Livro: Manual of Pediatric Nutrition – third edition
Hendricks – Duggan – Walker BC Decker, London, 2000
Lançamento Ed. RevinteR – Rio de Janeiro – RJ – 2002
– artigo exclusivo para profissionais de saúde –
Capítulo 6
AMAMENTAÇÃO
Jill Kostka Fulhan, MPH, RD Tradução: Prof. Marcus Renato de Carvalho
Atualmente há um consenso que o leite materno é a melhor escolha para a alimentação tanto para o recém nato à termo, quanto para os recém nascidos prematuros. Os benefícios nutricionais, imunológicos, fisiológicos, psicológicos, para a saúde, e sócio econômicos para o lactente e sua mãe são muitos (tabela 6-1); promovendo um recente aumento do número de mulheres iniciando a amamentação no pós-parto. Apesar de um incremento de cerca de 60% de mães amamentando seus recém nascidos em 1995, somente 21,6% continuaram a amamenta-los até 5-6 meses. 1
Ainda que promissor, estes números estão ainda bem abaixo da meta de “Saúde para Todos no ano 2000” que é de 75% de mães amamentando logo de início e 50% continuando a amamentar seus bebês até a idade de 5-6 meses. 2
A Academia Americana de Pediatria – AAP, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde – OMS, recomendam fortemente que os lactentes recebam leite materno exclusivo durante os 6 primeiros meses de vida e continuem a receber leite materno com alimentos complementares até o final do primeiro ano de vida (AAP) 3,4 Para alcançar esta meta, a família que está em amamentação deve ser provida de apoio e educação em saúde e de profissionais médicos, bem como a comunidade, locais de trabalho e a mídia. Suporte emocional, combinado com o conhecimento de como estabelecer e continuar o aleitamento, ajudarão a dupla em lactação a ser bem sucedida, superando as muitas barreiras existentes atualmente.
Praticamente todas as mães podem amamentar com sucesso seus bebês. Os profissionais de saúde devem assegurar que todas as mulheres de recém nascidos entendam as vantagens do aleitamento materno e os passos envolvidos para que seu início seja exitoso. (Tabela 6-2).
Uma abordagem diagnóstica da dupla mãe/bebê é essencial na determinação do estado nutricional e de hidratação, especialmente do recém nascido hospitalizado. A amamentação é também freqüentemente descontinuada prematuramente, porque os profissionais de saúde estão preocupados com a nutrição, mas são incapazes de determinar se o recém nascido está ingerindo leite materno suficiente. Apesar das boas intenções, mães freqüentemente recebem mensagens desencorajadoras a respeito de sua habilidade de aleitar seus próprios filhos. Para implementar o conhecimento sobre os determinantes que levam as mulheres a amamentarem e identificar as que necessitam de intervenção, ferramentas de avaliação foram criadas por clínicos especialistas. Nas Tabelas 6-3 e 6-4 cada uma delas são descritas e podem ser empregadas.
Diretrizes para ordenha e conservação de leite humano são mostradas nas Tabelas 6-5 e 6-6. Problemas comuns são localizados na Tabela 6-7, com contra-indicações à amamentação mostradas na Tabela 6-8. Guias para a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno em maternidades estão disponíveis na Tabela 6-9. Leituras adicionais são sugeridas, como as que são indicadas pela rede International Board Certified Lactation Consultant (IBCLC) . Veja também “Recursos Adicionais” no fim deste capítulo para contatos e informações.
Promoção da Amamentação
A OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) publicou uma declaração conjunta em 1989 intitulada “Protegendo, Promovendo e Apoiando a Amamentação: o papel especial dos Serviços Materno – Infantis” com o intuito de ampliar globalmente o conhecimento do impacto das instituições de assistência à saúde na defesa do aleitamento materno. Desta publicação surgiu os “Dez passos para o sucesso da amamentação”, uma diretriz destinada as maternidades e casas de parto, para serem seguidas assegurando que a amamentação seja promovida e adotada nestes serviços. Colocando em prática estes passos, listados na Tabela 6-9, a maternidade ganhará a designação de “Hospital Amigo da Criança”. A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) começou em 1992, e maternidades espalhadas por todo o mundo trabalham para obterem esta certificação.
