ALEITAMENTO MATERNO & VIOLÊNCIA contra as MULHERES
A discriminação e a violência contra mulheres e meninas
podem influenciar o aleitamento materno em vários
momentos da vida da mulher, da fase de bebê até a velhice.
Ao reconhecer as incoerências e a violência enfrentadas
por meninas e mulheres diariamente, a World Alliance for
Breastfeeding Action (WABA) apóia e endossa o tema do
Dia Internacional da Mulher,
“Pelo Término da Impunidade da Violência
contra Mulheres e Meninas!”
O Dia Internacional da Mulher é comemorado hoje, dia 8 de março, data escolhida pelas Nações Unidas desde 1975.
As causas e os fatores de risco de violência contra as mulheres, e as responsabilidades do Estado foram anunciadas com clareza pelo Secretário Geral, num Estudo das Nações Unidas de 9 de outubro de 2006. Ele observou que a violência contra as mulheres tem raízes nas relações estruturais desiguais entre mulheres e homens, o que não se limita a uma cultura, região ou país específico, ou a grupos especiais de mulheres na sociedade. Formas físicas, sexuais, psicológicas e econômicas de violência contra a mulher podem ocorrer numa relação de intimidade, na família, na comunidade, num arranjo do Estado, durante a após conflitos armados.
AS CONDIÇÕES e o DIREITO à AMAMENTAR não são CUMPRIDOS
No que se refere ao aleitamento, a violência manifesta-se, inicialmente, pela exclusão, através de abuso e violência físicos e psicológicos. Ainda bebê, a menina pode receber alimentação inadequada devido à preferência pelos filhos homens, o que pode levar a mãe a reduzir seu período de amamentação, motivada por pressões da família e da sociedade, na esperança de, rapidamente, iniciar uma nova gravidez capaz de resultar num filho do sexo masculino. Além disso, em locais em que é marcante a preferência por filhos homens, meninas com irmãs maiores são mais suscetíveis a negligência quando comparadas a meninos com irmãos mais velhos. Tais práticas negam à criança pequena-menina uma alimentação apropriada e o direito ao aleitamento materno, exclusivo durante seis meses e durante o uso de alimentação complementar, até os dois anos de idade e além desse período, o que é uma recomendação global no que diz respeito à alimentação de crianças pequenas.
MULHERES POR PRESSÃO SOCIAL CHEGAM a SE MUTILAR
E não é só. Atitudes voltadas aos seios femininos vêm sendo modeladas por construções patriarcais da sexualidade, levando a práticas prejudiciais, como aumento das mamas através de cirurgias estéticas, ou o “breast ironing”, praticada no Camarão (forma de modificação do corpo feminino, achatando os seios. Mais detalhes em Wikipedia). As atitudes das comunidades podem afetar a auto-estima da menina, sua forma de compreender o corpo, sua auto-imagem, bem como o tratamento dado a ela pela família, amigos e comunidade, como pessoa, normalmente limitando suas opções relativas a uma vida ativa e completa. Quando ocorre comportamento abusivo voltado a seus seios, uma garota pode desenvolver aversão ao toque durante toda a vida, o que é capaz de influenciar sua decisão de amamentar e de estar próxima do filho pequeno ao se tornar mãe. Violência e discriminação contra mulheres de parte das famílias, local de trabalho ou Estado não são interrompidas pelo fato de a mulher estar grávida ou ter dado à luz um filho. Experiências desse tipo causam estresse e ansiedade profundos, capazes de afetar a capacidade da mãe de aleitar o filho. Estresse prolongado pode levar a níveis anormalmente elevados ou baixos de cortisol (hormônio feminino) nas mães, o que pode resultar em supressão da produção de leite ou em seu atraso.
UMA NOVA ATITUDE MASCULINA é ESPERADA durante a LACTAÇÃO
Uma outra barreira ao aleitamento materno com que uma mulher pode se deparar é a idéia do parceiro de que os seios “pertencem” a ele e não a ela ou ao filho de ambos. Uma forma comum de abuso ocorre quando, no local de trabalho, não são feitas combinações que permitam à mãe o direito de amamentar, tendo elas que trabalhar por longas horas, sem qualquer preocupação dos patrões quanto à saúde da mãe ou dos filhos. Em locais em que é forte a concorrência por vagas de trabalho, as fábricas e outros locais comerciais podem se sentir impunes ao negarem a licença-maternidade paga, além de intervalos para que as mães amamentem seus bebês. Esses locais podem ainda despedir as funcionárias que engravidam ou discrimina-las, quando da contratação de mulheres.
ESTADO PRECISA GARANTIR EQÜIDADE de GÊNERO
Levando em conta o impacto das diversas formas de violência contra a saúde de meninas e mulheres e sua opção de aleitar os filhos, a WABA conclama a uma abordagem de vários alcances, envolvendo o Estado, a sociedade civil, a comunidade e a família. Os Estados não podem se dar ao luxo de agir com impunidade em relação a praticantes de violência contra mulheres e meninas; se agirem assim, estarão passando a mensagem clara de que é aceitável ou normal negar justiça às mulheres. Com tal comportamento, eles ainda reforçam as desigualdades estruturais predominantes que mulheres e meninas enfrentam diariamente. Os Estados devem, assim, concretizar esforços para garantir igualdade entre os gêneros e proteger os direitos da mulher. Eles têm que, efetivamente, acabar com as distâncias entre os padrões internacionais e as leis, as políticas e as práticas nacionais. Precisam, com firmeza, corrigir a violência contra as mulheres e exercitar sua liderança para acabar com ela.
