PARA ALÉM dos BENEFÍCIOS NUTRICIONAIS
Além das comprovadas vantagens nutricionais e imunológicas do aleitamento materno, sua prática continuada até os 2 anos ou mais pode favorecer o desenvolvimento neurocognitivo
POR FLAVIA SCHWARTZMAN para a Revista A Mente do Bebê
As vantagens nutricionais, imunológicas, higiênicas e psicológicas do aleitamento materno para o bebê, e, para a mãe, já são bem conhecidas. Outra, ainda não muito clara e alvo de discussão, é o fato de o leite materno ter influência positiva sobre o desenvolvimento neurológico e cognitivo, assim como sobre a aquisição da linguagem e da expressão verbal.
O desenvolvimento cognitivo infantil é um processo altamente complexo, influenciado por fatores genéticos e ambientais que interagem entre si. Nutrição adequada e lar acolhedor, com muitos estímulos, podem influenciar positivamente as habilidades cognitivas da criança.
A maioria dos estudos realizados nessa área observou melhor cognição e desempenho escolar e outros mencionaram melhor expressão verbal nas crianças amamentadas com leite materno, em comparação com as que receberam fórmulas infantis. Outros ainda observaram que os bebês amamentados por mais tempo obtiveram melhor desempenho nos testes que os que o foram por menos tempo. Crianças prematuras parecem se beneficiar ainda mais do leite materno, pois a melhora cognitiva é ainda mais acentuada.
Esses resultados são ainda bastante controversos; não está claro se as melhoras são causadas pelo leite materno de fato ou por outras variáveis. Eles mostram que, em geral, as mulheres que amamentam seus filhos apresentam nível socioeconômico mais alto, melhor nível escolar, nível de inteligência mais elevado, mais idade, menos sintomas indicativos de depressão pós-parto e maior preocupação com o desenvolvimento infantil que as mães que amamentam seus filhos por um curto período de tempo ou que não os amamentam. Todos esses fatores poderiam estimular o desenvolvimento neurológico da criança e não o leite materno propriamente dito.
ÁCIDOS GRAXOS POLINSATURADOS de CADEIA LONGA
Segundo pesquisadores, vários elementos presentes no leite materno poderiam beneficiar o desenvolvimento neurológico, mas atenção especial tem sido dada ao ácido graxo docosahexaenóico (DHA), da família ômega 3, e ao ácido araquidônico (AA), da família ômega 6. Ao contrário da maioria das fórmulas infantis, o leite materno contém esses componentes, e a concentração de DHA neste varia de acordo com a dieta da mãe. Quanto mais peixe consumido, maior a quantidade de DHA.
O nosso organismo é capaz de sintetizar DHA e AA de outros ácidos graxos, o ácido alfa-linolênico (AAL) e o ácido linoléico (AL), que são, aliás, adicionados às fórmulas infantis. Mas parece que a habilidade dos recém-nascidos e dos prematuros em converter AAL e AL em DHA e AA é insuficiente para fornecer toda a quantidade necessária ao sistema nervoso central, principalmente em uma fase de desenvolvimento e crescimento tão acelerados. Por isso, muito provavelmente eles precisariam garantir o aporte de DHA por meio de fontes dietéticas, como o leite materno.
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O DHA e o AA, componentes estruturais da matéria cinzenta do cérebro, o córtex, também se encontram no leite materno.
Esses ácidos promovem a comunicação entre as células nervosas e ajudam a construir as bainhas de mielina ao redor das fibras nervosas, facilitando a neurotransmissão química. Eles também fazem parte das membranas celulares da retina.
São, portanto fundamentais para o bom desenvolvimento neurológico e visual do lactente
PARA CONHECER MAIS
Breast is best: human milk is the optimal food for brain development. R. Uauy e P. Peirano, em American Journal of Clinical Nutrition, vol. 70, págs. 433-434, 1999.
Breastfeeding and later cognitive and academic outcomes. L. J. Horwood e D. M. Fergusson, em Pediatrics, vol. 101, nº 1, 1998.
Is docosahexaenoic, an n-3 long chain polyunsaturated fatty acid, required for development of normal brain function? An overview of evidence from cognitive and behavioral tests in human and animals. J. C. McCann e B. N. Ames, em American Journal of Clinical Nutrition, vol. 82, págs. 281-295, 2005.
A AUTORA
FLAVIA SCHWARTZMAN é nutricionista, mestre em nutrição pela Unifesp, professora de nutrição materno-infantil e de educação nutricional da Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo.