Amamentar é feito de várias palavras.
Eu gosto da palavra ocitocina.
É das minhas preferidas.
Apoio também.
Em suas diversas modalidades.
Apoio à mãe que amamenta.
Apoio à que não.
Gentileza não é necessariamente um termo lácteo, mas também ajuda muito.
Ordenha. Essa eu gosto.
Sucção.
Pega.
Busca.
Essas se casam como uma tríplice aliança. Uma poligamia do bem.
Sistema estomatognático eu não gosto. É grande, esquisita e sempre achei meio metida à besta, dessas que acham que não precisam se explicar, por serem únicas, insubstituíveis. Mas eu a uso aqui e ali porque amamentar não contabiliza diferenças. A amamentação socializa a ciencia.
Mas tem uma palavrinha que gosto muito.
Aprendi a ver valor nela não por se parecer com um grande gerador, mas com um parafusinho à toa no meio da grande engenhoca.
É a palavra “ainda”.
Pequenininha, não é patognomonica e aliás é quase idiopática.
Mas cai como uma luva nas conversas diárias.
Meu leite é fraco.
Eu não tenho leite.
Tenho pouco leite.
Meu bebe não quer pegar o peito.
São crises relatadas diariamente cujas respostas podem estar nas suas próprias formulações quando adicionamos essa palavrinha-parafusinho.
Meu leite ainda é fraco.
Eu ainda não tenho leite.
Tenho pouco leite ainda.
Meu bebe ainda não quer pegar o peito.
Ainda permite que o futuro possa ser moldado.
Ainda permite que o presente seja relatado não sob forma de sentença definitiva, mas de pedido de socorro.
Ainda permite usar a queixa de dor para curar a própria dor.
Ainda é uma espécie de homeopatia láctea onde o semelhante cura o semelhante através da criação de uma expectativa, de uma perspectiva.
Amamentar é feito de várias palavras.
A maioria delas dá títulos a tratados e teses, e cursos e livros.
A palavrinha que descobri e gosto muito é só um parafusinho, um detalhe.
Se eu fosse Alberto Caeiro, eu diria que as outras palavras são o Tejo.
A minha palavrinha é o rio que corre pela minha aldeia.
Como no poema:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
A beautiful photo of a pregnant mother breastfeeding her two year old toddler: Photo courtesy of Heather at MacCoPhoto.com