Tabela 6-1 – Benefícios da Amamentação
Vantagens Nutricionais
Proteína
No soro do leite humano (comparado ao leite de vaca) há uma pequena quantidade de caseína, facilitando a digestão.
Promovendo um rápido esvaziamento gástrico
Proteínas de alto valor biológico
Lipídeos
Provem 40-50% de calorias
Sais biliares estimulam a lipase e lipoproteína lípase rapidamente degradam triglicerídeos.
Contém ácidos graxos essenciais
Ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa: docosahexaenóico e ácido aracdonico podem
melhorar a visão e a cognição.
Colesterol: essencial para o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central; podem influenciar o metabolismo do colesterol.
Carbohidratos
Lactose: aumenta a absorção do cálcio, é quebrada em galactose e glicose, fornecendo energia para o cérebro.
Amilase: ajuda a digestão do amido e outros polímeros de glicose.
Nitrogênio não protéico: aminoácidos livres para o crescimento.
Ferro: a absorção do ferro é otimizada
Vantagens Imunológicas
Proteção contra infecções e alergia
IgA secretora: proteção imunológica passiva via o sistema enteromamário.
Lactoferrina: proteína ligadora de ferro, reduzindo os sítios ligadores de ferro disponíveis em bactérias patogênicas.
Lisozima: fator antimicrobiano
Lactobacilus bífidus: promove o crescimento de bactérias benéficas, inibindo o crescimento de enteropatógenos.
Leucócitos: incluindo macrófagos e linfócitos para lutarem contra infecções.
Baixo risco de contaminação alimentar, se o aleitamento é direto do seio.
Reduz incidência e/ou severidade de:
. diarréia
. otite média
. infecção das vias aéreas inferiores
. bacteremia
. meningite bacteriana
. botulismo
. infecção do trato urinário
. enterocolite necrozante
Possível proteção contra:
. Síndrome da morte súbita do lactente
. Diabetes insulino-dependente
. Doença de Crohn
. Colite ulcerativa
. Linfoma
. Doenças alérgicas
. Outras doenças digestivas crônicas
Vantagens fisiológicas
Conteúdo de 87,5% de água, mantendo a hidratação
Baixa carga de solutos renais: ajuda a função dos rins
Ajuda a maturação intestinal (via fatores de crescimento, hormônios)
O lactente desenvolve uma auto-regulação alimentar pela necessidade, via “livre demanda”
A composição do leite materno varia de acordo com as necessidades do lactente:
. Colostro, leite de transição e leite maduro, pré-termo versus leite de uma nutriz de um RN à termo
. Mudanças ocorrem durante cada mamada, de manhã para a noite, e durante todo o curso da lactação
Vantagens Psicológicas
Vínculo e apego entre mãe e bebê
Atenção e doação mútuas
Vantagens para a Saúde Materna
Aumenta os níveis de ocitocina, principalmente diminuindo o sangramento pós-parto, e possibilitando a involução uterina
Retorna rapidamente o peso pré-gestacional
Atrasa o retorno da ovulação, aumentando o intervalo entre as gestações
Incrementa a remineralização óssea pós-parto
Redução das fraturas do quadril no período pós-menopausa
Redução do risco de câncer ovariano
Redução do risco de câncer na mama
Vantagens Sócio-econômicas
Pais tem mais tempo disponível para a criança/irmãos (não necessitam obter e preparar fórmulas)
Reduz o absenteísmo dos empregados ao diminuir as doenças infantis
Reduz os gastos familiares ao diminuir o absenteísmo no trabalho
Economia de mais de 400,00 US$ por criança/ano por família em compras de alimentos
Poupa recursos dos governos, ao diminuir as doenças infantis, minimizando a distribuição de fórmulas pelos programas de suplementação alimentar.
