AMAMENTAÇÃO
DIVERSA, INCLUSIVA, COLORIDA!
Um grupo de profissionais que fizeram o Curso “Amamentação: feminismo, negritude e pessoas LGBTQIA+” decidiram criar uma Comissão pró-Amamentação Diversa e Inclusiva – CADI, para dar visibilidade a temas que não são abordados na profundidade que merecem e requerem reflexões dos profissionais de saúde.
Esse curso nos desafiou pensar a amamentação sob uma perspectiva crítica de raça, gênero, sexualidade e classe social e de que forma essas relações interagem entre si e se expressam na prática profissional e no campo de pesquisa do aleitamento. Provocou uma reflexão para que possamos desenvolver uma prática profissional inclusiva, não LGBTQIA+fóbica, antirracista e não patriarcal.
Reivindicamos que no XVI ENAM-VI ENACS que será realizado em João Pessoa haja uma mesa-redonda que aborde o Aleitamento nas populações negras, LGBTQIA+, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, populações de rua, lactantes privadas de liberdade, pessoas com deficiência… E que também sejam oferecidos cursos pré-encontros para que essas temáticas sejam mais estudadas.
Pedimos que a inclusão dessa temática seja sistemática nos próximos ENAMs. Para tanto propomos que essa Comissão pró-Amamentação, nos moldes do GT de Saúde e Racismo da Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva, funcione como fórum permanente da temática diversidade, inclusão no campo da amamentação, sendo responsável por:
a) Propor a inclusão dos temas relacionados a diversidade e inclusão dentro das pautas relacionadas as minorias sociais – pessoas negras, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, indígenas, pensando no impacto em relação a amamentação, e como enfrentar tais questões, através de mesas durante o congresso, palestras, cursos e tudo mais que fizer parte do ENAM;
b) Propor a inclusão de mais palestrantes e conferencistas que sejam representantes das minorias sociais elencadas, para falar de temas diversos, de forma a trazer maior representatividade no evento;
c) Contribuir para ampliar a penetração dessa temática nos mais diferentes níveis de debate em relação a amamentação – políticas públicas, iniciativas particulares, criação de cultura e debates com a sociedade civil;
d) Contribuir com ações formativas sobre diversidade e inclusão para todos aqueles que participarem do ENAM/ENACS;
e) Debater quais os desafios e as estratégias utilizadas por pessoas que amamentam, profissionais de saúde, ativistas, para o enfrentamento e desconstrução de qualquer nível de preconceito e racismo.
Inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A saúde e a educação inclusiva acolhe e dá voz a todas as pessoas, sem exceção.
Baseando-se no conceito do pesquisador Romeu Kasumi Sassaki que conceitua “inclusão social” como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas que não são representadas ou que não têm tido oportunidades de fala…
Nos inspiramos também no GT Racismo e Saúde da Abrasco – veja abaixo.
Precisamos de sua contribuição, sugestões, apoio e convidamos a se juntar à essa Comissão.
Alessandra Marcuz de Souza Campos
Ana Carolina Lorga Salis
Fernanda Lopes Sanchez Derballe (Fe Lopes)
Laura Lino Mendes da Cruz
Marcus Renato de Carvalho
Rodrigo Carvalho
Por que a Abrasco criou um Grupo Temático para o Racismo e Saúde?
A proposta de criação do GT Racismo e Saúde surgiu de pesquisadores, gestores, profissionais de saúde e lideranças de movimentos sociais participantes do 7º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva realizado em 2003, em Brasília. Nesse evento foi aprovada a moção que propunha a criação de um Grupo de Trabalho com a temática racial na Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. O “campo” de estudos saúde da população negra tem como marca a integralidade a participação popular (controle social), o princípio ético da equidade, o enfrentamento e desconstrução do racismo no campo da saúde. Também são considerados como marca desse campo a saúde como direito social, de cidadania e dignidade da pessoa humana, assim como a defesa dos princípios do Sistema Único de Saúde – SUS.
