Pesquisa mostra que as mães deixam de amamentar os bebês antes do tempo e inserem alimentos desnecessários quando deveriam apenas dar o leite do peito
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aleitamento materno exclusivo deve ser mantido até os seis meses de idade, quando outros alimentos líquidos e sólidos devem passar a ser introduzidos na alimentação do bebê em paralelo com a manutenção da amamentação. No entanto, o desmame precoce e a alimentação artificial têm se tornado hábitos comuns, levando a taxas muitas vezes elevadas de mortalidade de crianças no primeiro ano de vida. Dessa forma, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) resolveram descrever a prática do aleitamento materno e do aleitamento materno exclusivo de crianças nascidas em um hospital universitário, identificando possíveis associações com variáveis indicadoras das condições sócio-econômicas.
De acordo com artigo publicado na edição de setembro/outubro dos Cadernos de Saúde Pública, “foram incluídas crianças nascidas sem intercorrência, de mães residentes na área de abrangência do hospital ou funcionárias/alunas da universidade, que concordaram em participar da pesquisa”. No total, foram 450 bebês, cujas mães responderam, durante o período de um ano, a oito questionários referentes a sua alimentação diária. Cada questionário correspondia a um período de dois meses.
Além disso, a equipe procurou observar se havia associação entre o fato da criança deixar de mamar precocemente e alguns fatores como o sexo, cor da pele, peso ao nascer, tipo de parto, hábito de fumar da mãe, idade materna (<25 anos; >25 anos), número de consultas no pré-natal, primiparidade, morar no mesmo domicílio do pai da criança, escolaridade materna e poder aquisitivo da família. Segundo os pesquisadores, “não houve diferenças estatisticamente significantes na prática do aleitamento materno segundo as variáveis estudadas”. Eles observaram apenas que, em relação ao aleitamento materno exclusivo, as mães tinham mais idade e melhor nível de escolaridade.
Os resultados mostraram ainda que metade das crianças havia deixado de mamar no peito até a idade de 205 dias e que 50% delas havia abandonado o aleitamento materno exclusivo até a idade de 23 dias. Foi observado que 61,5% das crianças receberam outro alimento no primeiro mês de vida, sendo que, aos três meses de idade, somente 13,8% delas estavam em aleitamento materno exclusivo e, aos seis meses, apenas 1,6%. “Entre as mães que, no segundo mês de vida da criança, já não estavam mais amamentando, fatores como trabalho materno, peso da criança, introdução precoce de fórmulas e quantidade de leite materno produzido estiveram associados à interrupção do aleitamento”, explicam os pesquisadores no artigo.
Eles constataram que há uma tendência de as mães inserirem outros alimentos precocemente, o que pode ser prejudicial, à medida que “pode levar à diminuição da freqüência e intensidade de sucção, reduzindo a produção de leite materno, assim como aumentar o risco de infecções pela contaminação de mamadeiras ou dos próprios alimentos”.
Por isso, a equipe ressalta, no artigo, a importância de se fazer programas de incentivo ao aleitamento materno, conscientizando as mães de que não é necessário introduzir outros alimentos antes dos seis meses de idade do bebê e que elas devem amamentá-los pelo maior tempo possível.