Recente expansão de empregos em programas de apoio a grupos de mães que necessitam ajuda
Adaptado em parte de recomendações do Grupo de Trabalho de Amamentação da Academia Americana de Pediatria: “Amamentação e uso de leite humano” Pediatrics 1997: 100:1035-9
Tabela 6-2 Diretrizes para profissionais de saúde
Pré-natal
Um bom programa encoraja a mãe a:
. participar de encontros e ler a respeito de aleitamento
. observar outras mães amamentando seus filhos (para ajudar a entender como é este processo)
. identificar pessoas que podem apóia-la: família, amigos com experiência em amamentação, consultores de lactação.
. obter um bomba tira-leite se ela pretende retornar ao trabalho enquanto amamenta e aprender como usa-la.
Escolher um obstetra, um pediatra e uma maternidade que sejam “Amigos da Criança” (veja Tabela 6-9):
. profissionais médicos que são conhecedores e apoiadores da amamentação
. apoio ao aleitamento 24 horas/dia na maternidade e em consultórios médicos de referência
. encorajar a amamentação tão cedo possível após o parto
. alojamento conjunto mãe-bebê é praticado
. a equipe de saúde da maternidade não prescreve fórmulas a não ser por uma razão médica aceitável
Exame da mama/mamilo:
. exame das mamas para identificação de mamilos planos ou invertidos (que poderão prejudicar uma boa pega)
. no caso de serem detectados, estas mães podem ser beneficiadas utilizando-se de conchas antes do parto
. referir nutrizes para consultores de lactação (em antecipação a potenciais problemas de pega/posicionamento…)
Pós-parto:
Iniciação da amamentação:
. deve começar tão cedo possível após o parto, preferencialmente dentro da primeira hora
. encorajar alimentação em “livre demanda”, tão freqüentemente a cada hora, com intervalos não maiores que 4 horas entre cada mamada.
. explicar que nos primeiros dias é crucial verificar o reflexo de descida do leite e o estabelecimento da oferta de leite materno
. discutir os sinais de fome – aumento das atividades/horas em vigília, e enfatizar para não esperar que o bebê chore
Observação da dupla mãe/bebê:
. avaliação intermitente é essencial
. observar posicionamento, pega, sucção e deglutição (veja tabela 6-3 e 6-4 – Diretrizes LATCH)
. resolver qualquer problema que surja e/ou ter como referir para uma assistência adequada
Iniciar a ordenha de leite materno:
. começar tão cedo quanto possível, se o lactente tiver que ser separado de sua mãe
. recomendar que a mãe a cada 3 horas, inclusive durante a madrugada, para manter a oferta
de leite
. instruir a mãe a estocar corretamente e ensinar técnicas de expressão manual (veja tabela 6-5 e 6-6)
Incentivar a amamentação:
. o apoio do pai do bebê, da família, e de amigos é crucial para a decisão da mãe em amamentar
. uso criterioso: de copinhos, seringas, “finger feeding” na prevenção da confusão de bicos
. apoio para a transição da alimentação por tubo para a alimentação direta ao seio
Estabelecimento da lactação
A lei da oferta e da procura:
. quanto mais o lactente suga, mais leite a mãe irá produzir
. o lactente deve mamar 8-12 vezes ao dia
. o lactente deve mamar durante a madrugada
. o lactente deve ser amamentado a cada 1-3 horas de início, podendo aumentar este intervalo quando mais velho
. a nutriz deve alternar o seio de início a cada mamada
. “esvaziar” igualmente os seios é importante (a sucção mais vigorosa é realizada no primeiro peito)
. informar a nutriz que o lactente pode mamar mais freqüentemente que o alimentado por fórmula
Posicionamento:
. a produção ótima de leite requer uma efetiva pega (abocanhamento do mamilo e aréola) com um posicionamento adequado
. posições de amamentação: “barriga-com-barriga”, posição invertida (de bola de futebol americano), ambos deitados de lado…
. importante trazer o bebê ao nível das mamas
. pode haver necessidade de apoiar a mama: mãos em “c”, mãos em tesoura , mãos de bailarina
. assegurar que a mãe esteja o mais confortável e relaxada possível, oferecer travesseiros e almofadas para apoio
Pega:
. assegurar apropriado posicionamento
. a mãe pode fazer cócegas/estimular com o mamilo as bochechas ajudando o lactente a abrir bem a boca
. enquanto o lactente abre a boca, a mãe pode introduzir o seio
. o lactente deve ter toda o mamilo e o máximo possível da aréola em sua boca
. se a pega não está correta da primeira vez, a mãe deve retirar o lactente do seio e recolocá-lo.
