ACONSELHAMENTO em Amamentação é ALTERIDADE
Hoje ao conversar com um grupo de gestantes e seus familiares sobre Aleitamento, uma delas expressou publicamente seu mal-estar, seu “nojo” em amamentar. Perplexo com a afirmação tão categórica, antes de esboçar qualquer opinião, lembrei-me dos princípios do Aconselhamento em Amamentação. O que para ela é desagradável, para mim, é sublime.
Marcus Renato de Carvalho
Wikipédia conceitua:
Alteridade do latim alteritas (‘outro’) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o ser humano social interage e interdepende do outro. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do “eu-individual” só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro, ou seja, a própria sociedade diferente do indivíduo). Assim, pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc…), com consideração, identificação e dialogar com o outro. Por fim, alteridade não significa que tenha de haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes.
Consideramos a alteridade como sendo a singularidade alheia, o distinto, aquilo que é “outro”, a diferença que marca a personalidade do nosso próximo, que está mais “próximo” quando recorre a nós, como profissionais de saúde.
“Nas abordagens filosóficas, a alteridade tem conotações de rara beleza e profundidade demonstrando a importância da diversidade humana. Entretanto, interessa-nos, mais de perto, seu enfoque ético na convivência.”
“O trato humano com a diferença, da qual o outro é portador, tem sido motivo para variados graus de conflitos e adversidades.”
Apesar das diferenças, o profissional de saúde, por uma imposição ética, precisa estabelecer uma relação acolhedora quando se trata de alguém que não pensa igual ou que foge aos padrões convencionais.
Frequentemente, a dificuldade em compreender as diferenças e os diferentes tem ocasionado um lamentável fenômeno comportamental: a indiferença.
“A indiferença é a negação da diferença; o outro não faz diferença nenhuma, é um bloqueio deliberado ou inconsciente ao distinto, aquilo que não é o “eu”.” Não havendo disposição ou mesmo possibilidade de compatibilidade de entendimento, adota-se a não escuta. A indiferença provoca uma quase total ausência de solidariedade nas relações entre os seres humanos.
Essa inabilidade convencional se agrava nos espaços de saúde (ambulatórios, consultórios, maternidades) onde o nosso apoio como consultores de amamentação é solicitado.
Se aquela nutriz (e sua família) é uma referência de incômodo, esse estado psicológico instiga o julgamento inflexível através da análise superficial. Como profissional de saúde, você deve reconhecer esse sentimento e superá-lo ou abandonar essa consulta solicitando que outro colega menos abalado e mais habilitado possa seguir o atendimento.
O Aconselhamento nos traz um convite ético: mesmo que a paciente não seja compreendida integralmente na sua diferença, trata-se do início do fim da indiferença.
Começa-se assim a compreensão da importância que tem a diversidade de opiniões, de aptidões, de disponibilidades… O que para mim é “desigual” passa a ser visto como alguém com o seu valor para o meu crescimento pessoal e profissional.
“A maleabilidade, a assertividade, a empatia e outras habilidades emocionais passam a ser usadas com mais intensidade.”
Diferenças não são defeitos, os diferentes não são oponentes que você tem que vencer com a imposição do seu ponto de vista.
Reflexões preparatórias para a IX e X
Oficina de Introdução ao Aconselhamento em Amamentação
em 25 de maio e 27 de julho próximos, nas cidades de Piracicaba, SP e Fortaleza, CE.
Texto baseado no capítulo 19 – “Etapas da Alteridade” do livro Mereça ser Feliz de Ermance Dufaux pela psicografia de Wanderley S. de Oliveira, Dufaux Editora, 2018.