“Sempre tive sonho”:
Enfermeira amamenta filho adotivo após tratamento
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Jéssica Nascimento. Colaboração para o UOL Brasília
Foto – acervo pessoal: Juliana Oliveira, 33, amamenta o pequeno Davi
“Eu sempre tive dois sonhos: ser mãe e amamentar. Hoje posso dizer que sou uma mulher realizada”, diz Juliana Martins Oliveira, 33, enquanto segura o pequeno Davi, de quatro meses no colo. O garoto é fruto de uma adoção, e com a ajuda da ciência, consegue se alimentar de leite materno, produzido pela mãe adotiva, que é enfermeira.
Entre os anos de 2007 e 2016, a moradora do Distrito Federal engravidou duas vezes. A primeira criança morreu com dois meses de vida, devido a uma má formação cardíaca grave. A segunda, que nasceu prematuro no ano passado, viveu por apenas 45 dias. A enfermeira não conseguiu amamentar nenhum dos bebês.
Juliana, no entanto, não desistiu. “O Davi surgiu de uma forma inusitada. Eu, que sou tão boa com as palavras, simplesmente não consigo descrever o amor que senti quando vi seu rostinho pela primeira vez. Ele só tinha 3 dias”, conta.
A primeira amamentação ocorreu em setembro – quando Davi tinha 17 dias de vida. Após Juliana recorrer ao Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal, para tentar produzir leite para seu pequeno a partir da técnica de indução à lactação (lactação adotiva).
A técnica consiste em oferecer leite artificial ao mesmo tempo que o bebê suga o peito, usando um cateter acoplado externamente à mama. A sonda conduz o líquido, armazenado em um recipiente, até a boca da criança, por conta da sucção. A forma de amamentar é ainda capaz de estimular o organismo da mulher a fabricar leite depois de um tempo, pois, quanto mais o bebê suga o peito, mais leite materno é produzido.
Com o passar do tempo, a produção e a quantidade de leite pode aumentar consideravelmente. Assim, podendo reduzir a fórmula prescrita até chegar a amamentação.
Bebê precisava de leite materno
Nos primeiros dias de vida, Davi recebeu leite artificial na mamadeira, no entanto, ele precisava de leite materno. Através do leite, a mãe oferece imunoglobulinas para defender o bebê de bactérias presentes no ambiente.
“O bebê estava internado na pediatria e precisava do leite materno. Como sabíamos da vontade dela, fizemos vários exames e testes – já que por ela ter passado por um transplante renal, fazia uso de remédios”, explica Graça Cruz, chefe do Banco de Leite.
“O processo de amamentação foi complicado. Eu sabia que poderia falhar. Mas, o meu desejo era tão grande que eu não conseguia pensar nisso. O processo não é fácil. É cansativo, mas extremamente prazeroso”, conta a enfermeira.
Além de alimentar o bebê, a amamentação é um momento importante para o fortalecimento de vínculos. “É uma troca de olhares, um momento rico, de carinho e amor”, diz.
Tratamento não é para todas
A neonatologista do Hospital Anchieta Viviana Sampietro explicou que toda mulher com glândula mamária íntegra, quando estimulada, pode produzir leite. Porém, a amamentação não é recomendada em casos que a mulher seja portadora de doenças como HIV, HTLV-1, HTLV-W. Mães que utilizem alguns medicamentos especiais ou drogas não lícitas que possam prejudicar o bebê também não podem amamentar.
“Caso a mulher esteja apta a amamentar e passe pelo processo de lactação adotiva, habitualmente, na primeira semana já tem produção adequada. Durante o período, a mulher deve cuidar da alimentação, ingerir líquidos e permanecer tranquila, evitar ansiedade.”
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A Clínica Interdisciplinar de Apoio à Amamentação oferece apoio técnico para mães que adotam e desejam amamentar.