Eduque com carinho:
equilíbrio entre amor e limites
(para pais e filhos)
Curitiba: Editoria Juruá, 2005
DOZE PRINCÍPIOS PARA UMA
EDUCAÇÃO POSITIVA
Princípio 1 – Amor incondicional
Princípio 2 – Conhecer os princípios do comportamento
Princípio 3 – Conhecer o desenvolvimento de uma criança
Princípio 4 – Autoconhecimento
Princípio 5 – Comunicação positiva
Princípio 6 – Envolvimento
Princípio 7 – Usar conseqüências positivas: reforçar, elogiar, valorizar
Princípio 8 – Apresentar regras
Princípio 9 – Ser consistente
Princípio 10 – Não usar punição corporal, mas conseqüências lógicas
Princípio 11 – Ser um modelo moral
Princípio 12 – Educar para a autonomia
Lidia Weber
Ilustrações: Benett
EDUQUE COM CARINHO: EQUILÍBRIO ENTRE AMOR E LIMITES
Princípios para educar uma criança com amor, regras, autonomia e respeito
SUMÁRIO
Parte I – Sobre o livro, a Psicologia e a Educação Positiva
Algumas palavras iniciais
O que queremos para nossos filhos?
Parte II – 12 princípios para uma educação positiva
Princípio 1 – Amor incondicional
Ame o seu filho e não o seu comportamento
Fortaleça a auto-estima do seu filho
Fortaleça a capacidade de resiliência do seu filho
Princípio 2 – Conhecer os princípios do comportamento
Temperamento, aprendizagem e sociedade influem em nosso comportamento
Aprenda a definir e analisar comportamentos
Entenda como uma criança a se comportar de maneira errada?
Aprenda a entender a função de determinado comportamento
Princípio 3 – Conhecer o desenvolvimento de uma criança
Resgate a infância
Conheça os comportamentos e necessidades em diferentes idades
Bebês – precisam de segurança, confiança e amor
1 e 2 anos: bebês que andam e falam – precisam explorar o mundo
3 e 4 anos: pré-escolares – precisam aprender as regras sobre o mundo
5 a 10 anos: escolares – outras pessoas são importantes
5 a 10 anos: escolares – outras pessoas são importantes
11-12: pré-adolescentes – fase de transição para a independência, aprendendo como partir
Princípio 4 – Autoconhecimento
Conhecer a si mesmo é fundamental
Qual é o seu estilo de ser pai/mãe? Que práticas educativas parentais você usa para disciplinar?
Qual o seu estilo principal: autoritário, permissivo. Negligente ou participativo?
Princípio 5 – Comunicação positiva
As palavras marcam nossa vida
Passos para uma comunicação clara
Ajude seu filho a expressar os seus sentimentos
Fale de maneira positiva
Risque algumas frases e expressões do seu repertório
Frases e atitudes positivas no seu dia-a-dia
Princípio 6 – Envolvimento
Envolva-se e participe integralmente da vida do seu filho sem ser intrusivo
Não deseje perfeição nas atividades que seu filho pratica
Tenha tempo para os filhos
Princípio 7 – Usar conseqüências positivas: reforçar, elogiar, valorizar
Apresente conseqüências ao comportamento adequado: reforce, elogie, recompense, mostre orgulho
Como reforçar o comportamento do seu filho?
Valorizar o comportamento
Princípio 8 – Apresentar regras e supervisionar o comportamento
Regras e limites são necessários para todas as crianças
Valores, regras e limites são decididos pela família
Regras devem claras, justas e terem supervisão
Regras sobre as regras
Princípio 9 – Ser consistente
As pessoas gostam de ritos e rotinas
Tenha comportamentos consistentes no dia-a-dia
É preciso coerência entre os pais
Consistência não quer dizer rigidez
Princípio 10 – Não usar punição corporal, mas conseqüências lógicas
Argumentos científicos, éticos e morais contra a punição corporal
A punição corporal funciona?
