Uso de leite artificial (fórmula) na maternidade influencia percepção materna quanto à amamentação
Teresa Santos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde brasileiro recomendam o aleitamento materno até 2 anos ou mais e de forma exclusiva nos primeiros 6 meses de vida do bebê e o uso de fórmulas lácteas artificiais apenas em casos onde haja contraindicação do leite materno ou recomendação de complementação por um período limitado. No entanto, estima-se que o consumo de substitutos de leite materno vá aumentar 6,8% no Brasil entre 2014 e 2019[3]. Por isso o uso de fórmulas nas maternidades é um fator que merece atenção especial, pois pode influenciar a percepção materna quanto à amamentação, de acordo com um estudo brasileiro apresentado durante a 21ª Conferência Mundial WONCA de Médicos de Família, no Rio de Janeiro.
Um estudo brasileiro
Para investigar como as mães cujos filhos receberam leite artificial na maternidade percebem o aleitamento materno, as doutoras pela Dra. Lais Santana Barbosa, médica da Prefeitura do Rio de Janeiro, Mírian Santana Barbosa, da Prefeitura de Belo Horizonte, e Isadora Marques Brum Gonçalves, da Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveram uma pesquisa qualitativa com entrevista semiestruturada. A investigação avaliou ainda o papel do Programa de Saúde da Família no gerenciamento clínico e na orientação materna nesse contexto.
Durante a apresentação, a Dra. Lais contou que o estudo incluiu seis mães que eram acompanhadas pelas equipes do Programa de Saúde da Família Machado Fagundes e Carangola, no município de Petrópolis (RJ).
A seleção das participantes foi feita a partir de amostra por conveniência, tendo como base dados das unidades básicas de saúde sobre mulheres que foram acompanhadas no pré-natal e que se encontravam dentro do período entre o pós-parto e até seis meses depois.
“As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2016 nas casas das puérperas e duraram, em média, de 30 a 40 minutos. Todas foram gravadas em áudio. Foram feitas seis perguntas bem amplas, que permitiam que as mães contassem as próprias experiências na maternidade e em casa”, disse a médica.
Alguns discursos chamaram a atenção. A Dra. Lais citou algumas percepções das mulheres quanto ao fator que motivou o uso do leite artificial na maternidade, por exemplo, parto cesáreo, prematuridade e ausência de força para sugar, bem como incapacidade do leite materno de “sustentar” o recém-nascido.
Outros aspectos de destaque dizem respeito à influência da introdução da fórmula láctea no hospital:
“Uma das entrevistadas disse que ‘talvez se não tivessem dado leite artificial na maternidade, teria menos coragem para começar a usá-lo’; outra informou que deu mamadeira ‘porque não tinha experiência de amamentar de forma correta’. Ela só conseguiu amamentar após receber orientação no posto quanto à pega”, disse a médica.
Frente aos resultados, a Dra. Lais e equipe entenderam que o uso domiciliar de leite artificial em recém-nascidos foi influenciado pela indicação na maternidade. Além disso, crenças e falsos motivos são apontados como justificativas para a introdução da fórmula láctea. Ela destacou que há perpetuação da “falsa ideia de que o bebê prematuro não tem força para sugar e de que o leite materno é insuficiente para o adequado crescimento do bebê”.
A médica lembrou que, segundo as recomendações de 2014 da OMS, as fórmulas lácteas são indicadas com base em condições da criança, por exemplo, galactosemia clássica, nascidos com menos de 1500 g, nascidos com menos de 32 semanas de idade gestacional e risco de hipoglicemia; ou com base em condições maternas, tais como: infecção por HIV, doença grave (sepse), vírus do herpes simples tipo 1 com lesões em mamas, medicações como iodo, quimioterapia, abcesso, mastite grave e uso de drogas ilícitas.
Ela apontou ainda a insegurança das mulheres quanto à descontinuidade do aleitamento artificial e a importância da atenção primária: “o apoio da equipe de saúde da família se mostrou importante na orientação da maneira mais adequada para amamentação, na descontinuidade do uso de fórmulas lácteas sem indicação verdadeira, e no incentivo ao aleitamento materno”.
Fonte: Wonca World Conference of Family Doctors – Uso de leite artificial na maternidade influencia percepção materna quanto à amamentação. Medscape. 11 de novembro de 2016.
O www.aleitamento.com lembra que se trata de um dos 10 critérios para uma Maternidade receber o título de
Hospital Amigo da Criança:
RAZÕES MÉDICAS ACEITÁVEIS para indicação de COMPLEMENTAÇÃO: Passo 6 da IHAC