Mil Mães Amamentando
Ana Júlia Colameo*
Ao término do XIII Encontro Nacional de Aleitamento Materno (ENAM) e do III Encontro Nacional de Alimentação Complementar Saudável (ENACS), realizados em Manaus entre os dias 24 e 28 de novembro último, computando os números que demonstraram o sucesso do evento, ficou pairando no ar a seguinte pergunta: Como centenas de mulheres se reúnem apenas para amamentar?
Essa é uma longa história. No início da década de 1990, dois grupos de mulheres que apoiavam outras mulheres na amamentação o Movimento de Incentivo Nacional à Amamentação (MINA) e as Amigas do Peito – decidiram fazer um encontro com mais grupos, como La Leche League e alguns profissionais de saúde, onde pudessem trocar experiências na promoção, proteção e apoio da amamentação. Obtiveram o apoio da Prefeitura de Niterói (RJ) e em agosto de 1991 nasceu o Encontro Nacional de Aleitamento Materno.
Inicialmente anual, Camaquã (RS), Recife (PE), depois bienal, Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), o Enam foi crescendo e recebendo apoio de organizações internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Wellstart, The Britsh Concil e Waba e nacionais como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conas) e o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan), do Ministério da Saúde, além de entidades municipais, como o Clube Camaquense, em Camaquã (RS), a Prefeitura do Recife (PE), o Instituto Israel Pinheiro, em Brasília (DF), a Sociedade de Pediatria de Brasília, entre outros.
Em 1997, o Enam, sediado em Londrina (PR), tomou ares de congresso devido à extensão dos temas tratados, aos convidados internacionais e à mobilização de mais de mil participantes. Nesse crescente sucederam-se os encontros de Salvador (BA) e Cuiabá (MT).
Em 2006, uma notícia sobre um recorde de amamentação nas Filipinas, onde cerca de quatro mil mães amamentaram simultaneamente seus bebês, deu a ideia de reunir pelo menos mil mães à beira do rio Guaíba, para iniciar o Enam em Porto Alegre (RS).
“O que nós estamos planejando é devolver o orgulho ao ato de amamentar e o respeito que as mulheres merecem por terem se comprometido com seus filhos”. A resposta das mulheres da comunidade ao chamamento para o Mil Mães Amamentando foi alentadora: quatrocentas mulheres sob um vento frio e cortante de congelar corações. Enquanto os Encontros de Aleitamento Materno se sucediam e se desdobravam em Encontro Nacional de Alimentação Complementar Saudável, ENAMzinho e ENACzinho (eventos lúdicos sobre alimentação infantil saudável, voltados para mães, bebês e crianças), em Belém (PA), Santos (SP), Fortaleza (CE), os números de mulheres iam crescendo, chegando a atingir cerca de mil e quatrocentas mães em Manaus (AM).
O Mil Mães também tem chamado a atenção da mídia, que divulga belas fotos em seus veículos de comunicação, exaltando os benefícios do aleitamento materno. A presença de atrizes ativistas pela causa que graciosamente se propõem a participar e a trocar experiências, tem dado um toque especial na disseminação de uma cultura pró-amamentação.
Nesse evento, todas as mulheres têm a oportunidade de contar suas histórias, seus obstáculos e serem aplaudidas pela garra e determinação ao superarem suas dificuldades. Amamentam seus bebês orgulhosamente, mostrando crianças saudáveis, bonitas e vistosas, uma festa para os olhos.
Sempre é bom lembrar que a amamentação agrega todas as dimensões da segurança alimentar: 1- tem uma produção que é comandada pela demanda; 2- está imediata e continuadamente disponível; 3 – é extremamente econômica; 4 – se adequa nutricionalmente ao crescimento do bebê; 5 – protege a saúde da mãe e da criança em curto, médio e longo prazos; 6 – educa para a negociação e para a paz; 7- mas depende fortemente do apoio criado pelo ambiente, regulamentado e favorecido pelas políticas públicas.
A IBFAN Brasil tem se envolvido profundamente com a organização dos Encontros Nacionais de Aleitamento Materno desde a sua criação. Seus membros não aceitam qualquer tipo de patrocínio das indústrias de alimentos infantis, mamadeiras e bicos, de laboratórios farmacêuticos, da indústria bélica, de fabricantes de cigarros e de bebidas alcoólicas, além de empresas que usam do trabalho escravo ou infantil, por entender que isto envolveria um sério conflito de interesses e uma conduta não ética.
*Ana Júlia Colameo é médica pediatra, neonatologista, mestre em Saúde Coletiva; é conselheira do Consea. Neste texto, colaboraram Marcus Renato de Carvalho, Eunice Begot e Celina Valderez Kohler. Fonte: CONSEA
Foto: 4 x 1.000 mães / aleitamento.com