Desafios da amamentação “prolongada”
*Gabrielle Gimenez @gabicbs
Fala-se bastante sobre os benefícios da amamentação, em especial dentro dos primeiros seis meses de vida (período recomendado de aleitamento materno exclusivo), o que leva muita gente a crer que essa seria a duração ótima da amamentação.
No entanto, a recomendação da Organização Mundial de Saúde, endossada pelo Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria, é que o aleitamento materno deve durar “até 2 anos ou mais”, sendo complementado com outros alimentos a partir dos 6 meses de vida do lactente. E é sempre bom lembrar que não existe tempo máximo ou ideal recomendado para o seu término. Isso fica ao critério da mãe e da criança.
Amamentando na cultura do desmame
Quando lemos sobre todos os benefícios que a amamentação proporciona à mãe, ao bebê, à família, à sociedade, ao meio ambiente e ao planeta, é difícil, num primeiro momento, imaginar que alguém escolhesse ficar de fora. Mas o fato de viver numa sociedade de consumo pró desmame constrói uma realidade para a amamentação que a torna muito desafiadora, em muitos casos, sequer havendo um direito de escolha.
Na teoria, está tudo muito bem documentado e respaldado pelos principais organismos de saúde. Na prática, nascem os dentes, o bebê começa a introdução alimentar e as pessoas, incluídos muitos profissionais da saúde, não veem necessidade dele continuar mamando. A amamentação é taxada de “prolongada”, termo que dá a entender que já está mais do que na hora de repensar a sua continuidade. Nesse contexto, a mãe que decide seguir amamentando pode se sentir só, hostilizada e incompreendida.
Obstáculos culturais
Amamentar para além do primeiro ano de vida se torna um desafio e tanto, sendo os obstáculos, em sua maioria, culturais:
. A extensa lista daquilo que a mãe lactante “não pode fazer” é um dos motivos para o abandono precoce da amamentação, pois se torna um fardo pesado demais para ser carregado por “tanto tempo”. Curiosamente, as evidências apontam que poucas coisas ou práticas são realmente incompatíveis com a amamentação. Muitas das restrições impostas às mulheres nessa fase nascem do preconceito social ou de crenças sem fundamento.
. A ideia de que o leite materno perde a sua eficácia com o passar do tempo também é um grande obstáculo. Quantas mulheres não escutam, até dentro dos consultórios médicos, que seu leite a essa altura já virou água ou que não tem mais nenhum benefício para a criança, entre outras mentiras? Porque, sim, no final das contas não passam de opinião pessoal sem nenhuma base científica, já que o leite materno jamais perde suas propriedades. Mas é muito desgastante levar a amamentação adiante quando somos levadas a crer que nosso esforço é inútil.
. A estranheza de ver uma criança “grande demais” no peito leva a perguntas insistentes sobre “quanto durará a amamentação afinal?”. Por outro lado, se essa mesma criança usasse chupeta ou mamadeira, dificilmente seria criticada por isso. São as incoerências da cultura do desmame, que tornam a amamentação um eterno remar contra a maré.
. A amamentação termina levando a culpa de quase tudo. O bebê ainda não dorme a noite toda? Culpa da amamentação. Ele não “limpa” o prato na hora do almoço? É porque mama. Ainda não fala? Não desfraldou? Está tendo dificuldade para se adaptar na escolinha? Faz birra? Culpa do peito. O casal não está bem? A amamentação é a responsável… E claro, o desmame é vendido como a solução mágica ideal para todos esses “problemas”.
A lista poderia continuar.
Menos críticas, mais apoio!
A maior desvantagem da amamentação “prolongada” é o preconceito e a exclusão social que mães que amamentam crianças mais “velhas” podem sofrer. Isso está relacionado à perda da cultura da amamentação e à sua substituição pela cultura da mamadeira. Sobram críticas e falta apoio efetivo. Muitas terminam abandonando a ideia inicial de amamentar até o desmame natural por não aguentarem a pressão social e profissional para o término da amamentação.
Segundo dados do ENANI 2019, a prevalência de aleitamento materno continuado aos 12 meses vem aumentando, no Brasil é de 53,1%. E para quem já viveu na pele a experiência de amamentar uma criança que já anda e fala, sabe que por trás desses números existe muita resistência. Muita mesmo!
Os benefícios da amamentação são inúmeros, e inexistem malefícios. Assim, não há nenhuma razão médica para desestimular a amamentação, recomendar ou impor o desmame com base na idade. Em outras palavras, deixem as mães amamentarem em paz. Deixem as crianças mamarem pelo tempo que quiserem e precisar.
*Gabrielle é mãe de três, editora especial do portal aleitamento.com e autora do livro
“Leite Fraco? – Guia prático para uma amamentação sem mitos“
Leia mais sobre Amamentação estendida aqui no aleitamento.com
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