Casal gay alterna amamentação da filha e posa para pedir igualdade
Registro da Fotografa Lacey Barratt foi compartilhado por mais de 1,3 mil internautas
POR O GLOBO
Foto de Lacey Barratt: Fotógrafa registrou australianas a amamentar a filha recém-nascida.
SYDNEY — Um casal de mulheres posou para fotos alternando a amamentação da filha recém-nascida, em uma iniciativa de conscientizar mães gays sobre a importância de compartilhar a responsabilidade materna e a opção de nutrir o bebê mesmo sem dar à luz.
Steph e Claire Eden McIlroy foram fotografadas por Lacey Barratt, em um projeto que pretende mostrar a naturalidade da divisão de tarefas entre as parceiras.
“É totalmente natural e confortável, algo que nós fazemos todos os dias em casa. Com isso, nós queremos conscientizar casais do mesmo sexo”, explicou a genitora Claire ao “Daily Mail Austrália”.
Claire explicou à publicação local que sua mulher se interessou em amamentar a filha logo que soube da possibilidade. Dispôs-se a usar a cada duas horas uma bomba hospitalar que estimularia a produção de leite em suas mamas mesmo sem ter engravidado. Steph também passou a tomar um remédio prescrito pelos ginecologistas e a comer feno-grego (1), rico em prolactina, hormônio responsável por desencadear a produção de leite materno.
“Mesmo sem carregar uma criança, você pode nutrir e alimentar seu filho com o seu corpo”, ressaltou Claire.
A fotógrafa Lacey Barratt compartilhou as imagens de intimidade em seu Facebook e ressaltou o quão natural acredita ser o interesse do casal em dividir a responsabilidade pelos filhos. Com a publicação, compartilhada mais de 1,3 mil vezes na rede social, ela fez questão de reforçar a possibilidade de mães adotivas amamentarem sem serem as genitoras.
“Casais do mesmo sexo, vocês sabiam que podem encontrar amas de leite (2) para seus filhos? Doação de leite (3)? As possibilidades são várias, e devem ser respeitadas como respeitam em um casal heterossexual”, refletiu. “Todos merecem igualdade (4).”
Notas do Aleitamento.com:
1 – O feno-grego é uma espécie de trigo da família Trigonella foenum-graecum, pode ser reconhecido por outros nomes como alfava. Há quem diga que é uma planta silvestre que veio da Índia e do Paquistão, onde desde a antiguidade já era usado para tratar certas doenças. NÃO consta que contenha PROLACTINA.
2 – Amas de leite NÃO são recomendadas pois podem passar algumas infecções para o lactente.
3 – Doação de leite só se for através de um Banco de Leite Humano onde ele é pasteurizado e pode ser ofertado com segurança. A prioridade do leite humano doado é para recém-nascidos internados em UTI Neonatal e não para casos como esse.
4 – DUPLA AMAMENTAÇÃO – será bom para o bebê!?
Apoiamos os casais homoafetivos no desejo de serem mães e pais e promovemos a indução à lactação em mães que desejam adotar e amamentar…
O que colocamos em dúvida é se o lactente precisa de 4 mamas e 2 tipos de leite: o materno e o outro leite que foi produzido forçadamente. Sabemos que melhor que o leite humano é o leite da própria mãe que se modifica de acordo com as necessidades e crescimento desde bebê.
Há muitas formas da companheira (ou companheiro) participar e dividir as tarefas. E esse lactente precisa de outros cuidados que não a amamentação.
O lactante também precisa de um seio/colo sem leite.
É imprescindível para o crescimento adequado que o bebê não mame o tempo todo e não seja atendido só com as mamas. Para a sua formação psíquica é necessário também que alguém realize a “Função paterna”* que apesar do nome técnico, pode ser exercido pela companheira, por uma tia, por uma avó e não só pelo homem-pai. Esse bebê precisa também de um colo sem leite, precisa ser satisfeito não só com o alimento, mas com uma outra voz, com outras paisagens familiares…
Função Paterna é um conceito originalmente lacaniano (1938). Quem exerce essa “Função” aparece como o terceiro imprescindível para que a criança elabore a perda da relação inicial com a mãe, sendo que a criança necessita desse outro(a) para desprender-se da mãe e perceber que não está “fundido” nela. Corneau(1), fundamentado pelas ideias de Lacan, reafirma que quem exerce essa “Função paterna” se constitui no primeiro outro que a criança encontra fora do ventre de sua mãe, sendo ele indistinto para o recém-nascido, mas ao bloquear o desejo incestuoso, sua figura vai se diferenciando, permitindo o nascimento da interioridade do filho e desfaz, assim, a fusão entre o eu e o não eu, esse(a) encarna inicialmente a não mãe e dá forma a tudo que não seja ela. A presença desse outro é que poderá facilitar à criança a passagem do mundo da família para o da sociedade.
Por que não experimentar a igualdade alternando os períodos de lactação?
“Nessa gravidez eu amamento. No nosso próximo filho(a), você engravida e amamenta. Combinado?.”
Não recomendamos essa amamentação dupla que é excessiva, desnecessária…
1 – BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 28, n. 85, p. 67-75, 2011 . Disponível em
*Leia outro artigo aqui no aleitamento.com:
Casal homoafetivo: ambas mães amamentam depois de indução à lactação
DUAS MÃES, seu FILHO e a AMAMENTAÇÃO – depoimento