. para retira-lo do peito, introduza o dedo mínimo no canto da boca do bebê, abrindo-a e o lactente parará de sugar lentamente
Inadequada produção láctea pode ser devido a:
. mamadas infreqüentes e insuficientes (a causa mais comum e prevenível)
. hesitação/falha de acordar o bebê para mamar
. excessivo uso de chupeta
. bebê reluta em mamar (pode ser um sinal de que há uma inadequada ingesta)
. mãe ignora a necessidade de mamadas freqüentes, especialmente no pós-parto
. alimentação intermitente por mamadeira: levando a perder oportunidades de mamar ao seio e estimular a produção de mais leite
. a alimentação por mamadeira não é recomendada antes dos 4-6 semanas, quando a oferta de leite é estabelecida
Acompanhamento – consultas de puericultura
. muitos recém nascidos e suas mães recebem alta em menos de 48 horas após o parto, antes da apojadura
. A AAP recomenda um atendimento entre 24-48 horas após a alta e também com 2 semanas após o nascimento
. O pediatra, a enfermeira, ou outro profissional de saúde capacitado é recomendado para estas consultas
Avaliação clínica inclui:
. verificar se o lactente encontra-se hidratado
. amamentação exclusiva ? (uso de suplementos/fórmula)
. ganho de peso
. presença de icterícia
. veja a Avaliação LACTH (Tabelas 6-3 e 6-4)
Necessidades maternas:
. responder suas perguntas; detectar problemas e possíveis ansiedades
. referir à um especialista em amamentação, se necessário
Retorno ao trabalho
O melhor momento para planejar o retorno ao trabalho é durante a gestação. É necessário considerar:
. tempo de licença maternidade: quanto maior a duração da licença, maior o sucesso com a amamentação continuada
. local de trabalho: tempo e local disponível para ordenhar; há programas de apoio à nutriz trabalhadora ? Presença de um consultor do IBCLC ?
. Creche: proximidade do trabalho que permita uma visita para amamentação; sensibilidade do pessoal com respeito a cuidar e prover leite humano
. Método de ordenha do leite materno: bombas tira-leite duplas já são disponíveis para maior eficiência na extração
. Necessidades emocionais: expectativas e tentar prepara-la para os sentimentos que possam surgir com a separação mãe-bebê
IBCLC = International Board Certified Lactation Consultant;
AAP = American Academy of Pediatrics
Tabela 6-3 – “LATCH” – Guia para avaliação da amamentação
Objetivo:
. observação sistematizada da díade em amamentação
. indentificar áreas que requerem intervenção e/ou educação
. servir como um instrumento de comunicação e documentação entre os profissionais de saúde que prestam atendimento
. aumenta a consistência do diagnóstico
. repetindo a avaliação permite identificar se houve mudança na experiência da amamentação
Sistema de pontuação
. semelhante ao “score” de Apgar
. pontos são dados de acordo com cada componente ou sessão observada
. com a soma dos pontos, o total pode determinar “sucesso” no aleitamento
. pontos altos (9-10) indicam que a amamentação está sendo bem sucedida com uma
assistência mínima
. baixa pontuação (4-5) indica fortemente que uma assistência é requerida, o aleitamento está sendo prejudicado
. baixa pontuação em um componente específico mostra onde a atenção é necessária
Adaptado de Jensen D, Wallace S, Kelsay P. LATCH: a breastfeeding charting system and documentation tool.
J Obstet Gynecol Neonatal Nurs 1994; 23-27-32.
