Summary
O mês de novembro é marcado pelas cores roxa e azul, respectivamente, em alusão ao dia mundial da prematuridade e à campanha para a promoção da saúde do homem. Mas o azul que trago aqui é do NOVEMBRO DIABETES AZUL #NDA, uma campanha global que acontece em celebração à causa do Diabetes e ao Dia Mundial do Diabetes, hoje, 14 de novembro.
Por uma feliz coincidência, assim como a SMAM - Semana Mundial de Aleitamento Materno, o tema da campanha #NDA deste ano é sobre educação: “Educar para proteger o futuro”! Então, passado o Outubro Rosa com tons de dourado, nada mais oportuno do que enfeitar o Novembro Azul com um laço dourado.
laço dourado no novembro azul
O mês de novembro é marcado pelas cores roxa e azul, respectivamente, em alusão ao dia mundial da prematuridade e à campanha para a promoção da saúde do homem. Mas o azul que trago aqui é do NOVEMBRO DIABETES AZUL #NDA, uma campanha global que acontece em celebração à causa do Diabetes e ao Dia Mundial do Diabetes, hoje, 14 de novembro.
Por uma feliz coincidência, assim como a Semana Mundial de Aleitamento, o tema da campanha #NDA deste ano é sobre educação: “Educar para proteger o futuro”! Então, passado o Outubro Rosa com tons de dourado, nada mais oportuno do que enfeitar o Novembro Azul com um laço dourado.
Isso deixa mais evidente a necessidade de melhorar o acesso à educação de qualidade e continuada para profissionais de saúde e, por conseguinte, promover informação para as pessoas voltada para o autocuidado, prevenção e conhecimento acerca dos seus direitos, e dando base para atitudes e escolhas sobre a saúde delas. E vejamos quantas relações há em comum com esses dois temas, AMAMENTAÇÃO e DIABETES, e como a EDUCAÇÃO em saúde pode impactar nas taxas de amamentação e na prevenção do diabetes.
LACTANTES têm menos chance de ter Diabetes
Assim, aproveitemos o ensejo e comecemos por enfatizar os custos da não amamentação e seu impacto no diabetes. Já está bem documentado que nutrizes têm menor risco de desenvolver diabetes mellitus (DM) tipo 2 e que este benefício se estende ao bebê no que se refere ao DM tipo 1 e tipo 2.
Os estudos têm demonstrado que a amamentação poderia prevenir 58.230 mortes de mulheres por DM tipo 2. Estima-se que os custos do tratamento para diabetes tipo 2 das mulheres sejam da ordem de US$254 milhões anualmente devido a não amamentação.
LACTENTES amamentados têm menor risco de desenvolverem Diabetes
O fato do leite materno ter um teor maior de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LCPUFAs) é um dos fatores que têm sido propostos para explicar a associação entre aleitamento materno e a prevenção do diabetes tipo 2, já que há relato de que o aumento do níveis de LCPUFA na membrana do músculo esquelético está inversamente relacionado à glicemia de jejum. O aleitamento materno também está associado à diminuição das chances de obesidade, e essa associação pode ser outro mecanismo causal para a associação com DM tipo 2.
Outros mecanismos também são considerados na proteção da amamentação no desenvolvimento do diabetes. Bebês alimentados com fórmula têm um crescimento pós-natal mais rápido, isso programaria o desenvolvimento de fatores de risco metabólico, incluindo diabetes tipo 2. Além disso, a concentração de insulina é maior entre os bebês alimentados com fórmula, o que levaria à falência das células beta e ao desenvolvimento dessa patologia.
Assim, quando um profissional da saúde, seja qual for, orienta a mulher que está gestante sobre os benefícios da amamentação para ela e para seu bebê, ele está contribuindo para uma menor prevalência do diabetes e aumentando as taxas de amamentação.
E a Diabetes na gestante?
Importante destacar que esse benefício também tem sido relatado em estudo para mulheres que apresentaram diabetes mellitus gestacional (DMG). Uma coorte retrospectiva encontrou relação importante entre a amamentação e a diminuição do risco de desenvolver intolerância à glicose e/ou DM tipo 2. Quem amamentou teve chance 73% menor de desenvolver alterações nos resultados do Teste Oral de Tolerância à Glicose pós-parto. A média da glicemia de jejum puerperal do grupo que amamentou foi menor, quando comparada às pacientes que não amamentaram, enquanto a glicemia após 2h de sobrecarga de glicose foi maior no grupo que não amamentou. Também a Federação Internacional de Diabetes (IDF) inclui o aleitamento materno entre as principais recomendações para o manejo da mulher após uma gestação com DMG, destacando a comprovação do benefício para a saúde, inclusive a prevenção do diabetes na mãe.
