MÃES vacinadas contra a COVID transferem proteção aos bebês através da AMAMENTAÇÃO
MÃES vacinadas contra a COVID transferem
proteção aos bebês através da AMAMENTAÇÃO
O estudo, que ainda conta com dados preliminares, analisou mães lactantes que receberam a vacina da Pfizer
Gestantes podem ser vacinadas contra a Covid?
Por Laura Pancini para Revista Exame.com
Pesquisa publicada recentemente pelo Providence Portland Medical Center, em Oregon, nos Estados Unidos, analisou se o leite materno continha anticorpos contra a covid-19 caso a mãe fosse vacinada, mais especificamente pela vacina da Pfizer com a alemã BioNTech.
O grupo de pesquisa estudou seis mães lactantes que receberam a vacina entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Todas tomaram as duas doses com um intervalo de 21 a 28 dias e, para comparação, foram analisadas amostras de leite materno antes da primeira dose e catorze dias após a segunda. Nenhuma delas tinha histórico de terem sido contaminadas pelo novo coronavírus.
Foi descoberto que, sete dias após a primeira dose da vacina, as amostras de leite materno demonstraram imunoglobulinas IgG e IgA substanciais contra o vírus da covid-19, o SARS-CoV-2. Os anticorpos IgA são comumente vistos após doenças respiratórias e o IgG é um anticorpo comum transmitido pelo sangue, que fornece imunidade.
Lactentes Amamentados por Mães Vacinadas contra a COVID ganham Proteção
Entre a primeira e a segunda dose, os níveis de anticorpos no leite materno diminuíram, mas a última dose fez com que eles aumentassem e permanecessem elevados. O estudo é relativamente pequeno e os dados ainda são preliminares, mas o resultado é promissor e mostra que bebês podem ter um certo nível de proteção, mesmo sem nenhuma vacina disponível para eles no momento.
Gestantes podem ser vacinadas?
No caso de mulheres grávidas, a Organização Mundial da Saúde fornece orientações, mas, até o momento, não há qualquer garantia ou ensaio clínico concluído que analisa a eficácia e segurança das vacinas em grávidas. Como o feto está em contínua evolução no útero, o tempo de transmissão de qualquer substância pode ter impacto variado. Um estudo sobre a vacina da Pfizer com a BioNTech em grávidas está em andamento e os dados devem ser divulgados nos próximos meses.
Ainda sem dados, especialistas recomendam vacinar grávidas
Folha de São Paulo / Ana Bottallo
As vacinas contra Covid-19 estão sendo aplicadas, na maior parte do mundo (incluindo no Brasil) somente em pessoas de maior risco de contrair a doença e adoecer, como profissionais de saúde e idosos. Mas e as gestantes, que são prioridade em outras campanhas de vacinação, como a da gripe?
Estudos clínicos que comprovem a eficácia das vacinas e sua ação a longo prazo em grávidas, lactantes e puérperas ainda não foram finalizados, mas muitas mulheres desse grupo já começaram a receber as doses do imunizante.
Isso porque muitas das profissionais de saúde podem se encaixar nessas condições ou mesmo participaram dos testes das vacinas e, no meio tempo, engravidaram.
É o caso da ginecologista e obstetra Natalia Grandini, 37, que tomou as duas doses da Coronavac no período de gestação. Ela diz que estudou bastante sobre o assunto antes de tomar a sua decisão e que estava tranquila por saber que as vacinas são seguras.
“Estou atendendo presencialmente no hospital desde o início da pandemia e fiquei muito aliviada de tomar a vacina. Não mudou em nada meus cuidados de proteção, mas sinto como se um peso tivesse sido levantado. Me sinto privilegiada e gostaria que mais gestantes pudessem ter essa tranquilidade”, conta.
Até o momento, as pesquisas científicas feitas em laboratório mostram que as vacinas de mRNA (como a da Moderna e da Pfizer) não são teratogênicas, isto é, não causam malformação ou morte do feto.
As duas vacinas atualmente em uso no Brasil, a da Oxford/AstraZeneca e a Coronavac, não divulgaram ainda dados de eficácia nesse grupo, mas a segurança de ambas as vacinas já foi confirmada, com baixa incidência de efeitos colaterais.
Em geral, o conhecimento sobre a segurança e imunogenicidade de vacinas em grávidas é bem estabelecido. No país, elas fazem parte do grupo prioritário para a campanha de vacinação contra a gripe todo ano, além de terem vacinas recomendadas especificamente para o período da gravidez, como é o caso da vacina contra coqueluche, que protege a mãe e especialmente o feto contra a doença.
