Amamentação exclusiva – estudos científicos
Estudo 1 – Bielorússia
De acordo com um estudo da Bielorússia, antiga república soviética, alimentar exclusivamente com o leite materno por seis meses, ao invés de três, não produz efeitos adversos significativos no crescimento, e protege contra a infecção gastrointestinal.
Amostra: 2.862 bebês alimentados exclusivamente com leite materno até os três meses de idade (continuando com amamentação mista até os seis meses), comparados a 621 bebês que foram amamentados somente com leite materno por, pelo menos, seis meses.
Método: estudo observacional de grupos com características similares, conduzido dentro de uma experiência aleatória com intervenção para promoção da amamentação com leite materno.
Resultados: O grupo alimentado somente com leite materno pelo período de seis meses teve um aumento de peso e de estatura ligeiramente menores (diferenças de 29g/mês e 1,1mm, respectivamente) quando comparado com o grupo de alimentação exclusiva de leite materno por três meses. Contudo, o grupo dos seis meses obteve maior aumento de estatura no período compreendido entre o sexto e o décimo segundo meses, do que o grupo dos três meses (0,9 mm/mês), além de ter a circunferência da cabeça maior aos doze meses (0,19 cm). No grupo dos seis meses houve também uma significativa baixa no nível de infecção gastrointestinal entre o terceiro e o sexto meses de idade, comparado ao grupo de três meses de alimentação com leite materno (proporção da densidade incidente ajustada = 0,35 (95% CI: 0.13, 0.96)).
Referência:
Am J Clin Nutr. 2003 Aug; 78 (2): 291-5. Estudo 2: Crescimento similar em países ocidentais
Estudo 2: Suécia
De acordo com um novo estudo sueco, bebês que são alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de idade não crescem de maneira diferente daqueles que são só parcialmente alimentados com aquele leite.
Amostra: 147 bebês nascidos de gestação plena, amamentados exclusivamente com leite materno desde o nascimento até, pelo menos, a idade de dezesseis semanas, comparados a 325 bebês que receberam, naquela fase, algum tipo de alimentação artificial.
Método: estudo observacional de grupos com características similares.
Resultados: Estatisticamente não houve diferenças significativas entre as crianças alimentadas exclusivamente com leite materno e aquelas que receberam alguma fórmula nas primeiras dezesseis semanas de vida.
Referência: Acta Paediatr. 2003; 92 (2) : 145-51.
COMENTÁRIOS
Alimentar apropriadamente com leite materno no primeiro ano de vida traz indubitáveis vantagens de saúde para o bebê. Contudo, uma questão que tem sido levantada é se os bebês alimentados somente com leite materno para além de três meses, e particularmente depois dos seis meses de idade, poderiam ter uma média de ingestão de energia menor e menor crescimento, comparados aos bebês alimentados, durante o referido período, com um substituto daquele leite ( quer fosse concomitante com a amamentação com leite de peito ou em vez dela). E, se assim for, é este um efeito fisiológico da amamentação com leite materno ou um efeito não identificado de outras variáveis que influenciam na escolha da alimentação com aquele leite, particularmente nas populações mal nutridas (refs. 1,2) ? Num estudo dinamarquês, por exemplo, os bebês alimentados com leite materno por pelo menos sete meses, ganharam aproximadamente 200 gr menos no peso e cresceram 7 mm menos entre o quinto e o décimo meses de idade em relação aos bebês que não receberam o leite materno (ref. 3). Por outro lado, em uma amostra de crianças quenianas, as que foram amamentadas com leite materno por mais tempo – até aos dois anos de idade (ref. 4) – cresceram mais do que as amamentadas ao peito por períodos menores. Não é que tais diferenças no crescimento, se é que existem, constituam, por forma alguma, um problema. Mas muitos especialistas acreditam que existe pelo menos a necessidade de rever os padrões do atual mapa de crescimento para contabilizar apropriadamente as crianças amamentadas com leite materno por períodos longos. Os padrões atuais foram estabelecidos com base em populações infantis nas quais muitas crianças eram alimentadas com substitutos do leite materno (refs. 5, 6). Na interpretação de qualquer pesquisa orientada para a amamentação de bebês com leite materno, é essencial ter-se a certeza do que exatamente está sendo estudado e comparado:
“Referimo-nos a alimentação exclusivamente com leite materno?”
“Quanta amamentação ao peito tem lugar no grupo de controle?”
“Que esforço tem sido feito para controlar os diversos fatores, tais como educação, enfermidade e pobreza, que possam influenciar a escolha da mãe ao amamentar ao peito, assim como as conseqüências sobre a saúde da criança?”.
Todos esses fatores necessitam avaliação. Por exemplo, no estudo sueco (Estudo 2, acima indicado), havia um alto nível absoluto de amamentação parcial no grupo de controle; das mães esperava-se, regra geral, que fosse um grupo suficientemente bem nutrido. Consequentemente era menos provável, que se encontrassem diferenças no crescimentos, associadas à amamentação. No estudo da Bielorússia, por outro lado, as crianças amamentadas somente com leite materno, por períodos mais longos, realmente cresceram um pouco menos durante o segundo trimestre de vida do que as crianças amamentadas somente com leite materno por um período mais curto. Contudo, esta diferença de crescimento foi largamente compensada nos seis meses seguintes e, além disso, as crianças amamentadas por mais tempo tiveram menor incidência de infecção gastrointestinal. Ao fato de o estudo observacional da Bielorússia ser conduzido dentro de uma comunidade estabelecida, acrescenta-se a força do processo de intervenção controlada, pois havia a possibilidade de existir menor influência dos fatores sócio-econômicos, educacionais e de saúde, que são bastante fortes com relação à opção pela amamentação ao peito. Também é interessante que os resultados deste estudo bielorusso estivessem de acordo com outro ensaio recém publicado, proveniente da Índia. No estudo indiano (aleatório ao nível da comunidade) uma intervenção planeada para promover o prolongamento de amamentações exclusivamente com leite materno resultou não somente no aumento deste tipo de amamentação, mas também em crescimento normal e menor incidência de diarréia (ref. 7). De maneira geral, estes novos estudos são bastante convincentes quanto ao prolongamento da amamentação exclusiva após os três meses de idade. Ao mesmo tempo, parece merecerem encorajamento os esforços para rever os padrões de crescimento a fim de dar melhor apoio aos bebês amamentados ao peito.
Referências:
1. Pediatrics. 2002 Aug; 110 (2 Pt 1) : 343-7.
2. Adv Exp Med Biol. 2000; 478 : 193-200.
3. Acta Paediatr. 1998 Sep; 87 (9) :911-7.
4. Lancet. 1999 Dec 11; 354 (9195) : 2041-5.
5. J Hum Lact. 1998 Jun; 14 (2) : 89-92.
6. Acta Paediatr. 2003 Apr; 92 (4) : 413-9.
7. Lancet. 2003 Apr 26; 361 (9367) : 1418-23.