Conseqüências e danos psicológicos com o uso da punição
Alternativas à punição corporal
Princípio 11 – Ser um modelo moral
Seu filho está observando você
Trate seus filhos e seu cônjuge com respeito
Se existe respeito e amor, queremos sempre voltar para casa
Princípio 12 – Educar para a autonomia
Eduque para a autonomia: primeiro dê raízes e depois, asas
Você deve garantir a segurança dos pequenos
Amar um filho é permitir sua independência
Parte III – Um pouco de poesia e humor no desenvolvimento dos seus filhos
Os 12 mandamentos da criança para seus pais
O bebê
A criancinha que começa a andar e a falar
O menino pequeno
A menina pequena
A menina pré-adolescente
O menino pré-adolescente
APRESENTAÇÃO
“Não há um manual de perfeição, mas atualmente existem respostas claras e precisas sobre como a criança aprende a se comportar e o que é importante para o desenvolvimento infantil nas interações entre filhos e pais”, afirma Lidia Weber, autora de Eduque com Carinho.
Este livro traz o que há de mais recente em pesquisas científicas sobre educação de filhos e uma nova abordagem que se chama de Disciplina Positiva. Disciplinar é ensinar autocontrole para os filhos poderem se virar quando chegarem à adolescência e, mais tarde, na vida adulta. Disciplinar é ensinar como estar no mundo, disciplinar é educar com afeto, com carinho. Lidia é pesquisadora e tem coordenado diversos grupos para pais e para adolescentes, e compilou idéias e opiniões importantes.
Este livro traz também uma idéia revolucionária: junto com o livro para pais, há um livro para o seu filho pequeno. Com este livro para os pequenos, seu filho terá mais facilidade para entender a idéia da Disciplina Positiva. O conceito de prevenção da autora foi tão longe que ela resolveu investir também na criança que, muito provavelmente, também será um pai ou uma mãe no futuro. O livro que acompanha o Eduque com Carinho para pais, é para crianças desde a mais tenra idade: você pode ler para o seu filho, ler com o seu filho, pedir para ele ler para você, deixá-lo ler sozinho, enfim. Os lindos cartuns desenhados por Benett falam por si mesmos, e pais e filhos irão se divertir com eles.
Em verdade, Eduque com Carinho não serve somente para pais e para filhos, mas também, para as pessoas e profissionais que trabalham com crianças. É um livro que traz reflexões, histórias interessantes, exercícios para treinamento de certos comportamentos e atitudes essenciais, além de detalhar os 12 princípios da Educação Positiva embasados em pesquisas científicas. Além disso, há deliciosos textos poéticos e bem humorados sobre o desenvolvimento dos seus filhos: leias as peripécias do bebê, da criancinha que começa a andar e a falar, do menino pequeno, da menina pequena, da menina pré-adolescente e do menino pré-adolescente
Eduque com carinho indica que o exercício da educação dos filhos deve ser uma parceria entre pais e filhos. O objetivo é guiar os pais a se tornarem mais seguros e participativos e, assim, ajudarem seus filhos a se tornarem responsáveis, autônomos, competentes, autoconfiantes e afetivos.
Cap. 1 – Algumas palavras iniciais
“Aquele que ousa ensinar não deve jamais cessar de aprender” (John Cotton Dana)
“Caminhante, são tuas passadas o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar”.
(Antonio Machado)
Às vezes as pessoas perguntam se o fato de eu ser psicóloga e de estudar o comportamento entre pais e filhos traz benefícios pessoais à minha interação com meus filhos. O que posso dizer? Não resta a menor dúvida que sim! O fato de estudar, há tantos anos, este tema traz ótimas contribuições para mim, para meu marido e para nossos filhos. Torna as coisas mais fáceis. Além do mais, eu também tive a sorte de pertencer a uma família incrivelmente envolvida na vida e na arte de educar os filhos. Por uma série de contingências especiais eu tive dois pais e duas mães, os quatro muito presentes. O meu avô por parte de pai era padre (a minha religião é ucraniana ortodoxa e os padres podem casar) e, há longínquos 40 anos, ele já afirmava, com convicção, que não se devia bater nos filhos, mas educá-los com carinho. Eu nunca recebi nenhum tipo de punição corporal e, conseqüentemente, meus filhos também não. Mas não é somente a ausência de punições físicas que faz com que a educação de um filho seja exemplar. É muito mais do que isso, o que também sempre tive na minha pessoal. Quando lembro da minha infância ou quando ainda hoje converso com meus pais sobre o tema (que é freqüente), sempre vêm à tona histórias em que há valorização, orgulho dos filhos, elogios, apoio incondicional, amor. Em minha memória, isso sempre se sobressai às dificuldades ou brigas ou aos limites que nenhuma criança gosta muito de receber, pelo menos no momento em que recebe. Nós rimos muitos em nossos encontros.
