Peito também foi feito pra chupar
André Bressan
Amig@s, faz já algum tempo que ando afastado desta labuta blogueira…
Bem, sejam bem vindos a 2012, e vou começar com um assunto aparentemente pouco pediátrico. Mas muito na verdade.
Estou lendo um livro chamado “Variações sobre o prazer“. Não se assuste, não é um livro proibido para menores, nem tem nada a ver com o Kama Sutra. É um livro do Rubem Alves, que trata de visões diferentes sobre o tema “prazer”.
Numa dessas variações, a Teologia, ele usa um interessante argumento de Santo Agostinho que acho que casaria bem com uma reestréia dO Pediatra.com Ele fala que as coisas da vida se apresentam expostas em duas diferentes feiras:
A Feira de Utilidades e a Feira da Fruição.
Basicamente, coisas que têm utilidade (função objetiva, não são nada em si, mas meios para se chegar a outra coisa) e coisas que são o fim em si mesmas (coisas que dão prazer, cujo objetivo são elas: a cor, a música, a alegria, uma fruta gostosa)… Mas ele admite que há coisas na vida que estão em ambas as feiras. E ele fala assim:
“Há também objetos que pertencem às duas feiras. Por exemplo: o seio da mãe é útil. Executa as funções de um mecanismo fornecedor de leite. Por meio do seio, o nenezinho se alimenta. Pertence, portanto, à Feira das Utilidades. Mas ele é também um objeto de prazer. Tanto assim que, mesmo depois de desmamada, a criança ama o seio. Como o seio lhe é negado, ela arranja um substituto (pobre!): chupa o dedo (atividade inútil. Do dedo não sai leite). Do ponto de vista da criança, o seio não é só maquineta de dar leite: ele é para ser chupado – atividade inútil que dá prazer. A criança brinca com o seio. Seio é brinquedo. Chupar é gostoso. O corpo gosta de chupar. As mães e os pais, com dó da criança e com dó de si mesmos, providenciaram um substituto: as chupetas. Para os pais, as chupetas são objetos úteis: fazem as crianças calar a boca e dormir. Para as crianças, as chupetas são objetos de prazer. Chupam as chupetas até dormindo. Esse desejo infantil vai nos acompanhar pelo resto da vida.”
Lembro quando meus filhos às vezes queriam o seio da minha esposa somente para “chupetar” – o que os fonoaudiólogos chamam acertadamente de “sucção não-nutritiva”. Porque não se trata de nutrição, trata-se de chupar o seio materno, cujo cheiro lhe dá segurança, cujo calor de lá acolhimento, cujo gosto lhe dá prazer.
Claro que num blog “pediátrico”, temos que falar de coisas sérias, e peito é mama, e sucção é nutritiva. Mas AMOR é caso sério, que se aprende na infância, de preferência com a cara enterrada no peito da mãe. Quantas vezes vi meus filhos pegarem o peito da minha mulher, puxar, olhar pra ela e soltar. Ou dar uma cabeçada no peito… claro que ela sentia dor, mas eles se divertiam…. fofinho, quentinho, seguro, não revidava… quantas vezes a minha (e todas as outras) mulheres, ao perceber que o bebê já não estava se nutrindo, entregando-se à justa exaustão, não tiraram sorrateiramente o peito (que É DELAS em última instância, e com direitos!) porque não queriam ser reduzidas a uma mera chupeta e descansar? Quantas crianças (não as minhas, não mesmo!) não receberam chupetas para OS PAIS ficarem calmos… mole, frio, sem gosto, sem cheiro… um substituto, como diz o Rubem, pobre!
Esse texto é para introduzir algumas coisas que vamos falar ao longo do ano (assim espero): amamentação, sucção, chupetas, nutrição, prazer, desenvolvimento, AMOR, vìnculo positivo, vínculo negativo.
Mas minha esperança, para esse 2012, é que caiamos de boca na vida, ressussitando, mesmo que parcialmente, esse comportamento infantil de fazer alguma coisa apenas pelo prazer de fazer. Coisas inúteis, que se encerram em si mesmas. Cuja inutilidade não faz do tempo empregado um tempo perdido, mas um tempo aproveitado.
Feliz 2012, vamos devagar, pra não perder o gosto das coisas.
Belo texto, Rubem! Se cuida.
Mas como nem todo prazer, a todo tempo e sem limite é bom, seguem algumas leitura interessantes:
Hábitos bucais de sucção não–nutritiva, dedo e chupeta: abordagem multidisciplinar.
Remoção de Hábitos de Sucção Não-Nutritiva
Um abraço.
Dr. Andre Bressan