POR uma NOVA CULTURA
A sociedade civil precisa engajar-se com seriedade nos esforços governamentais e comunitários para influenciarem as opções das famílias relativas às formas de tratamento de mulheres e meninas. Como comunidade, temos que cuidar dos jovens e esforçarmo-nos, com base em informações, para educar meninos e meninas sobre as experiências fundamentais de vida, como o nascimento, a amamentação e a sexualidade. Os familiares podem fazer coisas simples pelas mães, tais como, dizer a elas que estão se saindo bem como mães, evitar o uso de palavras violentas e abusivas contra elas, realizar as tarefas domésticas enquanto elas amamentam seus bebês, propiciando-lhes um estado mental de relaxamento.
A WABA reitera sua própria posição no sentido de que as mulheres têm direito ao aleitamento, conforme dispõe a Convenção sobre a Eliminação de todas Formas de Discriminação contra Mulheres (Convention on the Elimination of all Forms of Discrimination against Women – CEDAW) e a Convenção sobre os Direitos da Criança (Convention on the Rights of the Child – CRC), e de que todas as formas de violência contra a mulher afetam a amamentação.
Igualdade de gêneros constitui, assim, condição básica para o movimento pelo aleitamento materno.
Bibliografia:
Ending Violence against Women: From words to action Study of the Secretary General. 9 October 2006
A statement from the UN Breastfeeding Advocacy Team. 2007.
International Womens Day
BREASTFEEDING IN THE CONTEXT OF `ENDING IMPUNITY FOR VIOLENCE AGAINST WOMEN AND GIRLS
Penang, March 2, 2007
Discrimination and violence against women and the girl child can affect breastfeeding at various points in the life of a female from infancy to old age. Recognizing the inconsistencies and violence that the girl child and women face every day, World Alliance for Breastfeeding Action (WABA) supports and endorses the International Womens Day theme of `Ending impunity for violence against Women and Girls. International Womens Day will be celebrated the world over on 8th March, a date designated by the UN since 1975.
The causes and risk factors of violence against women and the responsibilities of the state were clearly enunciated by the Secretary General in the UN Study of 9 October 2006. He noted that violence against women is rooted in structural relationships of inequality between women and men and is not confined to a specific culture, region or country or to particular groups of women within a society. Physical, sexual, psychological and economic forms of violence against women can take place in an intimate relationship, in the family, in the community, within a State set-up, and during and after armed conflicts.
Regarding breastfeeding, violence manifests itself beginning with exclusion through to physical and psychological violence and abuse. As an infant, the girl child may receive inadequate nutrition due to preference for sons, which can lead a mother to cut short the breastfeeding time for her baby girl due to familial and societal pressures, in the hope of quickly starting a new pregnancy that might result in a boy. Additionally, where son preference is strong, girls who have older sisters are more likely to be neglected than boys who have older brothers. Such practices deny the girl-child adequate nutrition and the right to exclusive breastfeeding for six months and complementary feeding up to two years and beyond, which is the global recommendation for infant and young child feeding.
Further, attitudes towards the breast have been shaped by patriarchal constructions of sexuality and have led to harmful practices such as breast augmentation through cosmetic surgery or “breast ironing” as practiced in Cameroon. Community attitudes can affect a girls self esteem, her understanding of her body, her self-image and how her family, friends and community treat her as a person, often limiting her choice in living a full and active life. When sexually abusive behaviour is directed towards her breasts, a girl may develop a life-long aversion to touch, which can affect her decision to breastfeed and be close to her baby when she becomes a new mother.
Violence and discrimination against women by family, workplace or State do not stop because a woman is pregnant or is a new mother. Such experiences cause deep stress and anxiety which can affect a mothers ability to breastfeed her baby. Prolonged stress can lead to abnormally high or low levels of the hormone cortisol in mothers, which can result in suppressed or delayed milk production. Another barrier to breastfeeding that a woman may encounter is her partners view that her breasts “belong” to him and not to her or to their baby. A common form of abuse is for a workplace to make no accommodation for mothers right to breastfeed, expecting mothers to work long hours without regard to their health or the health of their children. Where competition for jobs is keen, factories and businesses may feel they have impunity to deny paid maternity leave and breastfeeding breaks to mothers, to fire women who become pregnant, or even to discriminate in hiring women at all.
Taking into consideration the impact of the different forms of violence on the health of girls and women and womens choice to breastfeed their infants, WABA calls for a multi-pronged approach involving the State, civil society, the community and the family. States cannot afford to behave with impunity towards perpetrators of violence against women and girls, for otherwise it gives the message that it is acceptable or normal to deny justice to women. In doing so, they also reinforce the prevailing structural inequalities that face women and girls every day. States must therefore make concrete efforts to secure gender equality and protect womens human rights. They must effectively bridge gaps between international standards and national laws, policies and practices. They must unflinchingly redress violence against women and must exercise leadership towards ending violence against women.
Civil society must engage meaningfully with the State and the community to influence family choices in how they treat women and the girl child. As a community we must care for our young people and make informed efforts towards educating both girls and boys about key life experiences such as birthing, breastfeeding and sexuality. Family members can do simple things for mothers, for instance tell her she is doing a good job as a mother, refrain from using violent and abusive words to her, do household chores while she breastfeeds the baby in a relaxed state of mind.
WABA reiterates its own position that women have the right to breastfeed as enshrined in the Convention on the Elimination of all Forms of Discrimination against Women (CEDAW) and the Convention on the Rights of the Child (CRC) and that all forms of violence against women affect breastfeeding. Gender equity is therefore basic to the breastfeeding movement.
References:
Ending Violence against Women: From words to action Study of the Secretary General. 9 October 2006
A statement from the UN Breastfeeding Advocacy Team. 2007.
Artigo traduzido por REGINA GARCEZ, colaboradora voluntária da Rede IBFAN BRASIL
“Mais de 25 ANOS EM DEFESA DA AMAMENTAÇÃO”
www.ibfan.org.br