Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação
A Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação (IUBAAM), tem por objetivo a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno através da mobilização das unidades básicas de saúde para a adoção dos “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação” da IUBAAM. Essa Iniciativa delineia um importante papel de suporte que as unidades básicas de saúde, em conjunto com os hospitais, podem desempenhar a fim de tornar o aleitamento materno uma prática universal, contribuindo significativamente para a saúde e bem estar dos bebês, suas mães, família e comunidade local.
A criação de iniciativas voltadas para o sucesso do aleitamento materno em locais de atenção básica à saúde tem sido uma preocupação comum a vários países Foi em um país da América Latina, o Chile, em 1995, que pela primeira vez se criou uma iniciativa para o sucesso do aleitamento materno envolvendo os consultórios que acompanham as mães. Outros países, como o Peru (1996), a Argentina (1996) e a Nicarágua (1997) também desenvolveram passos para a rede básica de saúde, sendo que na Nicarágua oito centros de saúde já foram credenciados enquanto “Centros de Saúde Amigos”. Até em países do 1o mundo, como no Reino Unido, em 1998, foram criados passos para que locais de atenção à saúde situados na comunidade pudessem promover, proteger e apoiar adequadamente a amamentação.
No Brasil, houve uma proposta de Unidade Básica Amiga da Criança em Londrina, em 1995. A Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação foi criada no Estado do Rio de Janeiro, em 1999, e vem sendo implementada pela SES-RJ/PAISMCA com o apoio do Grupo Técnico Interinstitucional de Incentivo ao Aleitamento Materno e dos Pólos Regionais de Aleitamento Materno. Atualmente no Estado do Rio de Janeiro já temos 44 unidades primárias credenciadas como “Amigas da Amamentação”. Estados como o Paraná e o Rio Grande de Sul estão também iniciando a implantação da IUBAAM.
Os “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação” da IUBAAM são fruto de uma revisão sistemática (de Oliveira et al., 2001) sobre as intervenções conduzidas nas fases de pré-natal e acompanhamento do binômio mãe-bebê que foram efetivas em estender a duração da amamentação. Foi criada também uma metodologia de avaliação, a partir de uma adaptação dos instrumentos de avaliação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (WHO/UNICEF, 1992). Esta metodologia de avaliação foi testada em 24 unidades básicas de saúde de várias regiões do Estado do Rio de Janeiro e validada cientificamente (de Oliveira & Camacho, 2002).
Considerando que as bases científicas necessárias já estavam disponíveis, o Ministério da Saúde constituiu então uma equipe de consultores em aleitamento materno, que passou a investir na viabilização e aperfeiçoamento da “Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação” para implantá-la em todo o Brasil. Foi desenvolvido o Curso de 24 h de Capacitação de Multiplicadores da IUBAAM, o Curso de 40 h de Capacitação de Avaliadores da IUBAAM e o material didático e de avaliação correspondentes.
Toda unidade básica de saúde (como os Postos de Saúde, os Centros de Saúde, os Postos de Saúde da Família, etc.) que tenha pré-natal e pediatria pode se tornar uma Unidade Básica Amiga da Amamentação. Para isto, deve cumprir os “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação” da IUBAAM:
INICIATIVA UNIDADE BÁSICA AMIGA DA AMAMENTAÇÃO
DEZ PASSOS PARA O SUCESSO DA AMAMENTAÇÃO
Todas as unidades básicas de saúde que oferecem serviço pré-natal e de pediatria e/ou puericultura devem:
1. Ter uma norma escrita quanto à promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno que deverá ser rotineiramente transmitida a toda a equipe da unidade de saúde.
2. Treinar toda a equipe da unidade de saúde, capacitando-a para implementar esta norma.
3. Orientar as gestantes e mães sobre seus direitos e as vantagens do aleitamento materno, promovendo a amamentação exclusiva até os 6 meses e complementada até os 2 anos de vida ou mais.
4. Escutar as preocupações, vivências e dúvidas das gestantes e mães sobre a prática de amamentar, apoiando-as e fortalecendo sua autoconfiança.
5. Orientar as gestantes sobre a importância
de iniciar a amamentação na primeira hora após o parto e de ficar com o bebê em alojamento conjunto.
6. Mostrar às gestantes e mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.
7. Orientar as nutrizes sobre o método da amenorréia lactacional e outros métodos contraceptivos adequados à amamentação.
