Aleitamento materno e uso de chupeta: implicações para políticas de saúde
Breastfeeding and pacifier use: implications for healthy policy
Antonio J. L. Alves da Cunha
Álvaro Madeiro Leite
Márcia M. Machado
10.2223/JPED.1938
Prezado Editor do Jornal de Pediatria,
O artigo de Parizoto T al.1, publicado no último número do Jornal de Pediatria e objeto de editorial, nos chamou a atenção pela sua importância e pelos seus achados, em especial no que diz respeito ao uso da chupeta. Essa prática cultural, comum em nosso país, e sua relação com o aleitamento materno têm sido avaliadas em vários estudos, inclusive por nós, cujos resultados se encontram publicados2.
Recentemente, duas revisões sistemáticas foram dedicadas a esse tema3,4. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children’s Fund, UNICEF) preconizam o não uso de chupeta e mamadeiras com o objetivo de evitar ou prevenir o desmame precoce5.
Nosso interesse em comentar o referido artigo deve-se ao fato de que, apesar da recomendação da OMS, ainda persiste a controvérsia em relação à influência do uso da chupeta no aleitamento materno. Uma das revisões mencionadas3, recentemente publicada, analisou resultados de quatro ensaios controlados randomizados e não observou diferença na duração do aleitamento frente a diferentes intervenções utilizando a chupeta. Os autores concluíram que, utilizando o maior nível de evidência, não foi observada relação entre uso de chupeta e duração de qualquer aleitamento, exclusivo ou não. Na outra revisão mencionada4, uma meta-análise, os autores analisaram estudos observacionais, a maioria coortes prospectivas, sendo 12 com aleitamento exclusivo e 19 com qualquer tipo de aleitamento.
Os autores concluíram que o uso de chupeta estava associado à diminuição da duração do aleitamento exclusivo bem como de qualquer tipo de aleitamento materno. Independentemente dos possíveis erros sistemáticos associados a essas revisões, a maioria dos estudos observacionais, incluindo o nosso, tem mostrado uma associação positiva entre o uso da chupeta e a diminuição da duração do aleitamento materno, semelhante ao observado por Parizoto T al.1. Conforme observa Fein no editorial6, citando inclusive a concordância dos autores do artigo nesse sentido, a causalidade dessa associação ainda é controversa.
Fein observa que tanto é possível que o ato de sugar a chupeta iniba a amamentação como também é possível que as mães que têm problemas para amamentar utilizem as chupetas para acalmar seus bebês.
Além de acalmar o bebê, essa prática poderia também acalmar a própria mãe, que, ansiosa ao ver o bebê chorando, utiliza essa prática para silenciá-lo. As duas possibilidades poderiam certamente também coexistir. O importante, no entanto, é que a adoção do modelo causal tem implicações relevantes nas políticas públicas. No último caso, conforme observa Fein6, as políticas deveriam ser dirigidas para a necessidade de maior apoio ao aleitamento, procurando evitar que situações que levam as mães a usar a chupeta se propaguem. O estudo de Parizoto T al.1 apresenta limitações, algumas inclusive apontadas por Fein, como, por exemplo, o delineamento transversal e a não mensuração de algumas variáveis importantes para a análise, como o número de atendimentos pré-natais ou o número amostral reduzido para algumas variáveis, o que pode não ter revelado associações com significância estatística. Além disso, é importante mencionar que Parizoto T al.1 utilizaram a variável “uso de chupeta” na forma de sim ou não, não explorando aspectos como tempo de uso ou início do uso da chupeta. Essas limitações podem ter contribuído para o estudo ter detectado somente a variável “uso da chupeta” como associada à interrupção do aleitamento nos primeiros 6 meses de vida. As recomendações propostas pelos autores com base nesses achados, no entanto, a nosso entendimento, merecem cautela.
Os autores propõem que ações locais e de âmbito nacional sejam implementadas com o objetivo de reduzir o uso da chupeta.
Nesse sentido, é preciso estar atento para que as mães e responsáveis não se sintam culpados por terem dado a chupeta às suas crianças. Se isso ocorrer, e levando em conta as hipóteses causais aventadas anteriormente, essas ações poderiam vir a contribuir para piorar a situação. Ou seja, devido a um sentimento adverso como a culpa, as mães e responsáveis podem ter o nível de ansiedade aumentado, o que pode contribuir para limitar ainda mais o tempo de amamentação. Além disso, o uso da chupeta parece ser milenar e historicamente enraizado na cultura em geral e na nossa latino-americana em especial, o que torna difícil muitas vezes convencer os pais de seu não uso. Independentemente de nossas ponderações, gostaríamos de parabenizar Parizoto T al.1 pela realização do estudo e publicação do artigo, trazendo mais uma vez uma discussão de fundamental importância para a saúde da criança, qual seja, a de como aumentar as taxas de aleitamento em nosso país.
Referências
1. Parizoto GM, Parada CM, Venâncio SI, Carvalhaes MA. Trends and patterns of exclusive breastfeeding for under-6-month-old children. J Pediatr (Rio J). 2009:85:201-8. [pubmed/open access] [crossref]
2. Cunha AJ, Leite AM, Machado MM. Breastfeeding and pacifier use in Brazil. Indian J Pediatr. 2005;72:209-12. [pubmed/open access] [crossref]
3. O’Connor NR, Tanabe KO, Siadaty MS, Hauck FR. Pacifiers and breastfeeding: a systematic review. Arch Pediatr Adolesc Med. 2009;163:378-82. [pubmed/open access] [crossref]
4. Karabulut E, Yalçin SS, Ozdemir-Geyik P, Karaaðaoðlu E. Effect of pacifier use on exclusive and any breastfeeding: a meta-analysis. Turk J Pediatr. 2009;51:35-43. [pubmed/open access]
5. World Health Organization. Child and adolescent health and development [website]. http://www.who.int/child_adolescent_health/topics/prevention_care/child/nutrition/breastfeeding/em/index.html. Acesso: 26/07/2009.
6. Fein SB. Exclusive breastfeeding for under-6-month old children. J Pediatr (Rio J). 2009:85:181-2. [pubmed/open access] [crossref]
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