Este livro pretende falar basicamente de princípios do comportamento, em especial do comportamento de pais e de filhos. Gostaria de deixar claro que o que eu vou tentar mostrar a você não é uma questão de opinião pessoal. Sou psicóloga e pesquisadora há 24 anos e estou estudando e conduzindo pesquisas específicas sobre as interações entre pais e filhos há mais de dez anos. Sempre trabalhei com a linha da Psicologia que é chamada de Análise do Comportamento, que procura desvendar, por meio de pesquisas, como as pessoas se comportam, como aprendem certos comportamentos. Assim, as orientações mostradas neste livro vão além de meras opiniões minhas e da minha vida pessoal; elas estão embasadas na ciência psicológica.
Geralmente, quando este inesgotável tema, a interação pais e filhos, entra na conversa, sempre há alguém que diz, “é pena, mas não existe um manual para criar filhos perfeitos”. De fato, não existe manual para criar filhos e nem pais perfeitos, pois este estado é impossível para a condição humana, mas estudiosos do mundo todo pesquisam com profundidade este tema há mais de 50 anos! Portanto, não há um manual de perfeição, mas atualmente existem respostas claras e precisas sobre como a criança aprende a se comportar e o que é importante para o desenvolvimento infantil nas interações entre filhos e pais. É claro que não é como ensinar uma receita de bolo, e sabemos que, mesmo seguindo exatamente a mesma receita, o bolo pode ficar muito diferente entre diversas pessoas.
Princípios de comportamento não querem dizer rigidez, inflexibilidade ou destino! O que importa é justamente a interação entre as pessoas. No entanto, gostaria de deixar claro que existem ordem e regularidade no comportamento; a vida não é feita de ações ao acaso, de sorte ou de azar, senão nem existiria uma ciência chamada Psicologia. É isso que vou tentar mostrar a você: alguns princípios básicos que modelam o comportamento das pessoas, em especial de crianças pequenas (sim, até mais ou menos dez anos é muito mais fácil de ensinar uma criança…).
Neste contexto de princípios, é preciso dizer que eles servem para todas as idades, mas é claro que lidar com adolescentes requer algumas atitudes especiais que abordarei em um futuro livro. Também é preciso enfatizar que existem valores diferentes para cada grupo de pessoas, ou para cada cultura, ou para cada família. Não é possível falar de todos os valores, todas as diferenças, então vou falar somente sobre os princípios do comportamento, sobre como ocorre a aprendizagem de uma criança, sobre o melhor modo de agir para ensinar e educar uma criança dentro dos valores que você deseja que seu filho tenha.
Quanto mais novo for o seu filho, melhor para você. Você, por certo, já ouviu inúmeras vezes que “é melhor ensinar uma criança do que consertar um adulto”, ou “é melhor prevenir do que remediar…”. É preciso começar cedo, pois a criança começa a aprender como funciona o mundo exatamente no momento em que nasce! Assim, depois de trabalhar intensivamente com pais e ouvir milhares de crianças em nossas pesquisas sobre estilos e práticas parentais, decidi que um livro para crianças deveria acompanhar o livro dos pais. Foi um gesto ousado escrever também um livro para o seu filho pequeno. As pesquisas mostram que os comportamentos se repetem de geração a geração e que há conceitos tão arraigados que as pessoas agem em função deles sem ao menos questioná-los verdadeiramente. A minha idéia de prevenção foi tão longe que resolvi investir também na criança que, muito provavelmente, também será pai ou mãe no futuro. O livro Eduque com Carinho para filhos é para crianças desde a mais tenra idade: você pode ler para o seu filho, ler com o seu filho, pedir para ele ler para você, deixá-lo ler sozinho, enfim. Você poderá surpreender-se com sua filha ao vê-la fazendo com suas bonecas as ações corretas que estou tentando ensinar para você.