8. Encorajar a amamentação sob livre demanda.
9. Orientar gestantes e mães sobre os riscos do uso de fórmulas infantis, mamadeiras e chupetas, não permitindo propaganda e doações destes produtos na unidade de saúde.
10. Implementar grupos de apoio à amamentação acessíveis a todas as gestantes e mães, procurando envolver os familiares.
CURSO DE CAPACITAÇÃO NA IUBAAM
O curso de capacitação da Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação tem a duração de 24 horas e destina-se a capacitar multiplicadores da Iniciativa, que o multiplicarão para toda a equipe de saúde da unidade básica (médicos, enfermeiras, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, auxiliares de enfermagem, agentes de saúde e outros) para implantar e implementar os Dez Passos para o Sucesso da Amamentação da IUBAAM. A formação dos instrutores multiplicadores do Curso da IUBAAM poderá será complementada pelo Curso de Avaliadores da IUBAAM, que tem a duração de 16 horas, totalizando 40 horas de curso.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do curso foi a problematizadora, que permite ao participante construir o seu conhecimento a partir da reflexão e análise de sua prática assistencial em aleitamento materno.
Essa metodologia parte do princípio que:
o novos conhecimentos devem estar relacionados aos conhecimentos prévios que o participante já possui;
o as experiências prévias do participante sobre o conteúdo devem ser o ponto de partida para a aprendizagem;
o deve haver uma interação entre as idéias já existentes na estrutura cognitiva do participante e as novas informações.
Este método de ensino-aprendizagem cria oportunidades de conhecimento nas áreas afetiva, cognitiva e psico-motora, favorecendo o desenvolvimento da dimensão crítico-social. Nesta dimensão se inserem as ações assistenciais em saúde nas quais se inclui a promoção, proteção e apoio à amamentação.
Problematizar é buscar relacionar um novo conjunto de conceitos e informações ao conhecimento do participante diante de uma situação que envolve múltiplas possibilidades ou alternativas de solução. O problema pede uma solução, exigindo informação, espírito crítico, reflexão e planejamento, que representam a aquisição das competências expressas nos objetivos estabelecidos ao início de cada sessão.
Nesta proposta, o participante é construtor de seu conhecimento num processo ativo, criativo e crítico, através do exercício contínuo de análise, interpretação e síntese. O participante tem compromisso com a sua capacitação e qualificação. O coordenador da sessão é orientador, condutor do processo, estimulador da dúvida e moderador do debate. O coordenador de cada sessão deverá reconhecer o participante enquanto um profissional de saúde que possui uma história de vida e uma experiência concreta de assistência à saúde e à amamentação, que precisa ser compartilhada ao longo do curso.
O processo de avaliação da construção do conhecimento deve ser uma preocupação constante, sob a responsabilidade de ambos: coordenador e participante.
Dentro dessa concepção pedagógica, o curso será desenvolvido mesclando sessões que utilizam diversas estratégias didáticas, como: a exposição, a dramatização, a demonstração, a dinâmica de grupo, a aula interativa, a aula prática e as oficinas.
Cada sessão é iniciada com uma página de rosto que contém o título, o tempo de duração da sessão, o método a ser empregado para conduzí-la, os objetivos, os recursos necessários, e a leitura recomendada para ser lida pelos instrutores e estar à disposição dos participantes. As orientações sobre como conduzir cada sessão estão escritas em itálico, sob um coração. Cada sessão possui um conteúdo teórico, para subsidiar o coordenador a desenvolvê-la, porém este conteúdo não precisa ser explorado exaustivamente com os participantes. Os conteúdos que precisam ser bem trabalhados com os participantes estão condensados como pontos chave ao final de cada sessão, logo antes da bibliografia.
O curso tem uma carga horária de 24 horas: 20 correspondem ao conteúdo teórico e 4 ao conteúdo prático. Compreende ao todo 29 sessões organizadas em 6 módulos, de 4 horas cada. O curso poderá ser realizado:
* em 3 dias inteiros (de 8 h);
* em 6 períodos de 4 horas (ex: 5 manhãs e 1 tarde, 5 tardes e 1 manhã, 6 manhãs);
O Curso poderá ser realizado também em 4 períodos de cerca de 6 horas, em 8 períodos de cerca de 3 horas ou em 12 períodos de cerca 2 horas, bastando para isto dividir a carga horária de cada módulo, tendo o cuidado de não seccionar as sessões.
