O continuum na saúde infantil e o papel fundamental da amamentação
Summary
Não é possível pensar sobre programação metabólica fetal ideal sem levar em conta a qualidade da saúde dos progenitores no período pré-concepcional e a qualidade do seguimento realizado durante a gestação, o que inclui o pré-natal pediátrico. O estilo de vida moderno, em geral, não é compatível com bons desfechos na saúde. Uma alimentação inadequada (muitas vezes com excesso de calorias e déficit de nutrientes), a superexposição ao estresse e a inúmeros contaminantes ambientais e o uso de anticoncepcional (hormônio sintético) por períodos prolongados, são apenas parte do combo que produz um ambiente intrauterino desfavorável para o desenvolvimento de uma nova vida.
Gabrielle Gimenez
Sabemos que a saúde futura do ser humano é em grande parte definida pelo período que começa antes mesmo da sua concepção e se estende até os dois anos. Mas, quando não é possível trabalhar com prevenção na saúde pela perspectiva dos primeiros 1100 dias, existe algo a ser feito para melhorar o prognóstico desse bebê após o nascimento?
Não é possível pensar sobre programação metabólica fetal ideal sem levar em conta a qualidade da saúde dos progenitores no período pré-concepcional e a qualidade do seguimento realizado durante a gestação, o que inclui o pré-natal pediátrico. O estilo de vida moderno, em geral, não é compatível com bons desfechos na saúde. Uma alimentação inadequada (muitas vezes com excesso de calorias e déficit de nutrientes), a superexposição ao estresse e a inúmeros contaminantes ambientais e o uso de anticoncepcional (hormônio sintético) por períodos prolongados, são apenas parte do combo que produz um ambiente intrauterino desfavorável para o desenvolvimento de uma nova vida.
A Pediatra e IBCLC, Pérola Zupardo, afirma que quando estamos diante de um bebê não acompanhado no pré-natal, devemos partir do pressuposto, até que se demonstre o contrário, de que na ausência de um trabalho de prevenção, as chances de exposição à disbiose com impacto negativo para a saúde imunológica são grandes. E com isso teremos um indivíduo com risco aumentado para o desenvolvimento de uma série de doenças como, por exemplo, doenças alérgicas e sensibilidade alimentar.
Mas será que tudo está perdido?
A resposta é não! A Pediatra faz ênfase na saúde como um continuum, não sendo algo que tem um ponto final.
“Quando se fala dos 1100 dias, não é que devemos nos preocupar com esses três meses antes da concepção e aos dois anos isso acabou. Esse é um período importante de janela de oportunidade, mas os processos de alteração epigenética são contínuos. Por isso, a qualquer momento em que essa criança chegue para atendimento, seja na recepção ao recém-nascido, seja aos três ou aos dez anos, devemos ter essa concepção de contínuo para trabalhar na mudança de hábitos que favoreçam a saúde”, esclarece.
Como já mencionamos em artigos anteriores, o aleitamento materno é a prática de Puericultura mais efetiva de promoção da saúde. Como especialista em amamentação, Pérola explica que não existe fator pós-natal mais impactante em processos epigenéticos e proteção contra a vulnerabilidade de doenças do que o aleitamento materno. O que, inclusive, segundo as pesquisas mais recentes, tem sido chamado de programação lactócrina. Daí a importância de que o profissional tenha conhecimento em aleitamento materno e de que não se relativize a amamentação. As famílias precisam ser informadas do impacto da amamentação na saúde do bebê e do porquê ela deve ser mantida pelo maior tempo possível, em especial se não houve acompanhamento pré-natal adequado, visando diminuição de riscos, tanto para a saúde na infância quanto na idade adulta.
“Todos os bebês merecem ser amamentados e ter o melhor ambiente para o seu desenvolvimento. Mas quando a gente fala, por exemplo, da criança que ganha muito peso, ou que ganha pouco peso, da que está com o IMC mais baixo, ou que evoluiu com alergia alimentar, que chia, ou que apresenta transtornos do neurodesenvolvimento; esses bebês de risco precisam ainda mais do leite materno porque é o que vai ter maior impacto neste período de 1100 dias”, enfatiza.
Embora não exista uma forma de reverter completamente os efeitos da falta de prevenção em saúde, a amamentação tem o poder de ativar genes protetores que irão fazer o contrapeso na balança. Por essa razão, o aleitamento materno precisa ser promovido junto a outras medidas de saúde, melhorando todos os desfechos, mesmo que não tenhamos agido desde o pré-natal.
O continuum na saúde envolve medidas que devem ser praticadas ao longo de toda a vida e não apenas durante os primeiros dois anos. Segundo Pérola, é preciso ressignificar a saúde e enxergar e assumir a responsabilidade pela piora dos nossos hábitos que possuem um enorme impacto, além de efeito transgeracional.
“Uma alimentação saudável, com comida de verdade, a exposição solar, a vitamina N (contato com a natureza), o brincar livre, de pé no chão, a vitamina S (a sujeira do bem) são algumas das frentes nas quais precisamos trabalhar para montar esse complexo quebra-cabeça multifatorial de construção da saúde, minimizando os riscos”, conclui.
@gabicbs é Puericultora, mãe de três, editora especial do portal Aleitamento.com e autora do livro “Leite Fraco? – Guia prático para uma amamentação sem mitos“.
[Você pode acompanhar o trabalho da pediatra Pérola Zupardo no seu perfil do Instagram @draperola_pediatra.]
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