A idéia do livro para os filhos é uma inovação cujo objetivo é colocar a família como um time e, principalmente, fazer a criança entender que ela também é protagonista da sua história. Ao compreender os princípios do comportamento, a criança passa a entender que é responsável pelo seu comportamento e, portanto, das conseqüências que quer da vida. Será dona do seu destino, sempre com seus pais ajudando-a, guiando-a e mostrando o caminho. A idéia é plantar firmemente a semente da Educação Positiva, com carinho e com firmeza.
Eu sei que ler um livro nem sempre é suficiente para modificar o comportamento, mas pode ser um bom começo, especialmente se você parar para refletir cada capítulo, treinar e fizer os exercícios que indico (para o seu filho também há treinamento e exercícios). Mais ou menos no final de 2002, depois de realizar dezenas de pesquisas sobre o tema pais e filhos, eu e duas alunas de graduação, muito especiais, Ana Paula Viezzer Salvador e Olívia Justen Brandenburg, resolvemos socializar o conhecimento das pesquisas internacionais, e dos estudos realizados no Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná. Decidimos montar um curso para pais! Brincando, as pessoas sempre dizem há cursos para aprender isso e aquilo, mas não há curso para ser pai e ser mãe! O que eu mostro neste livro está embasado no curso que montamos (que tem apostila e tarefas para casa) e que aplicamos em dezenas de pais em diferentes grupos, em um projeto de extensão de nossa universidade. Durante muito tempo ficamos pensando nos princípios que seriam gerais, nas atividades vivenciais que faríamos com os pais, nos vídeos que selecionamos para mostrar modelos e nos vídeos didáticos que estamos produzindo atualmente para facilitar a aprendizagem dos pais. Embora o trabalho nunca chegue ao fim, pois perfeição não existe, achamos que chegamos a um consenso no que se refere aos princípios do comportamento para se ensinar a pais. O que eu gostaria é que você pudesse participar de nosso curso vivencial, chamado, Programa de Qualidade na Interação familiar, mas é impossível atingir um número tão grande de pessoas, e, atualmente, estamos trabalhando com a idéia de formação de multiplicadores deste nosso método. Eu tenho que dizer que aprendemos muito com os pais dos Grupos. Há aqueles que são naturalmente competentes e seguem os princípios porque, em verdade, eles também tiveram pais afetuosos, interessados, e que erraram pouco.
Assim, ao finalizar este prefácio e iniciar a proposta de passar o conhecimento científico sobre criação de filhos e desenvolvimento infantil para você, gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a quem me deu origem e a quem me fez conhecer e entender o mundo, meus pais. Agradecer ao meu marido, companheiro inseparável, pai fabuloso (que me ensinou muitos princípios e valores), e aos meus filhos, absolutamente fantásticos, que continuam a me ensinar diariamente e mostrar que a vida vale a pena.
Lidia Weber é psicóloga há 25 anos e professora de cursos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Paraná há 23 anos. Tem mestrado e doutorado em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo e é coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da UFPR, onde realiza inúmeras pesquisas com centenas de pais, crianças e adolescentes sobre interações familiares. Além disso, orienta alunos e coordena Grupos de Capacitação para Pais por meio do seu Programa de Qualidade de Interação Familiar. Lidia atua como palestrante, consultora e parecerista das mais importantes revistas e jornais do país (e algumas internacionais) e tem sido convidada para participar como especialista em inúmeros programas regionais e nacionais de rádio e televisão. Além de ser presença constante em congressos científicos nacionais, Lidia já ministrou palestras a convite e recebeu prêmios de viagem para apresentar suas pesquisas em diferentes países: Argentina, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Marrocos, Portugal e Suécia. Este livro não é fruto de opiniões pessoais, mas do que há de mais recente em pesquisas científicas sobre educação de filhos.