AMOR de MÃE dá prazer e faz bem para a vida toda: pesquisa científica
Amor de mãe tem o mesmo efeito do ópio, afirmam cientistas
Atenção materna causa contentamento que produz as mesmas substâncias das drogas
Benedict Carey
Em Nova York
Os psicólogos dizem que o amor materno é como uma droga, uma substância potente que cimenta a relação entre mãe e bebê e que tem impacto profundo sobre o desenvolvimento posterior do indivíduo. Mas os cientistas sabiam muito pouco sobre como a maternidade afetaria biologicamente os bebês. Se ela é como uma droga, que tipo de droga seria essa?
Um grupo de pesquisadores italianos e franceses anunciou na semana passada que em pelo menos um grupo de mamíferos a maternidade age como uma substância opiácea. Os pesquisadores descobriram que ratos que não possuem um gene que permite o alívio da dor após a administração de opiáceos têm grande dificuldade em estabelecer laços com as suas mães.
Quando são separados brevemente das suas mães na primeira semana de vida – um período vulnerável, quando são incapazes de andar ou de abrir os olhos – os filhotes geneticamente alterados não choram de ansiedade como os ratos normais que sofrem a mesma separação. Segundo os cientistas, esse choro por ajuda é fundamental para cimentar o vínculo entre mães e filhos.
Os pesquisadores realizaram experimentos para verificar se os ratos geneticamente alterados choravam em resposta a outros tipos de estresse, como a exposição a baixas temperaturas. Os filhotes choraram. O único fator que não foi expresso intensamente foi a ansiedade da separação.
“O choro faz parte de um comportamento de ligação sentimental que mantém a proximidade entre o bebê e a mãe”, explica Francesca R. DAmato, do Instituto de Neurociências CNR, em Roma, e uma das autoras do estudo, publicado na edição de 25 de junho da revista “Science”. “Apesar de ser algo de fundamental para a sobrevivência, esses animais não exibiram tal comportamento”.
O estudo fornece forte evidência de que as mesmas substâncias químicas do cérebro que controlam a dor física regulam também a dor psicológica causada pela perda e pela separação, diz ela. Esse foi um dos vários experimentos recentes mostrando que as alterações em um único gene podem remodelar radicalmente o comportamento social.
Neste mês, cientistas da Universidade Emory, em Atlanta, relataram que a injeção de um único gene em um outro roedor, o rato-da-campina, faz com que machos promíscuos se transformem em pais caseiros. O gene ajuda a criar nos animais receptores celulares para a vasopressina, um hormônio
que atua na promoção de laços sociais. Os cientistas já haviam demonstrado anteriormente que os roedores que eram geneticamente insensíveis a um outro hormônio, a oxitocina, tinham dificuldades para formar casais.
A neurobiologia dos laços entre mãe e filho provavelmente envolve todos os três sistemas de alguma forma, dizem os cientistas. “Esse último estudo é o maior e o melhor do seu tipo e fornece forte evidência de que o apoio maternal possui um componente opiáceo”, diz Jaak Panksepp, professor de psicologia da Universidade Estadual Bowling Green, em Ohio, que há mais de duas décadas sugeriu que os receptores opiáceos são importantes para a formação dos laços entre mãe e filho.
Os sistemas de hormônio e alívio da dor funcionam de maneira similar em todos os mamíferos, incluindo os humanos. A circulação pelo corpo de substâncias opiáceas naturais como as endorfinas ajuda os animais a sentirem alívio e conforto.
As substâncias mensageiras presentes no cérebro, como a dopamina, ajudam a intensificar a sensação de ser recompensado, quando, por exemplo, o indivíduo ganha uma aposta, conhece um potencial parceiro amoroso ou obtém apoio dos pais.
Os pesquisadores dizem que variações sutis nos genes que regulam esses sistemas poderiam interferir nas interações sem palavras e baseadas nas emoções entre a mãe, ou outra pessoa que cuide do bebê, e os filhos. Por exemplo, o toque físico pode desencadear a liberação de substâncias opiáceas que têm efeito calmante, mas um bebê com sensibilidade reduzida a tais substâncias poderia não experimentar tão profundamente tal sensação de alívio. Isso, por sua vez, poderia frustrar a mãe ou outra pessoa que cuida do neném, já que essa espera proporcionar conforto.
“O que podemos descobrir, por exemplo, é que, aqueles indivíduos nascidos com uma sensibilidade alterada para as substâncias opiáceas teriam um temperamento particular, um temperamento psicológico nato, que tornaria difícil para as mães o estabelecimento de conexões com os filhos”, diz Allan N. Schore, que estuda os vínculos entre mães e filhos na Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“A capacidade de sentir e expressar dor, de chorar e de se sentir confortado reforça os laços afetivos. E esses laços ajudam a criança a regular os seus próprios estados negativos internos à medida que cresce”.
Na verdade, um tratamento materno carinhoso e atencioso pode ajudar filhotes de animais a superar algumas anomalias genéticas. Em uma série de experimentos, cientistas da Universidade McGill, em Montreal, demonstraram que os bebês ratos que eram repetidamente acariciados, aconchegados e lambidos por suas mães se tornavam adultos menos ansiosos do que aqueles que recebiam menos atenção materna.
Em um estudo publicado na última edição do periódico “Nature Neuroscience”, os pesquisadores da Universidade McGill relataram que esses cuidados físicos maternos no início da vida desencadeiam mudanças duradouras nos genes dos ratos que ajudam os animais a lidar com o estresse por toda a vida.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde demonstraram um efeito similar em macacos: o fato de contar com pais e mães carinhosos e atenciosos protege os animais de uma variação genética específica que faria com que – na ausência de conforto e apoio – eles corressem um risco maior de apresentarem comportamentos agressivos e desordeiros.
Esses macacos criados com carinho tendem a se tornar, eles próprios, pais carinhosos: a sua ligação com as mães fornece um modelo para os relacionamentos que manterão bem mais tarde com seus próprios filhotes.
“A parte importante de tudo isso é que estamos demonstrando que pais atenciosos podem na verdade alterar para melhor os genes do bebê”, diz
Schore.
Uma criança com menos sensibilidade genética às sensações de dor e prazer poderia se desenvolver bem ao ser criada por pais especialmente atentos aos sinais mais sutis manifestados pela criança, diz ele. E a fisiologia da criança poderia, a seguir, corrigir ou compensar a diferença genética.
Embora os cientistas ainda tenham muito o que aprender sobre as várias substâncias químicas cerebrais envolvidas nesse processo, alguns deles dizem que faria sentido que, entre elas, estivessem as substâncias opiáceas, uma classe de compostos que incluem drogas causadoras da dependência, como a morfina e a heroína.
“Pense nisso: Os laços com os pais são muito importantes; essenciais para a sobrevivência”, diz Panksepp. “Não faria sentido que essa dependência social fosse um fenômeno da mesma classe que o do vício em drogas?”.
Tradução: Danilo Fonseca