MINHA FILHA COM FENDA PALATINA ! ?
Minha filha, Désirée Valentine, nasceu com fenda palatina.
Não é para descrever o nosso desespero, o desconhecimento sobre o assunto, o choque inicial, que escrevo.
Ela é a minha quarta filha : Désirée, de muito desejada e Valentine, porque é uma guerreira
Nasceu em hospital particular, em Niterói.
Nunca vou me cansar de dizer que o despreparo da classe médica em geral para a patologia é um fato assustador.
Saímos do hospital sem nenhum tipo de orientação para o assunto e não fosse a pediatra da família, teríamos perdido a nenen em seu 5o. dia de vida.
No dia seguinte ao do seu nascimento, ainda não tinham trazido minha filha para mamar!!
Um clima esquisito no ar, meu marido se sentou do meu lado, afinal e me deu a notícia.
Na hora, não assimilei muito bem, não sabia nada sobre o assunto. Queria era minha filha em meu seio.
Assim que me livrei daquele aparato de sondas e soros, me levantei e fui ao berçário. Queria ver de perto quem tinha decidido por nós duas que ela não tomaria leite materno e, muito mais, o indispensável colostro.
Eu era uma leoa desconfiada, não estava exatamente simpática.
Quando olhei pelo vidro, vi minha filha no colo de uma enfermeira, que lhe dava leite artificial em um chuquinha e a coisa que mais me marcou foi a quantidade de leite que saía pelo seu nariz.
Nem pedi licença e entrei. Perguntei porque não haviam levado a minha filha para mim e ela respondeu que o médico não sabia se ela poderia ser levada ao seio
Como se impossibilidade de sugar fosse sinônimo de impossibilidade de ser levada ao seio.
Bem, levei minha filha para o quarto e começamos uma luta que está sendo escrita em um livro que publicarei .
Na verdade, Désirée não tem força intra-oral e realmente insistir em amamentação convencional (inventei vários termos…) é bobagem, só trará prejuízos para ela.
Mas o que eu ia fazer com o leite que pingava, jogar fora, doar?
Não.
Estou escrevendo para dizer que desde que ela nasceu, tiro leite com duas bombas elétricas, uma em cada seio.
A ordenha elétrica dói muito, é diferente você deixar leite porque vai sair ou trabalhar e você sustentar uma amamentação exclusiva na bomba. Dá náuseas, o mamilo é puxado, esticado, ferido, você sente náuseas.
Também é difícil abrir mão do papel de aconchegá-la ao seio e passar a ser muito mais a provedora.
Tem que querer, tem que amar com uma força que passe por cima de tudo.
Nunca desisti.
…
Hoje, aos nove meses, Désirée toma leite materno.
Escolhi o que é melhor para ela, dentro das condições possíveis: o leite materno, o leite que está em meus seios e que não me pertence.
Somos instrumentos apenas, devemos entregar essa riqueza aos seus verdadeiros donos, que são os nossos filhos.
Muito recentemente, descobrimos que Désirée, além da fenda, tem que fazer correção cirúrgica cardíaca.
Doeu tudo de novo, ela é muito pequena ainda, já vai sofrer muito mais do que já sofre desde que nasceu, a cirurgia da fenda não será fácil.
Mas ela toma leite materno…
Agradeço a Deus o fato de não ter desistido.
Bem, tem mais uma coisa, uma força para as mães:
Uso próteses de silicone nos seios. Nunca aceitei a afirmação de que, por isso, não poderia amamentar.
Sei que a amamentação está na nossa determinação e responsabilidade.
E principalmente, no amor que sentimos pelos nossos filhos.
Désirée não nasceu tão maravilhosa e perfeita como sonhávamos…
Por isso mesmo merece receber o que é seu, pelo maior tempo possível.
Um amor incomensurável e todo o leite materno que eu puder lhe dar.
Rosah Lucia Baêta de Hannequim
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Niterói/RJ
BRASIL