DESMAME – DECISÃO MATERNA CONSCIENTE OU INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE?
Soraia Drago Menconi
Pediatra e Neonatologista
O tema DESMAME é interessante de ser discutido, olhando sob a ótica de uma sociedade que, atualmente, tem sido muito incentivada a amamentar, mas que não recebido investimentos em tecnologia humana na mesma proporção que se exige das mães, o aleitamento.
Toda vez que um pediatra ou um defensor do aleitamento materno discorre sobre o assunto, na tentativa de angariar mais uma mãe para o time das que amamentam, uma série de questionamentos afloram e as dúvidas não param de brotar nos corações e mentes das mulheres envolvidas com o bebê.
Interessante constatar que as pessoas mais velhas, ou seja, avós,
bisavós e tias, que deveriam ter mais conhecimento e acalmar as mães jovens sobre o tema, incentivando o aleitamento materno, são as primeiras a se sentirem ansiosas e duvidarem dos benefícios do ato. Se observarmos um pouco a história recente, não estranharemos tal fato, pois estas gerações, na grande maioria, não foram amamentadas, então, como saber apoiar?
MULHERES ATAREFADAS
Outro agravante é que somos imediatistas. Temos que saber exatamente quanto o filho mamou (em volume), temos que voltar rapidamente ao trabalho, tem que participar das reuniões sociais, tem que estar magras rapidamente, tem que estar prontas para as solicitações familiares, enfim, temos que ser supermulheres, mas não somos apoiadas para sermos mães por inteiro. Sobra pouco tempo para olhar, observar o filho, ficar atenta para suas solicitações. A conseqüência: insegurança e necessidade de realizar atos que nos dêem a sensação de estarmos seguras e com aceitação pelos nossos pares.
EM que IDADE PARAR de AMAMENTAR?
Voltando a questão do desmame que é muito polêmica e apresenta várias informações equivocadas, vários especialistas têm sido levados a realizar trabalhos científicos, na tentativa de avaliar a melhor idade para que ele ocorra.
Por exemplo: a Academia Americana de Pediatria orienta desmame já aos 12 meses de idade, enquanto a Organização Mundial da Saúde e UNICEF recomendam até 2 anos ou mais. Estudos antropológicos observam crianças amamentadas até 3 a 4 anos. Outros estudos, comparando grandes mamíferos, onde estas espécies amamentam até que o peso de seus filhotes tripliquem ou quadrupliquem o peso de nascimento, poderíamos amamentar nossos filhos até 2 anos e 6 meses, aproximadamente. Outros trabalhos mostram que nossos filhos poderiam ser amamentados até 7 anos, baseados no crescimento corporal (onde alguns atingiriam 1/3 do peso do adulto nesta fase da vida).
Enfim, vários outros trabalhos vêm sendo publicados na tentativa de nortear o desmame, mas de fato, até o momento, não há consenso.
Principalmente se pensarmos na seguinte questão: o que a sociedade pensaria de uma mãe que resolveu amamentar até os 7 anos de idade? Curiosamente, uma criança com chupeta ou mamadeira até esta idade não nos faria ficar tão incomodadas (não é mesmo?).
Bem, atualmente, a recomendação é que as mães amamentem até o 2 anos e 6 meses ou mais, se assim desejarem.
DESMAME ABRUPTO?
Outra questão que também fica sem resposta seria sobre a interrupção – lenta ou abrupta. Obviamente que há casos onde os especialistas em aleitamento devem ser consultados para que o desmame ocorra, mas de uma maneira geral, as próprias crianças já iniciam o desmame à medida que iniciam a introdução dos novos alimentos. Uma criança de 2 anos, normalmente mama duas a três vezes ao dia. O que ocorre, é que as mães ficam com dificuldade de dizer não as crianças e estas acabam ficando “penduradas” no peito o dia todo, tirando a roupa das mães em locais públicos, chorando alto ou ficando irritadas com a negativa da mãe. Neste caso, a dificuldade é em dizer não à criança e suportar sua irritação com a mãe, uma questão mais educativa do que propriamente de aleitamento. Recomendo sempre a retirada gradual que mantém tanto mães quanto bebês tranqüilos e sem a sensação de abandono.•.
Algumas mães sentem-se menos amadas por seus filhos quando estes desistem de mamar, principalmente aquelas que decidiram amamentar até os dois anos ou mais, e a criança, por livre decisão, abandona o peito. Outras se sentem mães maldosas por não deixarem seus filhos mamarem sempre que solicitam. Na realidade, entendo que a discussão sobre o momento do desmame, vivenciado pela família – mãe, pai, bebê deve ser discutido e os familiares devem apoiar a decisão da mulher, o que, na maioria das vezes, não ocorre. São muitas informações e as mães acabam cedendo àquela pessoa de maior influência, nem sempre com conhecimento correto para a melhor decisão e com o apoio necessário.
PRECISAMOS COMPENSAR?
Outra observação é se deveria haver uma compensação para a criança por estar sendo finalizado o aleitamento. Veja que interessante, as mãe não tem que compensar o filho pelo desmame. O que deve ocorrer é uma troca de experiências emocionais que vai deixar de ser de uma mãe para um bebê e passar a ser de uma mãe para uma criança que está crescendo, se desenvolvendo emocionalmente e que deve ser tratada como tal. Talvez esta criança não precise mais do peito e do conforto dos braços da mãe durante o aleitamento, mas sim do abraço, da leitura de uma história, das brincadeiras apropriadas para a idade, do conforto da presença dos pais junto a ela, enfim, a criança vai crescendo e as necessidades se modificando. Não deve ser pensada como compensação e sim como uma evolução das relações.
PRÓPOLIS nas MAMAS?!
Para o desmame não há necessidade de artifícios como falar que está com peito machucado, colocar pimenta ou outras coisas como estas. É tão difícil falar a verdade para uma criança e sustentar esta verdade? Será que as mães não estão subestimando a inteligência de seus filhos e se infantilizando para “facilitar” o desmame para si próprias? Será que não fica mais fácil falar: agora não é hora de mamar, você poderá mamar mais tarde, antes de dormir ou ao chegar a casa?
Pensem nisto, discutam com profissionais, façam rodas de amigas com profissionais para que possam ter mais argumentos e se fortalecerem para que as decisões sejam mais tranquilas.
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