No Brasil, embora as gestantes não sejam incluídas em uma das fases do Programa Nacional de Imunizações (PNI) especificamente, o Ministério da Saúde diz que as mulheres pertencentes a um dos grupos prioritários e que estejam nessas condições podem ser vacinadas após avaliação cautelosa dos riscos e benefícios da vacina.
Além disso, o ministério diz monitorar as chamadas vacinações inadvertidas, isto é, a imunização de uma gestante, seja por ela fazer parte do grupo prioritário ou ter participado em um estudo clínico no país, sem que ela tivesse ciência à época que estava grávida.
A ginecologista e presidente da Comissão Nacional em Vacinas da Febrasgo (Federação Brasileira de Associações de Ginecologistas e Obstetrícias), Cecilia Maria Roteli-Martins, explica que existem dois pontos relevantes a serem considerados quando se fala em vacinação em gestantes, lactantes e puérperas.
O primeiro é separar as grávidas do segundo grupo, pois tanto as lactantes quanto as puérperas, caso inseridas no grupo prioritário, não têm nenhuma contraindicação para a vacinação e não devem interromper a lactação após a aplicação da vacina, diz.
O segundo ponto é que as gestantes representam uma fração importante dos casos graves de Srag (síndrome respiratória aguda grave) todo ano, e isso não é diferente para a Covid-19. “Por isso há os cuidados de vacinação contra a gripe nesse grupo todos os anos no outono e início do inverno”, explica Roteli-Martins.
Segundo o último boletim epidemiológico de 2020, que contabilizou os casos de Srag de 16 de fevereiro de 2020 a 2 de janeiro de 2021, dos 10.504 casos de Srag hospitalizados em gestantes, 4.880 (46,5%) foram confirmados para Covid-19, 80 (0,8%) por influenza, 50 (0,5%) de outros vírus respiratórios e 27 (0,3%) por outros agentes etiológicos.
Para a médica, é provável que o número seja ainda maior, uma vez que os casos não especificados e investigados devem estar relacionados à Covid-19.
As complicações são maiores quando há doenças associadas —a mais comum delas é a diabetes. Quanto à faixa etária, as mais afetadas são as mulheres de 20 a 29 anos (44% dos casos) e de 30 a 39 anos (35,3%). “Para grávidas que se encaixam nesse perfil, com alguma comorbidade, como diabetes, hipertensão ou cardiopatia, a minha posição em nome da Febrasgo é recomendar a vacinação”, afirma.
A preocupação de óbito também deve ser levada em consideração, não só por complicações para a mãe, mas também para o bebê. Segundo boletim do Ministério da Saúde, a maioria dos 252 óbitos de gestantes registrados até o final de 2020 ocorreu no terceiro trimestre da gravidez (57,1%, ou 144 mortes).
Sabendo que as vacinas são seguras, a questão é saber qual é o benefício que a vacina contra Covid-19 traz naquele momento da gestação, em qual trimestre se vacinar, por quanto tempo dura essa proteção e qual o nível de proteção ao bebê.
No caso da vacina da gripe, que é sazonal, a vacinação das gestantes deve ser feita no período da campanha, que em 2020 foi de março a junho, independentemente do trimestre da gestação. Já as vacinas contra coqueluche e hepatite B costumam ser indicadas no último trimestre, pois é quando se tem mais certeza de que os anticorpos serão passados ao bebê ainda no útero.
Já para a Covid-19, a preocupação principal é a proteção da mãe, como é contra a gripe. Por isso não há, até o momento, um trimestre indicado.
Grávidas com anticorpos contra Covid-19 passaram essa proteção aos bebês ainda na barriga
Grandini avalia que o debate sobre a vacinação em gestantes deveria ser feito com mais seriedade no país e com embasamento científico. “Já foi comprovado que as vacinas reduzem mortalidade infantil, reduzem as mortes por gripe todo ano. Por que agora estamos questionando se as vacinas, uma tecnologia que usamos há muito tempo, são seguras?”, questiona.
Para ela, tomar a Coronavac foi um ganho extra porque utiliza a tecnologia de vírus inativado, já conhecida e usada há anos. “Mas eu tomaria também a da AstraZeneca por saber que ela é segura também”, diz.
Foto: Alejandro Ernesto / DPA – Picture Alliance / Getty Images.