Por que eu tenho muito leite….
Dydy*, de Piraí, RJ
As pessoas que me vêem amamentar – sim, porque faço publicamente sem vergonha alguma-, sempre se surpreendem com a quantidade de leite que ainda tenho, 11 meses após o parto.
É também uma bela oportunidade de dizer, cheia de graça, que amamentei o meu primogênito até os 5 anos, quando já estava grávida da minha caçula.
Mas enfim… eu lhes respondo…
Eu tenho muito leite, por causa de uma questão a princípio meramente biológica: eu sou mãe.
Depois vem a cultural: eu quis amamentar.
E depois vem a explicação pessoal: eu acreditei que poderia. Acreditei que meu leite era melhor para meus filhos do que o leite de qualquer outra animal, porque eu não era uma mulher deficiente.
Confiei sem restrições que a natureza era sábia e jamais comprei uma mamadeira, uma lata de leite “infantil” ou uma “chupetinha para acalmar”. E hoje lhes digo orgulhosamente, nunca preparei uma mamadeira.
Porque meu corpo lhes bastou por muito tempo. E depois deste tempo, estes apetrechos já não eram mais necessários.
No início, para mim não foi mais fácil amamentar do que para ninguém. Tive ingurgitamento, irritação, rachaduras muito, muito dolorosas . Só EU sei o que passei. Chorei de dor, mas com a certeza de que passaria.
Procurei ajuda, apoio, tive fé e passou.
Então… Minha resposta para quem se admira com o fato de, ainda hoje eu ter tanto leite é…
Tenho muito leite porque amamento. E ainda tenho muitos anos pela frente para amamentar com prazer.
Tenho muito leite porque sou biologicamente mamífera, porque quero e porque acredito, com todas as minhas forças, que sou capaz.
Alguém duvida?
Dydy é Mamãe do Kakau 6 anos, Gaia 11 meses e eterna namorada do Sandro.
Enfermeira obstetra e PSF,
dois partos naturais domiciliares maravilhosos com parteira.
www.partolandia.blogspot.com
www.outralogica.blogspot.com
O desmame
Jerusa Almeida, de Jequié, BA. Agora vivendo na Espanha.
A gente “tira o peito” com PESAR… É uma sensação estranha…
De separação mesmo… Dói no coração da gente. “O maior desafio é pra nos e não pra eles”. Eta coisa certa! rs Porque agora mesmo, depois que ele dormiu, eu chorei como uma boba!!! Vai entender…?! Porque sempre antes de dormir, ele costumava mamar; ou melhor: “mas por uma dependência emocional”. Era o seu momento com sua mamãe… E agora, José? Continuo com os contos antes de dormir, com as brincadeiras, as musiquinhas… Mas logo depois viria o peito e, puf, ele era embalado pelo soninho. Agora não mais…. Hoje ele voltou a pedir, mas sem chorar… Na primeira noite, foi duro. Sabe o que ele me disse, com todas as letras?! “Tu no mi quieres más, mamá”! ………… Eu senti vontade de voltar atrás… Mas seria como um retrocesso pensei. Eu disse que o peitinho ta dodói e que o meu médico havia dito que não seria bom ele mamar… (algo assim) e ele disse:
“Mi médico dijo que sí”! ……. Esse é Peu! Ele argumenta; usa todos os recursos possíveis… rs Então, resolvemos continuar firmes em nossa decisão. Tenho lido muitos artigos na net sobre o desmame. Muito dos procedimentos são dicas práticas e com bons resultados…. Amamentar, para mim, foi a coisa mais maravilhosa que eu já fiz como mãe!!! Para mim era um momento de total entrega a Pedro, de amor. Tirar o peito também significa ter que reconhecer que ele está crescendo… Li um artigo hoje interessante (até coloquei um fragmentozinho como frase no MSN) que dizia da importância do DESMAME para o desenvolvimento da AUTONOMIA da criança. Esse é o meu desejo. Porque Peu, como filho único, corre riscos de dependência e não queremos isso pra ele. Desejamos que ele desenvolva a autonomia infantil. Creio que esse começo é determinante para o resto da vida. Um dos meus objetivos agora é o de poder mesmo trabalhar isso na minha cabeça, no sentido de que se trata de um processo natural.
Vale ressaltar que o meu filho tem atualmente 2 aninhos e 7 meses… E só agora foi desmamado… Foi tão incrível esse processo que senti o desejo de compartilhar com o www.aleitamento.com
O DESMAME
DICAS de uma MULHER-MÃE
Márcia Casanova,
mãe do Rodrigo – amamentado
por 1 ano e 4 meses,
Rio de Janeiro, RJ
Vamos falar do desmame levando em consideração que sua base é uma boa experiência de amamentação. E o que seria isso? Isso quer dizer que mãe e filho passaram pela experiência da amamentação de maneira tranqüila, sem interferências maléficas, ou regulamentos ou prescrições que pudessem atrapalhar esse momento de conhecimento mútuo, onde o resultado bem sucedido dessa relação será a base para a criança se relacionar com sua mãe, seu pai, com outras crianças e com a sociedade.
