Uma preocupação enorme dos pais é sobre o hábito dos lactentes de chuparem seus dedos e tudo que encontram pela frente.
Geralmente chegam a conclusão precipitada que os bebês estão com fome, que a amamentação não os satisfazem. O lactente apresenta uma sucção reflexa (“automática”) como resposta a qualquer objeto que lhe toque os lábios. Este reflexo de sucção aparece no feto na 32ª semana de gestação, sendo comum flagrarmos alguns bebês sugando seus dedos intra-útero.
As crianças (até em torno dos 18 meses) estão na fase psico-sexual-oral, i.é, na etapa do desenvolvimento da libido, chamada oral, e sentem muito prazer em sugar ! O fato de sentirem-se bem sugando, “experimentando” o mundo é uma das primeiras manifestações de nossa sexualidade.
Eles se bem cuidados, assistidos, atendidos, carregados no colo, evoluirão naturalmente para outras etapas da sexualidade humana: a anal (em torno dos 2 anos), a genital (em torno dos 3 anos), a edipiana (4 – 6 anos) de latência (na fase pré-puberal)… até o padrão adulto.
Deixe-o sentir conforto, segurança, prazer ao descobrir e sentir o mundo com sua boca… Chupar os dedos dele ou os seu (dedo mínimo com a unha voltada para baixo, para sua língua) alivia a dor (ação analgésica da sucção não-nutritiva), o tranqüiliza, o faz relaxar e sentir-se seguro, protegido…
Para alguns bebês, a necessidade e o prazer de sugar são maiores do que para outros… Se o ambiente está tenso o bebê pode ficar aflito e ter maior necessidade de sucção não-nutritiva. Este é o têrmo técnico que utilizamos. Há sucção não-nutritiva até no peito, o bebê faz um movimento de chupar sem retirar leite, é uma sugada mais rápida (2-3 sucções por segundo) do que a sucção nutritiva (1 sucção por segundo) que o alimenta.
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“A imensa afetividade dos mamíferos inicia-se do modo mais doce e adorável, quando crianças que saem imaturas do ventre das mães necessitam da proteção e calor dessas mães peludas nos seios das quais se aleitam.”
Edgard Morin – Amor Poesia Sabedoria
Logo de início quero deixar bem claro que não estou dizendo que “quem não amamenta não ama”. A maioria das mulheres não tiveram acesso a informação, esclarecimento, apoio, e foram bombardeadas pelo marketing das mamadeiras, chupetas, fórmulas infantis desde sua infância ou tiveram profissionais e serviços de saúde que não facilitaram este delicado início… dificultando o estabelecimento do aleitamento materno.
Na atualidade sabemos que a amamentação não é um ato instintivo, ainda que natural, e sim uma cultura que precisa ser recuperada e que é necessária um conjunto de habilidades, de informações, de técnicas para o êxito da alimentação ao seio.
Quero refletir sobre um pequeno conjunto de mulheres que tem acesso a informações, são apoiadas, orientadas, incentivadas e mesmo assim não conseguem, não querem (embora esta decisão seja difícil de ser assumida por ser politicamente incorreta). Na verdade, algumas mães podem não estar disponíveis emocionalmente para esta ato tão íntimo, que faz parte da sexualidade humana…
Como estes casos de desmame precoce aparecem no nosso cotidiano ?
“o bebê não pega no peito, não quer mamar”;
“o peito rachou, dói muito”
“o bebê chora muito – eu não tenho leite”
“dou o peito toda hora e ele não ganha peso”
“o peito empedrou, tive uma mastite e o médico pediu para parar”
“não como adequadamente e o meu leite é fraco”
“o meus seios são meus órgãos sexuais e não quero que eles caiam”
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Sabemos pela psico-fisiologia da lactação que a amamentação é um ato psicossomático complexo, que o leite é produzido no peito e na cabeça.
Que para amamentar com prazer há que se ter tranqüilidade, disponibilidade física, temporal, emocional-afetiva, a generosidade de compartir seu corpo, seu colo com o outro, querer dar, poder trocar, estabelecer uma relação muito próxima, profunda, de entrega…
A intenção não é a de colocar “culpa” ou melhor responsabilidade sobre a mulher que não tem paciência ou disposição… O que é necessário é entendermos as origens deste fenômeno que são profundas e podem começar em como esta nutriz atual foi concebida por sua mãe, amamentada ou não, carregada no colo ou não, sua trajetória afetiva familiar e seus relacionamentos conjugal, sexual, sua maneira de conviver com amigo(a)s, sua solidão…
Neste caso parece ser mais fácil utilizar-se da mamadeira porque não é preciso romper com as dificuldades até então guardadas e escondidas no íntimo mais profundo. A mulher que não entende que para mudar precisa romper com as dificuldades e que decidir ter um filho é antes de mais nada, se preparar para mudanças. Ao dar a mamadeira a mulher não sai comprometida a transformar-se, a procurar as causas mais superficiais (erros de técnica, crenças e tabus, desconhecimento do seu próprio corpo e de como o leite é produzido e ejetado/liberado) e os determinantes mais profundos (psíquicos, anímicos, espirituais, energéticos…) desta impossibilidade.
Amamentar é desejo, vontade, entrega, doação, troca, prazer com o outro…. Como pode uma mulher se entregar a um filho se não consegue se entregar a si mesma ? Talvez esteja aí a chave para ajudarmos tantas mulheres a recuperarem a sua auto-estima e confiança em si próprias e aí sim, teremos mulheres prontas para a vida de mãe no sentido completo que esta simples palavra expressa.
As várias formas de amar são, na verdade, integradas, já que os mesmos hormônios estão envolvidos e os mesmos padrões de comportamento ocorrem durante
a relação sexual, o parto e amamentação.”
Michel Odent
O leite é mais produzido “na cabeça”, na nossa psiqué, resultado de nossa emoções de querer ou não, do que nas mamas.
Um exemplo que comprova esta afirmação: mães que adotam bebês sem terem estado grávidas, podem amamentar se estão disponíveis, se querem… Nós profissionais de saúde podemos apoiá-las com algumas técnicas, com algumas medicações, mas são elas e o seu desejo, o determinante do sucesso.
A OCITOCINA produzida pela neuro-hipófise é o hormônio do amor, do prazer,
das liberações/ejeções, da doação, da entrega…
A PROLACTINA secretada pela adeno-hipófise é o hormônio da maternagem…
Antigo na escala evolutiva, servindo a múltiplos papéis…
Mediando o cuidado com a prole, desde a construção do ninho, por ex. , até o comportamento agressivo defensivo, típico das nutrizes.
Quando uma mãe não quer ou está em um momento emocional que não pode, não há técnica, medicamentos, apoio, aconselhamentos que a remova da decisão. Para amamentar tem que querer poder e estar aberta a mudanças. E muitas vezes estes sinais de não disponibilidade já foram dados durante o pré-natal: sua visão das mamas como objeto sexual exclusivo, achar bonito o uso de mamadeiras e chupetas, não querer se preparar para o parto e amamentação em cursos de gestantes…
Há que se ter paciência e propor, sugerir, tentar não impor… e se mesmo assim a decisão é inflexível em não dar o peito, é melhor realmente não ofertá-lo. Uma última tentativa, que o complemento então, seja dado no copinho, ou na xícara para que a disfunção motora-oral (“confusão de bicos”) não se estabeleça e que este bebe possa ter contato pelo menos com os seios para satisfação do seu prazer oral em sugar.
“O vínculo entre mãe e bebê é o protótipo de todas as formas de amor.”