O GT Racismo e Saúde é um espaço de diálogo e de articulação entre pesquisadoras/es, profissionais de saúde, gestor@s, negros em movimentos que estão trabalhando com a temáticas relacionadas ao racismo, seu impacto na sua e a forma de enfrentamento
No GT serão realizadas discussões sobre os temas relacionados ao impacto do racismo na saúde e a forma de enfrentamento – a questão racial no Brasil, seus impactos nas relações sociais e implicações sobre o processo saúde-doença da população negra; Racismo e saúde e suas interseccionalidades (especialmente gênero e classe); Doenças, agravos e condições mais frequentes na população negra; Genética; Doenças geneticamente determinadas; Bioética; Situação de saúde das populações em situação de vulnerabilidades individual, social e programática; Ciclo da vida; Condições de vida e saúde da população negra; Medicina popular de matriz africana; Contribuição das manifestações afro-brasileiras na promoção da saúde; Religiões afro-brasileira e promoção da saúde; Racismo institucional, avaliação de políticas, programas, serviços e tecnologias; Estudos curriculares, estudos sobre estratégias pedagógicas em saúde da população negra e mecanismos explícitos de superação das barreiras enfrentadas pela população negra no acesso à saúde, particularmente aquelas interpostas pelo racismo.
Reconhecemos que o racismo é um importante fator de violação de direitos e de produção de iniquidades. O racismo tem relação com as condições de vida e é também visível na qualidade da assistência e do cuidado prestados. Para enfrentar o racismo é necessária a criação de espaços de discussão e execução de políticas específicas. O racismo estrutura profundamente o escopo de democracia no Brasil, reduzindo a abrangência da cidadania, estando na base da criação e manutenção de preconceitos, ou seja, ideias e imagens estereotipadas e inferiorizantes acerca da diferença do outro e do outro diferente, justificando o tratamento desigual (discriminação). Em sua expressão na vida de indivíduos e grupos, o racismo assume três dimensões principais, segundo o modelo proposto por Camara P. Jones, racismo internalizado/pessoal, o racismo interpessoal e o racismo institucional. (Werneck, 2016).
Os dados epidemiológicos obtidos evidenciam diferenciais na saúde de brancos, negros, indígenas e amarelos – as categorias de raça/cor (quesito cor). Nesse sentido o racismo, a classe social, gênero e geração são categorias importantes no desfecho em saúde, e/ou na determinação da distribuição do processo de produção da saúde e da doença. Os estudos evidenciam as desigualdades raciais e seu impacto na saúde, revelam como o racismo opera no sistema de saúde e desafiam a agenda da gestão pública. A solução encontrada pela Abrasco para enfrentar o racismo institucionalizado foi formular e implementar um Grupo de Trabalho para garantir que esse tema seja incluído dentre as linhas de atuação da Associação.
O GT se propõe a ser um espaço privilegiado de troca entre pesquisadores, profissionais de saúde, movimentos sociais e gestores. Nossos objetivos são:
a) Propor a inclusão dos temas relacionados racismo, seu impacto na saúde e a forma de enfrentamento, bem como suas interseccionalidades (gênero, classe) em atividades, mesas, palestras, reuniões científicas e Congressos organizados pela Abrasco;
b) Propor e realizar atividades em articulação com outros GTs da Abrasco;
c) Congregar a experiência que os movimentos sociais negro tem no campo das relações raciais em saúde, a experiência dos docente que incluíram a temática racial na formação inicial, na pós-graduação e na educação permanente, o trabalho desenvolvido na gestão do Sistema Único de Saúde em especial na implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra – PNSIPN;
d) Contribuir para nortear a implantação da temática, fomentar e incluir os temas como racismo e saúde da população negra nas formações universitárias, especialmente das áreas de saúde; e na educação permanente de recursos humanos na área de saúde, como exercício de ações intersetoriais entre saúde e educação;
e) Estabelecer uma agenda de cooperação entre pesquisador@s, gestores, profissionais de saúde e sociedade civil visando reduzir as iniquidades raciais em saúde;
f) Debater quais os desafios e as estratégias utilizadas por usuários, gestores e profissionais de saúde para o enfrentamento e desconstrução do racismo no campo da saúde.
Nosso Plano de Trabalho para o biênio 2017-2018 é:
a) Realizar mesas e palestras nos Congressos e reuniões científicas organizadas pela Abrasco;
b) realizar atividades conjuntas com outros GTs da Abrasco; c) realizar encontros presenciais;
d) contribuir na elaboração e divulgação de notas;
e) realizar levantamento das pesquisadoras e pesquisadores que atuam no campo saúde da população negra.
Luís Eduardo Batista