Cada curso deve ter entre 18 e 28 participantes, para que todos tenham a oportunidade de interagir no processo de construção de conhecimento. Cada curso deve dispor de uma equipe de 3 a 4 instrutores (na proporção de 1 instrutor para cada 6 participantes), pois em várias dinâmicas e na parte prática do Curso o coordenador da sessão precisará do apoio de outros instrutores.
Este curso poderá ser realizado em uma unidade básica de saúde, em um hospital que disponha de atendimento primário, ou em uma Secretaria de Saúde (desde que as 4 horas de prática sejam realizadas em um local de assistência primária, onde haja gestantes, mães e bebês). A realização da prática pode ocorrer em 2 locais distintos, para que a unidade de saúde não fique sobrecarregada com excesso de participantes, os quais serão divididos em 2 grupos de 9 a 14 participantes.
Avaliação
Frente à proposta pedagógica assumida pelo curso, o processo avaliativo está embasado na avaliação da aprendizagem e na avaliação emancipatória. Na avaliação da aprendizagem, que compreende as dimensões cognitivas, afetivas e psico-motoras, o aluno é entendido como ser crítico, criativo e participativo, capaz de tomar suas próprias decisões. Dessa forma, os instrumentos de avaliação devem permitir a visualização de como as pessoas pensam ao resolver um problema. A avaliação emancipatória tem dois objetivos principais:
* a transformação do futuro, a partir da visualização das alternativas para a revisão do projeto atual;
* permitir que o participante , através da consciência crítica, imprima uma direção às suas ações nos contextos em que se situam.
Para desenvolver a avaliação serão utilizados no decorrer do curso os seguintes instrumentos:
* pré e pós teste: o mesmo teste deve ser aplicado antes e depois do curso. Dessa forma, os instrutores terão um parâmetro que indique se os principais conteúdos do curso foram compreendidos pelos participantes.
* folha de avaliação das sessões: deve ser preenchida pelos participantes após cada sessão, ou ao final de cada módulo. Esta folha procura identificar em quê cada sessão contribuirá para a implantação da Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação, bem como analisar a adequação didático-pedagógica da sessão.
* uma dinâmica, realizada ao final do curso, para apontar as atividades e os aspectos do curso que devem ser mantidos, que devem ser melhorados e os que necessitam de reformulação. Esta dinâmica visa também colher sugestões para a sua melhoria.
Todos os dados colhidos na avaliação devem ser compilados num relatório modelo (anexo 1), preenchido pelo coordenador do curso (entenda-se aqui o instrutor responsável pelo processo-pedagógico). Esse relatório deverá conter os dados coletados a partir dos instrumentos de avaliação, de forma sistematizada, e trazer em anexo todos os instrumentos respondidos. O mesmo será enviado para a Secretaria Estadual de Saúde, que por sua vez, o encaminhará à autoridade nacional competente.
Esse momento é de extrema importância no processo avaliativo, já que a análise rotineira dos relatórios dos cursos, retro-alimentará o aprimoramento do planejamento, execução e avaliação do Curso de Capacitação de Equipes de Unidades Básicas de Saúde na Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação.
BIBLIOGRAFIA
1. De Oliveira MIC, Camacho LAB. Amamentação em Atenção Primária à Saúde. In: de Carvalho, MR: Tamez, RN. Amamentação: bases científicas para a prática profissional. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan, 2002. Pág. 208-221.
2. De Oliveira MIC, Gomes, MA. As unidades básicas amigas da amamentação: uma nova tática no apoio ao aleitamento materno. In: Rego, JD (org.) Aleitamento Materno. São Paulo: Edit. Atheneu, 2001. Pág. 343-366.
3. De Oliveira MIC, Camacho LAB, Tedstone, AE. Extending breastfeeding duration through primary care: a systematic review of prenatal and postnatal interventions. Journal of Human Lactation 2001; 17(4): 326-343.
4. De Oliveira MIC, Camacho LAB. Impacto das unidades básicas de saúde na duração do aleitamento materno exclusivo. Revista Brasileira de Epidemiologia 2002; 5(1): 41-51.
5. De Oliveira M.I.C.; Camacho, L.A.B., Tedstone, A.E. A method for the evaluation of primary care unit’s practice in the promotion, protection, and support of breastfeeding: results from the State of Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Human Lactation
2003. 19(4): 365-373.