12 atitudes que fazem a diferença na amamentação
Apesar de ser um procedimento natural, 70% das mulheres que decidem pelo aleitamento materno passam por algum tipo de dificuldade. Por isso, insista
Por Angela Senra e Malu Vergueiro. Foto Ricardo Corrêa
Amamentar é um processo natural. Mas requer paciência, disponibilidade e até bom humor para lidar com imprevistos. Se o problema não é fisiológico, não desista. Leia primeiro as dicas que seguem.
Todo mundo está cansado de saber que a amamentação é fundamental para a saúde e o desenvolvimento do bebê, mas também escuta histórias de mulheres que sofreram horrores amamentando. Algumas se adaptam à nova rotina, outras não. Isso acontece porque, apesar de ser um ato natural na teoria, na prática, o processo pode ser bem difícil. Nem a mãe nem o bebê sabem exatamente o que fazer, em que posição ficar. O bico do seio, uma parte do corpo praticamente sem função até então, passa a ser usado várias vezes por dia e fica muito sensível. E as mamas nem são transparentes ou têm graduações para sabermos quanto a criança bebeu! Nos primeiros dias em casa, sem a ajuda das enfermeiras da maternidade, os problemas podem ganhar tamanha dimensão que você vai questionar como as outras mulheres fizeram isso. Não adianta achar que na primeira mamada tudo vai correr bem, comonos filmes e nas novelas.É importante ter isso bem claro para não se decepcionar. “Como todo processo de aprendizagem, existem as dificuldades. E exige muita paciência e tranqüilidade”, diz a enfermeira obstetra Márcia Regina da Silva, coordenadora do Grupo de Apoio à Amamentação, do Hospital São Luiz, em São Paulo. Muitas mulheres pensam em parar por motivos emocionais, cansaço ou desânimo com a demora do bebê para se adaptar ao peito. Raramente o motivo é fisiológico. Para ajudar, descobrimos junto com mães, pais e especialistas atitudes que facilitam o processo de amamentação. E mostramos as pesquisas mais recentes que confirmam o valor do aleitamento. Se você insistir, no segundo mês nem vai lembrar-se de que os problemas existiram. Acredite, a amamentação vai deixar muita saudade.
Amamentar tem de ser um ato tranquilo e gostoso.
Crie suas próprias regras para dar certo
1. Prepare-se
Cursos para gestantes podem ajudá-la a ter noções sobre o que é amamentar, como funciona a produção e ejeção do leite, como o bebê deve pegar corretamente no bico
do seio. Correr atrás de informações é a melhor forma de se preparar para os desafios que podem surgir. Artifícios para tornar os mamilos mais resistentes, como passar a toalha de banho e tomar sol nos seios só devem ser feitos quando indicados pelo obstetra, pois cada mulher responde de uma forma aos procedimentos.
2. Exija o apoio da família
É imprescindível que você se sinta acolhida e apoiada por seus parentes e amigos.
Isso significa ter pessoas solícitas que não façam cobranças ou comparações e entendam que nesse momento você deve ficar disponível aos horários e exigências
do bebê. O que muitas vezes significa atrasar os passeios, deixá-la dormir ou fazer sala para visitas fora de hora.
3. Seja flexível
Você não está sozinha. Cerca de 70% das mulheres têm dificuldade na amamentação. É bom saber que não é um processo 100% fisiológico, envolve também as emoções. E depende inclusive do bebê. Às vezes, ele não consegue sugar porque é muito sonolento ou não tem tônus muscular. Se a adaptação demorar e estiver muito difícil, converse com o seu pediatra sobre a possibilidade de você ordenhar seu leite e oferecer em um copinho. Isso não vai desacostumá-lo ao peito, pois nessa situação ele não estará sugando, apenas lambendo. É uma maneira de alimentá-lo e dar tempo para que a adaptação ocorra. Você vai se sentir mais segura de ver seu filho comendo e esse sentimento pode ajudar no processo de amamentação.
4. Faça suas regras
Existem alguns procedimentos que você precisa seguir para alimentar seu filho com mais tranqüilidade, mas não dá para fazer tudo que ouviu ou leu sobre o assunto. Algumas coisas, como a melhor posição, horário ou local, você só descobrirá na prática e em alguns casos só funcionarão com você e seu bebê. O importante é que os dois se sintam confortáveis.
5. Divirta-se
Você terá de ficar sempre disponível para os chamados do seu filho, mas procure também se distrair. Quando ele dormir, vá para a cama junto ou use esse tempo para correr até a manicure ou ler um pouco. Assim que o pediatra liberar o bebê para sair de casa, aproveite para passear e leve-o junto, nem que seja até a casa dos avós
ou da sua melhor amiga. Isso vai ajudá-la a desestressar.
