Brasileiras
estão mais conscientes a respeito da
amamentação
Max Milliano Melo do Correio Braziliense
Qual a posição correta de segurar o bebê na hora da amamentação?
O que fazer para evitar que os seios machuquem durante o aleitamento?
Essas são algumas dúvidas que assolam as mães, sejam elas de primeira viagem ou não. Para especialistas, no entanto, melhor que aprender errando é se informar antes. Cursos, disponíveis na rede pública de saúde, são indicados para evitar que as primeiras refeições dos pequenos se tornem um pesadelo para as mães.
Para o pediatra Luciano Borges Santiago, diretor do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), amamentar não tem segredo. Ele explica que a melhor forma de aprender as técnicas corretas de amamentação é por meio de cursos pré-natais. “Hoje existem inúmeras instituições que oferecem esses cursos, desde bancos de leites e unidades básicas de saúde a planos de saúde”, afirma o especialista. “Nesses ambientes, todas as dúvidas que as mães tiverem podem ser sanadas”, completa o médico.
Entre as questões mais comuns levantadas pelas gestantes está a produção e a qualidade de leite de cada mãe. “No Brasil, existe um mito de que o leite materno pode ser fraco ou insuficiente para amamentar uma criança, o que é uma inverdade”, afirma Santiago. A orientação da SBP é que o peito seja a única fonte de alimentação da criança até os 6 meses de idade, sendo complementada com outros alimentos depois disso.
Muitas mães reclamam que, devido à sucção do bebê, os mamilos incham, racham e chegam a sangrar. Os especialistas afirmam, no entanto, que isso não é normal. “Se alguns desses problemas acontecem é porque a criança não está sendo colocada na posição correta”, afirma Santiago. Nesses casos, sempre surgem soluções caseiras, como usar cremes hidratantes ou outros tipos de substâncias. Mas as mamães devem ficar alertas. Por ser justamente a região onde o bebê coloca a boca, o uso de determinadas substâncias pode intoxicar o frágil organismo dos filhos. A solução é procurar um profissional especializado que ajude a identificar o que está causado o problema. Normalmente, os médicos receitam óleo mineral para aliviar o incômodo.
A estudante Majoy Vergueiro, 24 anos, recorreu a um curso de amamentação oferecido de graça pelo no Hospital Regional da Asa Sul (Hras), onde recebeu todas as informações sobre como amamentar o pequeno Ian, que na próxima semana completa 4 meses. “Fui logo na segunda semana depois que ele nasceu, foi ótimo. Me ensinaram como amamentar corretamente, como segurar o bebê e me deram um óleo para ajudar a diminuir as dores nos mamilos”, conta a mãe de primeira viagem.
A confiança adquirida no curso fez a jovem passar com tranquilidade pelas primeiras semanas do aleitamento, fase em que tanto mãe quanto filho ainda estão aprendendo a lidar com a amamentação. “No início dói um pouco, mas acho que isso é fruto do momento. Logo que se pega o jeito, esse problema fica facilmente controlável. Até me deram um óleo mineral, mas acho que foi adquirindo experiência que as coisas se resolveram”, conta Majoy.
O caminho percorrido pela estudante começa a ser seguido também pela operadora de caixa Luana Honorato, 20 anos. Hoje o pequeno Eurípedes Kauan completa seu primeiro mês de vida, e a mãe ainda está aprendendo a amamentar corretamente. “As enfermeiras ensinaram como fazer, mas nos primeiros dias realmente é um pouco difícil. Até pegar prática”, afirma Luana, que no começo tinha dificuldade para amamentar o pequeno.
Apesar dos desafios iniciais, ela não desistiu do aleitamento. “Acho que é mais saudável, pelo menos enquanto estiver de licença-maternidade”, conta a mãe. Isso deve acontecer quando o bebê completar 6 meses, idade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a introdução de outros alimentos na dieta dos pequenos. “Mesmo assim, pretendo retirar leite para ele mamar em casa, e oferecer o peito quando chegar à noite”, afirma a mãe.
Consciência
Assim como Majoy e Luana, as mães brasileiras estão mais conscientes da importância da amamentação. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 41% das crianças recebem apenas o leite como alimento no primeiro meio ano de vida, conforme determina a OMS. “Há 20 anos, esse percentual era quase zero”, explica Elsa Giugliane, coordenadora da área técnica de Saúde da Criança do ministério. O tempo de amamentação também cresceu nas últimas décadas. “Hoje, em média, as crianças mamam por 18 meses. Em 1980, o período de amamentação se estendia por apenas dois meses e meio”, completa a especialista do MS.
A gestora comemora os avanços, mas admite que ainda há muito a ser feito. “Atualmente, cerca de 70% das crianças mamam no peito, um percentual bastante alto se considerarmos como era esse índice décadas atrás, quando amamentar era considerado fora de moda, e a maioria das mães recorria a fórmulas industrializadas”, afirma Elsa. Segundo ela, para que esse índice seja ainda mais alto, é preciso uma ação de toda a sociedade.
“A amamentação passa pelo chefe, que precisa liberar a funcionária para que ela possa amamentar, e pela família, que tem de criar condições em casa para a mãe ter tempo disponível. Enfim, é uma questão que vai muito além do desejo da mãe”,
conclui.
Cientes da importância do leite materno, e de seu papel na saúde dos mais pequenos, mesmo quando a criança não pode — ou não consegue — sugar o leite do peito, mães se esforçam para oferecer esse rico alimento a elas. Assim é com a técnica de enfermagem Laudiene Alves Costa, 25 anos. Seu filho Luiz Gustavo, hoje com 1 ano e 7 meses, passou por maus bocados. Com problemas nos rins e no aparelho digestivo, o garoto ficou muito tempo internado. Isso não demoveu a mãe do desejo de dar o peito. “Desde pequenininho, quando ele ainda ficava na incubadora, eu tirava o leite manualmente e dava pra ele”, conta a mãe.
Mesmo quando o menino, hoje praticamente recuperado, não conseguia engolir, o leite da mãe continuou sendo seu alimento. “Nas fases mais complicadas ele tomava o leite pela sonda. Às vezes, eu tinha que tirá-lo a cada três horas”, relembra Laudiene. Hoje com o menino tranquilo, e com a saúde estável, ela tem certeza de que faz a coisa certa. “O leite foi importante para ele ganhar peso e se fortalecer. Claro que os cuidados médicos foram importantes, mas acho que o leite do peito teve um papel fundamental na recuperação dele”, conclui.
Aprendendo a mamar
Veja como ajudar o bebê a “pegar” a mama:
» 1º – Tocar os lábios do bebê com o mamilo
» 2º – Direcionar o mamilo para o palato do bebê
» 3º – Esperar até que a boca esteja bem aberta
» 4º – Nessa altura, trazer o bebê rapidamente à mama
» 5º – A mão deve estar em forma de C — com os quatro dedos contra a parede do tórax debaixo da mama;
com o indicador apoiando a mama por
baixo e o polegar acima da aréola.
Dicas
» Verifique se o nariz e o queixo do bebê ficam junto à mama
» A cabeça do bebê deve estar alinhada com o resto do corpo; a criança não deve ficar de lado na hora de mamar
» Durante a amamentação, deve-se ouvir a deglutição, ou seja, o barulho do bebê engolindo o leite
» Atenção para a mão da mãe não ficar próxima demais do mamilo. Isso dificulta a sucção pelo bebê
N