Tabela 6-4. Tabela de pontos LATCH
(L= latch = pega; A= audible swallow = deglutição audível; T = type of nipple = tipo de mamilo; C
= comfort = bem estar nas mamas; H = colo = aconchego)
0 1 2
L Pega bebê dorme muito tentativas repetidas abocanha a mama
pega não observada contém o mamilo na boca lábios virados para fora
simula sucção língua no assoalho da boca
sucção ritmada
A Sucção ausente um pouco, com estimulação espontânea
audível intermitente à freqüente
T Tipo de invertido plano evertido após estimulação
mamilo
C Bem estar mamas ingurgitadas mamas cheias mamas macias
mamário fissuras mamilares mamilos avermelhados
desconforto grave desconforto moderado sem desconforto
H Colo Profissionais dão Mínima assistência Sem necessidade de apoio
apoio e seguram o Mãe demonstra carinho Mãe habilitada a posicionar
bebê e segurar bem seu filho
Adaptado de jensen D, Wallace S, Kelsay P. LATCH: a breastfeeding charting system and documentation tool. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs 1994; 23-27-32.
Tabela 6-5 – Expressão do leite materno
Por que ordenhar o leite de peito ?
. separação da mãe e do bebê por doença materna ou do lactente, prematuridade, retorno ao trabalho
. infante impossibilitado de mamar (de sugar diretamente ao seio): ex. problemas neurológicos, dependência ventilatória, dificuldade com fenda palatina/lábio leporino
. incrementar ou manter o suprimento de leite materno
Métodos de expressão manual
. a escolha mais apropriada é baseada nas necessidades individuais de retirada, número de vezes/dia
. expressão manual, bomba tira-leite por bateria, elétrica (simples ou com coletor duplo – os dois seios
simultaneamente
Obtendo uma bomba
. por aluguel, verifique se os grupos de apoio à amamentação dispõem de bombas para este fim
. comprar – verifique os fabricantes (veja nomes/endereços ao final deste capítulo)
– farmácias ou lojas de material médico (geralmente alugam ou vendem sem prestar apoio)
. verifique em maternidades ou bancos de leite humano: geralmente há salas de ordenhas com bombas tira-leite disponíveis gratuitamente
Expressão do leite
. cada bomba tira-leite possui um mecanismo próprio de funcionamento; leia manual de instruções, incluindo com higieniza-la adequadamente
. lavar as mãos, verificar os componentes da bomba que podem ser laváveis, às vezes há recipientes descartáveis prontos para receber o leite humano
. comece com expressão manual para fazer com que o primeiro leite flua, diminuindo o tempo de uso da bomba
. use a bomba por 10-20 minutos ou até que o fluxo de leite comece a diminuir
. no caso de bomba com duplo coletor, você pode extrair o leite de ambos os seios simultaneamente por 10-15 minutos
. rotule cada frasco de leite materno coletado com o nome do seu bebê, a data e a hora da coleta
Estocando leite materno
. sempre dê ao seu filho o leite fresco recém retirado primeiro, e depois o refrigerado e à seguir o congelado
. se não tiver leite fresco disponível, siga as instruções sobre conservação na Tabela 6-6
Preparação para a estocagem
. escolha o leite extraído primeiro, verifique a data de possível expiração
. para degelo e aquecimento do leite materno, coloque o frasco em um recipiente (banho-maria) com água morna; pode haver necessidade de substituição da água por uma outra novamente aquecida, caso o leite não tenha chegado à temperatura ambiente
. Nunca esquente o leite em micro-ondas, bem como nunca o ferva porque pode conter “bolhas” com temperatura elevada além de compromete-lo imunologicamente
Tabela 6-6 – Instruções para estocagem do leite materno *
Temperatura Refrigerador Freezer < - 20 C Freezer profundo < - 70C
ambiente (não na porta) (da geladeira de 2 portas (unidade separada especial –
ou unidade separada) não domiciliar)
Leite materno 6 horas (refrigere 48 horas (pode 4 meses (não estoque na 6-12 meses (não disponível no
fresco imediatamente se ser estocado até porta, coloque no fundo) hospital. Envie o excesso de leite
não fôr utiliza-lo nas 5 dias; se não for para o congelar, ou considere doa-lo
próximas 6 horas) usado em 48 horas, à um banco de leite humano)
congele-o
Descongelar 1 hora 24 horas (torne a Não re-congele Não re-congele
rotula-lo após o
degelo, com data e
hora do descongela-
mento. Despreze após
24 horas se não usado
* Copyright 1998 by Children’s Hospital, Boston, MA, June 1998. All rights reservad.