6. Escolha um local tranqüilo e confortável para amamentar
Nos primeiros 15 dias, procure ficar sozinha com seu pequeno, para não distraí-lo. Barulho e muita gente por perto podem agitar mãe e filho. Estudos já comprovaram que o alto índice de adrenalina, resultado de grande movimentação, pode inibir
a produção de leite. Além disso, sozinha você terá mais liberdade para tomar decisões, livre de palpites. E sempre que possível prefira amamentar seu filho em locais iluminados, para que ele fique alerta e focado no que está fazendo. Se ele não
se adaptar à posição tradicional, tente a invertida, mantendo-o na mesma posição, mas mudando de seio.
7. Cuide do bico dos seios
Embora a produção de hormônios torne os bicos mais resistentes, sempre há riscos de fissuras. Não existe método milagroso para curar isso. Para ajudar, evite lavar os mamilos imediatamente antes ou depois das mamadas. Como o leite tem efeito bactericida e hidratante, passe um pouco nos bicos após o aleitamento. Procure trocar o sutiã quando estiver molhado e só lave a região com água, sem passar nenhum produto. Se racharem, NÃO use bicos de silicone nos mamilos. Procure um consultor de amamentação ou um grupo de apoio, como As Amigas do Peito.
8. Aprenda a pega correta
Para evitar dores e rachaduras no bico dos seios, o bebê deve fazer a pega corretamente. Se ele abocanhar somente o bico, tire-o do peito e o recoloque, até que pegue também boa parte da auréola. A boquinha deve estar bem aberta, com o lábio inferior voltado para fora e o queixo encostado na sua pele. O próximo passo é monitorar a efetividade da sucção. Covinhas e barulhos não são bons sinais. Quando a criança pega o peito corretamente, o leite sai em quantidade suficiente, ela engole tranqüilamente e a mãe não sente dor.
9. Não escute tanto os palpites
Prepare-se para ouvir dicas de todo mundo. As frases mais comuns são: “Seu leite é fraco”, “Ele está com fome”, “Acho melhor você começar com os complementos”, “Passe logo para a mamadeira, é muito mais fácil”. Diante desse bombardeio, a dica é não dar ouvidos. Acredite: segundo os especialistas, palpites errados são uns dos principais fatores responsáveis pelo desmame precoce.
10. Aproveite o seu companheiro
Ele pode ajudar mais do que você imagina. Um estudo americano chegou à conclusão de que o apoio do companheiro pode ser até mais útil para a mulher do que a ajuda profissional. Pediatras americanos constataram também que mulheres cujos maridos tiveram uma aula de 40 minutos sobre como lidar com os problemas mais comuns da amamentação tiveram 67% mais chances de amamentar seus bebês por mais tempo.
11. Crie uma rotina mínima
Procure manter certa disciplina no intervalo entre as mamadas, lembrando de descansar, tomar banho e comer. Organizar as refeições é necessário ou você só vai sentar para almoçar exatamente no horário em que o bebê quiser mamar. E, com fome, ninguém consegue amamentar direito.
12. Delegue
Quanto mais responsabilidades você delegar à empregada e aos parentes, mais tempo terá para se dedicar ao seu filho. Se tiver de pensar no cardápio da semana, fazer compras, cuidar do sofá manchado ou se as roupas do bebê secaram, não terá tempo nem paciência para lidar com o processo de amamentação. Peça ajuda e deixe os outros fazerem algumas coisas por você e poupe-se um pouco para o que só compete a uma mãe, que é amamentar.
O leite materno…
Colabora para a formação do sistema imunológico e previne alergias, obesidade, intolerância ao glúten e diminui as chances de a criança futuramente fazer xixi na cama.
Melhora o desenvolvimento intelectual.
O momento da amamentação aumenta o vínculo entre mãe e filho e colabora para que a criança se relacione melhor com outras pessoas.
É mais fácil de ser digerido.
A sucção facilita a volta do útero ao tamanho original e ajuda no desenvolvimento da arcada dentária do bebê.
As pesquisas mais recentes
Crianças que mamam no peito têm três vezes mais chances de sobreviver em países em desenvolvimento, segundo a Unicef.
Mulheres que recebem orientação de especialistas em amamentação tendem a se sentir mais confiantes no papel de mãe e a fortalecer os vínculos com o bebê, segundo estudo sueco.
Pesquisa finlandesa com bebês nascidos em 1970 mostra que os que foram amamentados se tornaram menos estressados.
Estudos brasileiros confirmam que a presença do pai ajuda a aumentar o período de amamentação.
Pesquisadores ingleses indicam que a amamentação é benéfica para a pressão arterial dos bebês.
Segundo a revista americana Pediatrics, bebês amamentados até pelo menos 3 meses, mesmo com uso de complemento, são menos propensos a fazer xixi na cama no futuro.
Consultoria:
Gelsomina Colarusso, pediatra;
Marcus Renato de Carvalho, pediatra, mestre em Saúde Pública, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor do site www.aleitamento.com;
Ângela Amâncio de Ávila, psicóloga, com especialização em psicoprofilaxia obstétrica, psicologia social e aleitamento materno;
Márcia Regina da Silva, enfermeira obstetra, coordenadora do Grupo de Apoio à Amamentação (GAAM), do Hospital São Luiz;
ONG Amigas do Peito.