãe tente continuar a extrair o leite mesmo quando regressa ao trabalho.
Também a presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, defende que “é muito difícil deixar de ter por base uma recomendação que vem da OMS”. Sobre o facto de introduzir alimentos mais cedo, Alexandra Bento entende que é necessária mais evidência científica, mas também recorda que “a OMS faz recomendações globais e universais que se aplicam a todos os países” – em referência ao facto de a realidade dos países em desenvolvimento poder estar a influenciar as recomendações, já que nos países desenvolvidos até pela entrada da mulher no mundo do trabalho a amamentação exclusiva é abandonada mais cedo. A nutricionista explica, no entanto, que “o mais importante é impulsionar o aleitamento materno independentemente da altura em que se introduzem alimentos”.
Em Portugal, de 5 a 11 de outubro, decorrem as comemorações nacionais da
Semana Mundial do Aleitamento Materno.
Convite
Ciclo de conferências sobre Aleitamento Materno – Mãe-Canguru – Humanização do Parto / Nascimento – Paternidade com o Prof. Marcus Renato de Carvalho em PORTUGAL:
· Coimbra (Esenfc polo A) 16 de outubro
http://www.esenfc.pt/event/event/home/index.php?target=home&event=173&defLang=1
· Porto (Unidade de Saúde Familiar Matosinhos) 17 de outubro
http://www.ulsm.min-saude.pt/content.aspx?menuid=20&eid=10254&bl=1
· Vila Real (Esevr) 21 de outubro
http://www.esevr.pt/agenda/2015/semin_alei_mat/index.htm
· Évora (Esee) 26 de outubro
http://www.bebesaudaveis2015.uevora.pt/index.php?/event
· Lisboa (à confirmar) 23 de outubro