O CHORO POSSIBILITA NOSSA SOBREVIVÊNCIA
Existe uma EXTENSA literatura científica sobre a vocalização de filhotes de várias espécies de mamíferos quando separados de suas mães ou de seu grupo, incluindo as regiões cerebrais envolvidas nesse comportamento (veja lista abaixo). Os filhotes tem um sistema de alarme não-aprendido que se manifesta bem cedo e sinaliza sempre que eles se separam dos adultos, enquanto que os adultos do grupo são extremamente sensíveis a esses sinais. Se assim não fosse, nossa espécie (e a de outros mamíferos) não teria sobrevivido, pois o maior risco a nossa sobrevivência é ficarmos sozinhos (particularmente as crianças)! Recentemente, o trabalho de Eisenberger NI, Lieberman MD. (Why rejection hurts: a common neural alarm system for physical and social pain. Trends Cogn Sci., 8:294-300, 2004) mostrou em HUMANOS, que a rejeição social, mesmo provocada num paradigma experimental simples de um jogo de computador, evoca sentimentos de angústia e sofrimento e ativa as mesmas áreas cerebrais da dor física (córtex cingulado anterior). Esses resultados levaram os autores a especular que a separação social equivale a dor física na sinalização de alarme para uma situação premente de perigo. Ou seja, os achados CIENTÍFICOS corroboram o bom senso demonstrando que, quando uma criança chora ao perceber sinais de separação (visuais, auditivos e principalmente somáticos), seu cérebro está acionando o recurso máximo de alarme para uma ameaça à sua sobrevivência. Do mesmo modo, o cérebro dos adultos mais próximos dispara sinais de que a criança deve ser socorrida. A proposta de reprimir o impulso de pegar a criança no colo é tão absurda, pois viola umas das nossas reações mais básicas e fundamentais.
– Lorberbaum, J.P. et al. (1999) Feasibility of using FMRI to study mothers responding to infant cries. Depress. Anxiety 10, 99–104
– Lorberbaum, J.P. et al. (2002) A potential role for thalamocingulate circuitry in human maternal behavior. Biol. Psychol. 51, 431–445
– MacLean, P.D. and Newman, J.D. (1988) Role of midline frontolimbic cortex in production of the isolation call of squirrel monkeys. Brain Res. 45, 111–123
– Kirzinger, A. and Jurgens, U. (1982) Cortical lesion effects and vocalization in the squirrel monkey. Brain Res. 233, 299–315
– Robinson, B.W. (1967) Vocalization evoked from forebrain in Macaca mulatta. Physiol. Behav. 2, 345–354
– Smith, W. (1945) The functional significance of the rostral cingular cortex as revealed by its responses to electrical excitation. J. Neurophysiol. 8, 241–255
– Hadland, K.A. et al. (2003) The effect of cingulate lesions on social behaviour and emotion. Neuropsychologia 41, 919–931
– Murphy, M.R. et al. (1981) Species-typical behavior of hamsters deprived from birth of the neocortex. Science 213, 459–461
– Stamm, J.S. (1955) The function of the medial cerebral cortex in maternal behavior of rats. J. Comp. Physiol. Psychol. 47, 21–27
– Eisenberger, N.I. et al. (2003) Does rejection hurt: an FMRI study of social exclusion. Science 302, 290–292
Profa. Dra. Eliane Volchan
Laboratório de Neurobiologia II
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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