(Reproduzido com permissão)
Tabela 6-7. Dúvidas e problemas mais comuns
“O meu bebê está mamando o bastante?”
Este é o maior temor das mães ! Assegure que o adequado suprimento de leite está sendo ingerido se ocorre os seguintes fatos:
. 6-8 fraldas molhadas trocadas por dia
. padrão de consistência das fezes (os bebês amamentados raramente ficam constipados)
. ganho de peso é satisfatório
. o barulho da deglutição é audível na maioria das mamadas
Rever as diretrizes LATCH (Tabela 6-3 e 6-4)
“Suplemento de vitaminas e minerais”
Na maioria dos casos, os lactentes saudáveis, à termo requerem um mínimo ou não necessitam de nenhuma suplementação.
Vitamina K
Todos os recém nascidos, amamentados ou não, devem receber uma dose de vitamina K ao nascimento
Vitamina D
Recomendado para lactentes de pele escura com baixa exposição à luz solar
Recomendado para lactentes cujas mães são deficientes
Flúor
Pela AAP, não suplementar antes dos 6 meses; 3 meses à 6 anos, suplementar, dependendo do local ou se a água é fluorada ou não 6
Ferro
A absorção pelo leite materno é excelente
Os lactentes à termo tem estoques suficientes pelos primeiros 6 meses de vida
Os prematuros podem requerer suplementos (veja Capítulo 34 – Prematuridade)
Ferro adicional deve ser recebido por alimentos ricos deste mineral no segundo semestre de vida
Tabela 6-7 – Continuação
Água
Geralmente não se recomenda, pode ser requerida em região de clima quente-úmido
O leite materno contém 87,5% de água, o que prove adequada hidratação com adequado volume ingerido
Dieta complementar do lactente amamentado
O leite materno é nutricionalmente completo até os 6 meses de vida
Pode ser iniciada a alimentação por copinho aos 7 meses, para administração de outros líquidos
Veja Capítulo 7. Desenvolvimento das habilidades de alimentação/Introdução de sólidos
Icterícia
Precoce = Icterícia da Amamentação Tardia = Icterícia do leite materno
Ocorre após 24 horas de vida Ocorre entre o 5o.-10o. dia de vida
Pico máximo no 3o. – 4o. dia de vida Pico máximo no 10o. dia de vida,
pode persistir
Associado com inadequada/infreqüentes Lactente é saudável, cresce bem,
mamadas, ganho ponderal inadequado, a amamentação vai bem,
decréscimo das evacuações, evacuações normais
recebe suplementos (água, …)
Tratamento
Determinar a causa das mamadas Procurar outras causas (ex.: doença
inadequadas hemolítica, deficiência de G6PD,
Prover o apoio necessário Pode requerer fototerapia
Encorajar mamadas freqüentes Pode ser necessário suspender a
para incrementar a produção a amamentação por 12-48 horas para
Monitorar as evacuações, estimula-las pesquisar as causas
se necessário Substituir por fórmulas antes que os
Pode requerer fototerapia níveis de bilirrubina chegue aos limites
Encorajar e apoiar a mãe na ordenha com
Bomba tira-leite para manter o suprimento
Leite
Prematuridade
O leite materno é o ideal, veja os benefícios já citados
Uso de aditivos (“fortificantes”) de leite humano pode ser requerido em prematuros com baixas reservas nutricionais
A nutriz pode necessitar de um consultor de amamentação por longo tempo, apoio para ordenha e para a alimentação de transição para a mamada direta ao seio
Pode necessitar métodos alternativos de alimentação (ex.: copinho, “finger feeding”, translactação…) até que o bebê sugue direto no seio, evitando a “confusão de bicos”
Leia Capítulo 34 – Prematuridade
AAP = Academia Americana de Pediatria; G6PD = Glicose 6 fosfato desidrogenase
Tabela 6-8 – Contra-indicações
Galactosemia
O lactente esta incapacitado de metabolizar a lactose, o primeiro açúcar encontrado no leite humano.
