A popularização dos smartphones e tablets vem transformando o acesso às informações médicas: estima-se que até 2018 metade dos usuários terá aplicativos relacionados à área em seus aparelhos. A rapidez com que essas ferramentas se alastram fez com que a food and drug Administration (FDA), a agência que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, divulgasse um guia para orientar os desenvolvedores de aplicativos — em especial daqueles que substituem instrumentos tradicionais. como aparelhos de eletrocardiograma e monitores cardíacos. “Alguns aplicativos podem trazer riscos significativos, se não forem operados corretamente”, justifica o documento. Recentemente, o Centro de Jornalismo Investigativo da Nova Inglaterra, ligado à Universidade de Boston, fez um levantamento indicando cerca de 300 programas que. por falta de evidência científica ou de simples bom-senso, não passam de bobagens digitais. Entre esses estavam o AcneApp. que prometia reduzir cravos e espinhas com a luz do celular, e o Breast Augmentation. que garante às mães que ouvir sons semelhantes aos de um bebê diariamente faz crescer os seios. A pedido de VEJA, médicos de diversas especialidades avaliaram aplicativos na área de saúde. A seguir, o diagnóstico dado por eles.
ALEITAMENTO Disponível para: iOS
Desenvolvido por três estudantes de Design da PUC Rio – Diego Marins, Paulo del Valle e Renan Kogut tendo como coordenador de conteúdo o Pediatra Marcus Renato de Carvalho, o aplicativo que auxilia mães no processo de amamentação traz diário de anotações, mapa para localizar os bancos de leite mais próximos, calendário de vacinas e um cronômetro para controlar o tempo de mamada. O veredicto: aprovado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, é um incentivo eficaz ao aleitamento, uma vez que apenas quatro em cada dez crianças mamam até 2 anos ou mais e de forma exclusiva no peito até os 6 meses de vida.
CÂNCER TEST DR DIAGNOZER, da Extremidia Disponível para: Android A partir de um questionário com dezenove perguntas do tipo “Sente dores na região central das costas?” ou “Bebe álcool mais de uma vez por semana?”, o aplicativo estima quem tem maior ou menor risco de desenvolver câncer 0 veredicto: as interpretações não têm respaldo científico. “O câncer é uma doença complexa, e perguntas simples não são suficientes para levar a um diagnóstico. O programa sugere ainda que o usuário vire médico por um dia e teste outras pessoas. É o exemplo clássico do mau uso das novas tecnologias”, diz o oncologista Paulo Mora. do Instituto Nacional do Câncer
GLICONLINE, da Quasar Telemedicina Disponível para: Android e iOS Criado pela endocrinologista Karla Melo, o aplicativo ajuda pacientes diabéticos a contar a quantidade de calorias e carboidratos dos alimentos, calcula a dose correta de insulina e avisa a hora certa do medicamento. As informações ficam registradas em um prontuário eletrônico, que pode ser acessado remotamente pelo médico O veredicto: este e outros aplicativos, como o GlicoCare, da Bayer, simplificam bastante a vida dos diabéticos. “Outros programas, que informam os valores nutricionais de uma refeição balanceada, como é o caso do Meu Prato Saudável, também ajudam a fazer a contagem de carboidratos”, diz o médico Balduino Tschiedel, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes
TESTE DE VISÃO DE PERTO, da New Epicenter Disponível para: Android e iOS A uma distância de 40 centímetros da tela, o usuário toca na seqüência de letras com o menor tamanho que consegue enxergar. O teste avalia a presbiopia, ou vista cansada, comum após os 40 anos O veredicto: quando as letrinhas menores ficam ilegíveis, o programa sugere que se procure um médico. Quando tudo vai bem, faz o contrário: indica o grau dos óculos que devem ser usados em caso de cansaço visual. “Quem usa um grau a mais sem necessidade faz com que a vista se acomode a ele – e isso é irreversível”, diz a oftalmologista Andréa Barbosa, da Clínica de Olhos São Francisco de Assis, no Rio de Janeiro
MY BABY’S BEAT, da Matis Disponível para: iOS Indicado para o último trimestre de gestação, usa o microfone do celular para captar o som dos batimentos cardíacos do bebê 0 veredicto: como oferece a possibilidade de gravar os batimentos, pode ser útil – desde que usado durante a consulta médica. “Dependendo da posição do bebê e da quantidade de líquido amniótico, escutar os batimentos pode se tornar difícil até para um médico ainda não muito experiente. Por isso temo que, usado em casa, o programa possa causar angústia”, diz a obstetra Maria Cecília Erthal, do Centro de Fertilidade da Rede D’Or, no Rio de Janeiro
SLEEP CYCLE, da Maciek Drejak Labs Disponível para: iOS Com o aparelho perto do travesseiro, o aplicativo monitora os movimentos de quem dorme e determina em que fase do sono – leve ou profundo – a pessoa está. A partir dessas informações, escolhe o melhor momento para despertá-la, dentro de um intervalo de meia hora escolhido pelo usuário. Outros aplicativos, como o Sleep as Android e o Sleep Time, usam o mesmo princípio 0 veredicto: de fato, acordar durante o sono leve, o REM, quando a agitação do corpo costuma ser maior, aumenta as chances de começar o dia com disposição. Por outro lado, diz o neurologista André Felício, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a alternância entre as fases do sono toma cerca de noventa minutos; como o aplicativo desperta o usuário dentro de um intervalo de meia hora, nada impede que o faça na fase de sono profundo
Atendimento a distância
Os aplicativos que auxiliam os especialistas no diagnóstico de doenças são uma esperança para populações que vivem em regiões com pouca ou nenhuma oferta de instalações para exames médicos. O portable eye examination kit (Peek), ou kit portátil de exame do olho, é um exemplo de sucesso. Desenvolvido por uma equipe de oftalmologistas ingleses, o aplicativo usa recursos do smartphone (tela, câmera e flash) para detectar males como catarata, glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética, além de realizar testes de acuidade visual. As imagens podem ser enviadas a médicos em qualquer parte do planeta para que eles as avaliem. Atualmente, 5000 pessoas estão sendo submetidas a exames oftalmológicos no Quênia graças ao Peek. Ao trocarem equipamentos pesados e caros por um smartphone e usarem pequenos painéis solares para recarregar a bateria do aparelho em localidades sem energia elétrica, os médicos conseguem “visitar” populações carentes que vivem em regiões de difícil acesso. Detalhe: os dados do paciente ficam armazenados junto às informações do GPS – ou seja. encontrá-lo posteriormente para fornecer tratamento é simples e rápido. Pacientes diagnosticados pelo programa com tipos reversíveis de cegueira já passaram por cirurgia e voltaram a enxergar. “Esse caso mostra a viabilidade do uso de bons aplicativos para a telemedicina”, diz a oftalmologista Andréa Barbosa, do Rio de Janeiro
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