Estudo indica que crianças de mães com sintomas de depressão pós-parto apresentam risco 80% maior de interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo
(ilust.: Emory)
Aleitamento e depressão
Uma pesquisa feita na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) indica que crianças de mães com sintomas de depressão pós-parto apresentam risco 80% maior de interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo.
A pesquisa apontou ainda que no primeiro mês de vida a interrupção precoce de aleitamento materno foi cerca de 60% mais alta entre as crianças que moravam em condições ambientais insatisfatórias. O estudo foi publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, editada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz.
Entretanto, de acordo com Maria Helena Hasselmann, professora do Instituto de Nutrição da UERJ e uma das autoras do artigo, a suspeição de depressão pós-parto foi mais determinante na interrupção da amamentação do que as variáveis socioeconômicas.
“Quando se analisa a escolaridade e as condições ambientais de moradia em relação à manutenção do aleitamento materno exclusivo durante os dois primeiros meses de vida, os fatores socioeconômicos não se mostraram tão importantes como os aspectos psicossociais”, disse à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisadora, a depressão pós-parto (DPP) pode representar não somente os perfis psicológico-emocionais maternos, mas também aspectos relacionados a dificuldades em amamentar. Outra possível explicação estaria atrelada à relação que a DPP tem com os cuidados maternos e a interação mãe-filho.
“Sintomas de depressão no pós-parto imediato podem levar à interrupção precoce do aleitamento em virtude de sentimentos de baixa auto-estima e auto-confiança, o que pode gerar na mãe uma percepção exagerada das dificuldades para amamentar. Isso sugere que mães com DPP podem perder a confiança em seu papel materno, deixando de perceber os benefícios da amamentação”, explicou.
O estudo analisou variáveis demográficas, socioeconômicas, maternas (como número de consultas pré-natais) e condições de nascimento, entre outras. Participaram 429 crianças recém-nascidas no período de junho de 2005 a dezembro de 2006 em Unidades Básicas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
As crianças participaram de três etapas de coleta de dados. A primeira foi feita com 20 dias ou menos após o nascimento. A segunda durante o primeiro mês de vida e a terceira no segundo mês de vida.
Uma das limitações da pesquisa, segundo Maria Helena, é a adesão ao seguimento. As crianças que não prosseguiram corresponderam a 13,2% do total no primeiro mês e a 28,9% no segundo mês de vida. “Entretanto, não se observou diferença significativa na proporção de mulheres com sintomas depressivos entre aquelas que não foram acompanhadas e as que permaneceram no estudo”, afirmou.
A suspeita de depressão pós-parto, principal
variável exposta no estudo, foi medida usando uma versão em português da Edinburgh Post-Natal Depression Scale, aplicada diretamente junto às mães, utilizando-se cartelas para facilitar as respostas. Esse questionário é composto de dez questões, que cobrem itens como sintomas de humor, distúrbio do sono, perda do prazer, idéias de morte e suicídio, diminuição do desempenho e culpa.
Apesar de todos os indícios, a professora da UERJ aponta que não é possível associar o abandono da amamentação exclusivamente à depressão pós-parto. Segundo ela, o estudo mostrou que outras características foram importantes, como as condições de moradia, se a criança nasceu prematura ou não e a existência de laços sociais. “Além disso, o trabalho indicou que a DPP aumenta a chance do desmame, mas o desmame precoce continua ocorrendo em diversas situações em que a mãe não apresenta DPP”, ponderou.
Das 429 crianças, a prevalência inicial da interrupção do aleitamento materno exclusivo foi de 20,8%. Entre as 295 crianças que mantiveram o leite materno como alimentação exclusiva no primeiro mês, cerca de 33,2% apresentaram risco de interrupção. A incidência acumulada de interrupção precoce foi de 57,9% no segundo mês de vida.
Os achados, segundo Maria Helena, evidenciam a importância da saúde mental materna para o sucesso do aleitamento materno exclusivo. “É importante que os profissionais de saúde que lidam com as mulheres nesse período possam ter um olhar diferenciado para a saúde mental dessas mães. Os resultados desta pesquisa poderão contribuir para o desenvolvimento de ações de promoção de saúde, tanto em relação à DPP como no incentivo à prática da amamentação exclusiva”, disse.
Para ler o artigo Symptoms of postpartum depression and early interruption of exclusive breastfeeding in the first two months of life, de Maria Helena Hasselmann e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.