Este lactente deve tomar uma fórmula isenta de lactose
Fenilcetonúria (PKU)
O lactente é incapaz de metabolizar corretamente a fenilalanina. O leite materno possui pouca quantidade deste aminoácido. A alimentação do lactente deve ser alternada com uma fórmula isenta de fenilalanina para os níveis
permanecerem adequados
Tuberculose
Nutriz não tratada, com tuberculose ativa não deve amamentar
Iniciar a ordenha e desprezar o leite até 1-2 semanas do tratamento ser completado, podendo então o bebê mamar diretamente no peito
Monitorar acumulação e hepatotoxicidade da isoniazida (INH)
HIV/AIDS – Vírus da imunodeficiência humana/Síndrome da imunodeficiência adquirida
Quando os ditos substitutos do leite humano estão disponíveis, a nutriz HIV positiva pode não amamentar seus filhos para prevenir a trasmissão mãe-filho do HIV pela amamentação
Substituição da alimentação (o processo de nutrição de um lactente que não esta recebendo nada de leite materno com uma dieta que provê todos os nutrientes que ele necessita) deve ser seguro, para compensar os riscos da não amamentação
A substituição deve ser disponível, viável, e aceitável para a mãe prove-la
Educação e rede de apoio são necessários para as mães HIV positivas considerando alimentos alternativos e o risco de transmissão de HIV 7
Hepatite C
A amamentação é contra indicada em novas mães com hepatite C
Há controvérsia quando nutrizes são diagnosticadas uma vez que a lactação esteja bem estabelecida
Uso de drogas
Mulheres que usam das drogas abaixo não podem amamentar:
. anfetaminas
. cocaína
. heroína
. maconha
. fenicidina
Nicotina/mães fumantes de cigarro: contra indicado
a nicotina passa facilmente pelo leite materno
pode impedir o reflexo de descida do leite, diminuindo a produção
pode levar à cólica infantil, agitação/inquietude
caso a nutriz continue a fumar, sugira:
. limite de menos de 6 cigarros/dia
. não fumar enquanto o bebê estiver mamando
. fumar imediatamente depois de amamentar e aumentar o intervalo entre as mamadas
Bebidas alcoólicas: contra indicadas
passam para o leite materno
pode impedir o crescimento e desenvolvimento do lactente
a ingestão de grandes quantidades pode afetar a capacidade da mãe de cuidar do lactente
caso a mãe deseja ingerir uma dose, deve toma-la após a mamada e esperar 2 horas até a próxima mamada
Medicações maternas
A maioria dos medicamentos são considerados compatíveis com a amamentação.
Há um artigo da AAP 8 e textos de Hale 9 e Briggs, Freeman e Yaffle 10
Obs.: O PDR não é uma boa fonte de informação sobre drogas e lactação
Contra indicadas Efeito desconhecido/pode ser um problema
Bromocriptina Cloranfenicol
Cyclofosfamida Metoclopramida
Cyclosforina Metronidazol
Doxorubicina Tinidazol
Ergotamina Ansiolíticos
Lítium Antidepressivos
Metrotexate Antipsicóticos
Fenilhidantoína
Compostos radioativos *
PDR= Physician’s Desk Reference
* Requer temporária cessação da amamentação. Ordenha do leite materno e despreza-lo até que a radioatividade possa estar ausente do leite.
Tabela 6-9 – A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC)
Os 10 passos para o sucesso do Aleitamento Materno 11
1 – Ter uma norma escrita sobre aleitamento, que deveria ser rotineiramente
transmitida a toda a equipe de cuidados de saúde.