Acreditamos então, que a mãe tem todas as possibilidades de amamentar seu bebê e, da maneira mais conveniente para ambos. É um momento de disponibilidade da mãe para seu bebê, pois este ainda não está preparado para seguir regras de amamentação. A base da alimentação natural é amamentar seu bebê quando ele quiser e parar também quando ele quiser. Assim o bebê poderá contemporizar, de maneira a aceitar uma amamentação regular e segura, seja ela de três em três horas ou o que for melhor para ambos.
Falamos sempre numa relação, duas pessoas, mãe e filho, sendo assim, essa experiência deverá ser agradável para os dois. Não pense que deixando seu bebê livre de regras, num primeiro momento, você se tornará sua “escrava’’ ou que ele será uma criança intransigente. Como falamos, esse é um momento de conhecimento mútuo, o bebê ainda não é capaz de perceber que o seio pertence à sua mãe. Isso levará um tempo. Terão primeiro de se conhecer para daí aceitarem os riscos emocionais envolvidos nessa relação de amor.
Assim, será mais fácil aceitar a idéia que a tarefa do desmame cabe à mãe, de modo que só ela poderá dizer quando e como vai desmamar se bebê.
Isso pode parecer difícil, mais difícil do que amamentar. Poderá se perguntar: Por que desmamar seu bebê, já que esta é uma experiência maravilhosa? Mas mesmo assim sua missão de amamentar foi cumprida e agora chegará ao fim.
O desmame deverá ocorrer também de forma tranqüila, de maneira gradual, nunca de maneira brusca ou por algum motivo que não seja a termo. Não desmame porque o bebê mordeu o seio ou porque você precisa voltar a trabalhar. O bebê poderá perceber isso como punição sob a forma de frustração.
Num período de nove meses ao peito um bebê foi amamentado por volta de mil vezes e isso lhe proporciona uma abundância de boas recordações ou de material para bons sonhos. Mas não se trata somente do milhar de vezes que o bebê foi amamentado, trata-se também a maneira como o bebê e a mãe se uniram. Uma mãe sensível às necessidades de seu bebê “gerou a idéia do mundo como um esplêndido lugar”.
Segundo Freud, por mais tempo que um bebê tenha sido amamentado, ficará sempre com a convicção, depois de ter sido desmamado, de que sua amamentação foi breve e muito pouca.
Devemos atentar então para a idéia de que o que a criança vai levar de bom da amamentação não é a quantidade de vezes que foi amamentada ou até que idade, e sim a base de sua relação com o mundo; a base para a vida. Para Winnicott é o que “fornece sonhos mais férteis e habilita as pessoas a aceitarem riscos.” É muito agradável o pensamento de Winnicott “do mundo como lugar esplêndido”.
Mas qual seriam os motivos que justificariam o desmame?
“… seria sentimental nunca desmamar. E seria irrealista…”. Deverá partir da mãe o desejo de desmamar. Tarefa difícil? Poderá ser, pois também terá que abrir mão dessa tarefa maravilhosa. Mas se souber lidar bem com seus sentimentos, terá melhores condições de lidar com a raiva do bebê; caso tenha, por estar perdendo algo bom.
O desmame deve prosseguir de modo gradual e não de maneira súbita de mudança do peito para ausência total do mesmo.
O desmame é uma daquelas experiências que ajudam o desenvolvimento da criança, se a mãe providenciar um ambiente estável para a experiência.
Pode ser que seu bebe não progrida bem ao desmame, procure observar cuidadosamente o que se passa a sua volta. Esteja tranqüila e segura do que faz. Converse com as pessoas que participam da rotina da casa para que elas compreendam o que você esta fazendo. Pois elas poderão pensar que você não quer mais amamentar, porque não está mais disposta a isso e não porque chegou o momento e a decisão deverá ser tomada.
Não faça o desmame coincidir com outros eventos como, entrada na creche-escola, volta ao trabalho da mãe, mudança de casa da família ou qualquer outro que faça com que tenha que se afastar de seu bebê. Não esqueça que a tarefa do desmame é sua, e terá que lidar com todos os percalços que poderão vir.
Mesmo lhe proporcionando uma atmosfera estável seu bebê poderá reagir negativamente como, acordar gritando, tendo acessos de raiva ou poderá notar que mesmo tendo o processo corrido bem seu bebê demonstra certa tristeza. Espere, dê tempo ao tempo, pois essa raiva ou tristeza se justificam e irão passar. Apenas continue sendo “a boa mãe de sempre”.
Sabemos que uma mãe “normal” durante as vinte e quatro horas do dia será a mãe ruim por alguns minutos e ela se habituará a isso. Isso não quer dizer que a criança não a verá novamente como boa mãe. A criança crescerá e acabar é por vê-la como realmente é, nem a mãe perfeita nem a bruxa malvada.
Assim, temos um aspecto mais amplo do desmame: não se trata apenas de fazer o bebê admitir outros alimentos, ou saber usar uma xícara, ou de usar ativamente as mãos para comer. Inclui o processo gradual de demolição das ilusões, que é uma parte da tarefa dos pais.
Maravilha!
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Até quando amamentar?
Marcus Renato de Carvalho