Sob essa ótica, é necessário que os profissionais que assistem gestantes e puérperas com seus bebês saibam que o diabetes na gravidez está associado ao atraso da lactogênese, o que pode dificultar o início da amamentação para estas mães e levar a uma maior dependência da alimentação com fórmula no período inicial após o nascimento. Isso tem implicações clínicas importantes, porque a suplementação de fórmula hospitalar tem sido associada à interrupção precoce do aleitamento materno em mães que pretendem amamentar.
Enfatiza-se mais uma vez, dessa forma, a importância da educação abraçando as duas causas – AMAMENTAÇÃO & DIABETES, pois, se estamos diante uma condição previsível, é necessário que os profissionais tenham esse olhar e que a intervenção para prevenir um desmame precoce, e muitas vezes, iatrogênico, seja o mais precoce possível.
Que tal um “Plano de Amamentação” no pré-natal?
Nessa vertente, além de abordar já no pré-natal as vantagens da amamentação para a mulher e para seu bebê, como exposto anteriormente, e sobre o possível atraso da apojadura em decorrência do diabetes, vale considerar a elaboração de um plano de amamentação (veja esse folder da Prefeitura de Piracicaba) com a mulher como uma poderosa ferramenta para o profissional fortalecer a confiança e empoderá-la na sua capacidade de alimentar seu bebê. Um plano de amamentação que contemple condições que favoreçam o aleitamento, especificamente ainda no ambiente hospitalar, pode contribuir para o estabelecimento da produção adequada de leite materno: contato pele-a-pele, golden-hour, alojamento conjunto, apoio para extração do colostro caso a mãe seja afastada do bebê, ou que este tenha alguma dificuldade inicial para sugar e, se verificada a real necessidade de complementação, que este seja oferecido em copo aberto.
E a hipoglicemia neonatal?
Além do possível atraso na apojadura, o uso dos ditos substitutos do leite humano é frequente nos casos de DMG devido à hipoglicemia neonatal. Em muitos estudos, o nível de glicose no sangue de recém-nascidos é verificado logo após o nascimento, embora o significado patológico de níveis baixos de glicose no sangue imediatamente após o nascimento, na ausência de sintomas específicos, ainda seja questionado. O que se sabe é que o aleitamento materno oportuno (não tardio) e frequente continua sendo a chave na prevenção da hipoglicemia. Portanto, os bebês de mulheres com diabetes devem ser mantidos juntos da mãe, na ausência de complicações significativas que requeiram transferência para uma unidade neonatal de cuidados especiais.
Extrair colostro durante a gestação?
Ainda no que tange às questões do DMG e aleitamento, não poderíamos deixar de evidenciar a ordenha antenatal de colostro, como já bem tratado pela Pediatra Flavia Schaidhauer neste Portal, que pode ser uma estratégia promissora para evitar uso de substitutos de leite humano e melhorar as taxas de início de aleitamento e redução de desmame precoce. Já há estudos demonstrando que mulheres que coletam colostro com sucesso no pré-natal se mostraram mais confiantes e psicossocialmente preparadas para a amamentação pós-natal. No entanto, apesar dessa prática ser promovida por parteiras, educadores em diabetes e obstetras, a eficácia da coleta de colostro pré-natal para melhorar os resultados neonatais não foi bem investigada.
“Fortalecer a Amamentação: educando e apoiando” e “Educar para proteger o futuro” nos fazem ter motivos de sobra para colocar nuances de dourados no Novembro Azul e coloca em evidência como a educação de qualidade e continuada para profissionais podem trazer mais saúde para as pessoas.
Artigo da Ana Paula Vioto, Educadora em Diabetes, Nutricionista do CPAN – Coordenadoria de Alimentação e Nutrição e do CADME – Clínica de Atenção às Doenças Metabólicas da Prefeitura de Piracicaba, SP.
Referências:
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