2 – Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para
implementar esta norma.
3 – Informar todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento.
4 – Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o
nascimento.
5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se
vierem a ser separadas de seus filhos.
6 – Não dar a recém – nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do Leite
Materno, a não ser que tal procedimento seja indicado pelo médico.
7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam
juntos – 24 horas por dia.
8 – Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9 – Não dar bicos artificiais ou chupetas a lactentes amamentados ao seio.
10- Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde
as mães deverão ser encaminhadas, por ocasião da alta do hospital
ou ambulatório.
Referências:
1 . Ryan AS. The resurgence of breastfeeding in the United States. Pediatrics 1997;99(4). URL:
<http://www.pediatrics.org/cgi/content/full/99/4/e12>.
2. Healthy People 2000: National Health Promotion and Disease Prevention Objectives. Washington(DC): Dep. of Health and Human Services (US); 1990. Publication PHS 91-50212.
3. American Academy of Pediatrics. Work Group on Breastfeeding. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics 1997; 100:1035-9.
4. World Health Organization/UNICEF. Innocenti Declaration on the Protection, Promotion and Support of Breastfeeding. Breastfeeding in the 1990s; Global Initiative WHO/UNICEF Sponsored Meeting, 1990; Florence, Italy.
5. Jensen D, Wallace S, Kelsay P. LATCH: a breastfeedinf charting system and documentation tool. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs 1994; 23:27-32.
6. American Academy of Pediatrics, Committee on Nutrition. Fluoride supplementation for children: interim policy recommendations. Pediatrics 1995; 95:777
7. World Health Organization. HIV and infant feeding: guidelines for decision makers Geneva: World Health Organization; 1998.
8. American Academy of Pediatrics Committe on Drugs. The transfer of drugs and other chemicals into human milk. Pediatrics 1994;93:137-50.
9. Hale T. Mdeications and mothers milk. 8th ed. Amarillo (TX): Pharmasoft Medical Publishing; 1999.
10. Briggs GG, Freeman RK, Yaffe SJ. Drugs in pregnancy and lactation. 5th ed. Baltimore: Williams & Wikins: 1998.
11. Protecting, Promoting and Supporting Breastfeeding: The Special Role of Maternity Services. A joint WHO/UNICEF Statement. Geneva: World Health Organization; 1989.
Fontes adicionais:
Livros e Jornais Científicos
1. Riordan J, Auerbach K. Breastfeeding and human lactation. Boston (MA): Jones and Bartlett Publishers; 1999.
2. Lawrence R. Breastfeeding: a guide for the medical profession. St. Louis (MO): Mosby-Year Book, Inc.; 1998.
3. Journal of Human Lactation
Imprint Publications, Inc. 230 E Ohio Street, Suite 300, Chigaco, IL 60611
Official journal of ILCA, quarterly
Grupos de Apoio
ILCA
International Lactation Consultant Association
4101 Lake Boone Trail
Raleigh, NC 27607
9190787-581 www.ilca.org <http://www.ilca.org>
HMBANA
Human Milk Banking Association of North America
8 Jan Sebastian Way
Sandwich, MA 02563 508-88-4041
LLLI
La Leche League International
1400 North Meacham Road
Schaumburg, Il 60173
847-519-7730 www.lalecheleague.org
WABA
World Alliance for Breatfeeding Action
NABA (North America contact)
254 Conant Road
Weston, MA 02193-1756
Certificação de Especialista em Lactação
IBLCE
International Board of Lactation Consultant Examiners
PO Box 2348
Falls Church, VA 22042
703-560-7330 www.iblce.org/
Breastfeeding Support Consultants
228 Park Lane
Chalfont, PA 18914
215-822-1281
Aluguel e informações sobre bombas tira-leite
Ameda Egnell (Hollister, Inc.)
2000 Hollister Drive
Libertyville, IL 60048
800-323-8750 www.hollister.com
Medela, Inc.
4610 Prime Parkway
McHenry, IL 60050
www.medela.com