O ALEITAMENTO MATERNO E A ODONTOLOGIA
Se pretendermos que as crianças tenham uma qualidade de vida na intensidade que se pode almejar, devemos conhecer mais sobre as vantagens do aleitamento materno, vantagens estas que continuam beneficiando a criança por um longo período de tempo, ou até mesmo, por toda a sua vida. A OMS (1993) preconiza o aleitamento materno exclusivo (só leite, sem outros líquidos, como água e chás) até o sexto mês e complementada com alimentos sólidos até os 2 anos de vida do bebê ou mais.
A quase totalidade das mulheres brasileiras iniciam a amamentação, mas, por alguma razão, interrompem-na precocemente ou não a fazem exclusivamente até o sexto mês, como recomenda a OMS. No entanto, o esforço realizado pelos órgãos que apóiam e incentivam o aleitamento materno no Brasil tem modificado positivamente essa prática. Dados do Ministério da Saúde (2001) sobre a prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal, exceto Rio de Janeiro, coletados em outubro de 1999, mostram uma duração mediana de aleitamento materno de 10 meses, mas de apenas 23 dias para a amamentação exclusiva.
O objetivo deste artigo é incentivar o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida do bebê, listando as vantagens que este produz tanto para o bebê como para a mãe. Busca também orientar quanto aos malefícios do uso de mamadeiras e chupetas para o desenvolvimento orofacial da criança.
VANTAGENS DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
Vantagens para o bebê (Unicef/OMS, 1993 e Valdés, Sanchez e Labbok, 1996):
Nutricionais: É um alimento perfeito, com todo o aporte nutricional adequado para o desenvolvimento físico e mental da criança até o sexto mês em amamentação exclusiva. Após o sexto mês, o aleitamento deve continuar se possível até os dois anos de idade do bebê, com o uso concomitante de outros alimentos necessários à adequação da nutrição da criança.
Imunológicas: Protege a saúde do lactante contra as infecções, especialmente as do trato gastrintestinal e as respiratórias, protege também contra alergias ao adquirir anticorpos da mãe através do leite.
Em função da variada alimentação materna, ocorre a adaptação do bebê, aos poucos, a novos alimentos.
Menor incidência de morte súbita no berço, de diabetes tipo I, linfomas e doença de Crohn.
Estimula um adequado desenvolvimento intelectual, psicossocial e acuidade visual do lactante.
Favorece a relação mãe e filho.
Vantagens para a mãe (Ministério da Saúde – Brasil, 2001):
Facilita o estabelecimento do vínculo afetivo mãe-filho.
Previne as complicações hemorrágicas no pós-parto e favorece a regressão uterina ao seu tamanho normal.
Contribui para o retorno mais rápido ao peso pré-gestacional.
É um método natural de planejamento familiar, entretanto somente até os seis meses, desde que a criança esteja aleitamento exclusivo, em livre demanda, e que a mãe não tenha mestruado após o parto.
Reduz o risco de câncer de ovário e de mama.
Previne a osteoporose.
DESENVOLVIMENTO BUCAL E FACIAL
Além das vantagens já citadas, o ato de amamentar beneficia o desenvolvimento orofacial da criança. É importante observar que, ao simultaneamente ordenhar o leite, deglutir e respirar, o bebê realiza movimentos que estimulam o crescimento harmonioso das estruturas orais e faciais (Moyers, 1993). Ao nascer, o bebê tem a mandíbula muito pequena, que irá alcançar um tamanho equilibrado em relação à maxila ao ter seu crescimento estimulado pela sucção do peito. Maxilares melhor desenvolvidos propiciarão um melhor alinhamento da dentição, diminuindo a necessidade futura do uso de aparelhos ortodônticos. Músculos firmes ajudarão na fala. Durante a amamentação, aprende-se a respirar corretamente pelo nariz, evitando amidalite, pneumonias, entre outras doenças.
A amamentação é a melhor forma de (Carvalho, 2003):
Prevenção da Síndrome do Respirador Bucal.
Prevenção de problemas do aparelho respiratório.
Forma de evitar a deglutição atípica (incorreta).
Prevenção do mau posicionamento dos dentes.
Prevenção das disfunções crâneo-mandibulares.
É a melhor maneira de prevenir as dificuldades da fonação.
USO DE MAMADEIRAS E CHUPETAS
Sabe-se que o bebê ao sugar na mama adota um padrão de sucção diferente do padrão assumido com os bicos artificiais. Surge então o que se chama confusão de bicos, definida como a dificuldade de um lactante em conseguir um padrão de sucção correto para amamentar-se com êxito, após ter sido alimentado com mamadeira ou ter sido exposto a um bico artificial. Essa confusão de bicos acontece de forma diferente de um bebê para outro. Em alguns, uma mamadeira recebida pode ser suficiente para confundi-los, enquanto que, para outros, várias mamadeiras serão necessárias para essa confusão. Também a confusão de bicos acontece mais quando a amamentação não está bem estabelecida, principalmente nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Não são bem conhecidos os mecanismos de como acontece com alguns bebês e outros não. Procurando alternativas para impedir a ocorrência de confusão de bicos que possa atrapalhar o curso do aleitamento deve ser evitado o uso de chupetas e mamadeiras. Caso seja preciso complementar leite materno ou substitui-lo por alguma razão, recomenda-se o uso de copos, colher, conta-gotas ou seringas, não acrescentando açúcar ao leite. Caso o bebê não possa mamar na mãe por algum período de tempo, torna-se vital manter a produção de leite da mãe, através de ordenha manual de leite (Gonçalves, 2005).
Entre os possíveis problemas gerados aos bebês em função do uso de chupetas e mamadeiras destacam-se:
Prejuízo no desenvolvimento da face e cavidade oral da criança.
Prejuízo à respiração (respiração pela boca) e alterações da fala.
Disfunções da língua (deglutição).
Alterações no posicionamento dos dentes.
“Cáries de mamadeira” devido ao acréscimo de açúcar ao leite e/ou colocação de açúcar ou mel na chupeta.
Otites.
Associados à mamadeira, vem o uso da chupeta e o habito de chupar o dedo e roer as unhas, afetando o posicionamento dos dentes e trazendo também conseqüências danosas à fala e à respiração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A amamentação no peito é tão importante do ponto de vista nutricional, antiinfeccioso, psicológico e para o desenvolvimento da musculatura peribucal e intrabucal que a mãe deve ser sempre encorajada a amamentar seu filho.
Nesse sentido o empenho constante dos profissionais da área de saúde em oferecer condições para a mãe amamentar, informando e incentivando, pois apesar de a amamentação ser biologicamente determinada, as mulheres não decidem ser mãe e amamentar como um imperativo biológico, ficando sua tomada de decisão condicionada a vários fatores, tais como as condições de trabalho e de moradia, o apoio familiar e o acesso à informação em saúde, dentre outros.
Alessandra Rivero Hernandez
Cirurgiã-dentista CRO-RS 14.546
BIBLIOGRAFIA
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas da Saúde. Área Técnica da Saúde da Mulher. Parto, Aborto e Puerpério: Assistência Humanizada à Mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
Carvalho, G. D. de. S.O.S. Respirador Bucal – Uma visão funcional e clínica da amamentação. Lovise. 1.ed., 2003
Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF. Manejo e promoção do aleitamento materno num Hospital Amigo da Criança. Curso 18 horas para equipes de maternidades. Brasília: UNICEF/OMS, 1993.
Gonçalves, A. de C. Aleitamento materno. In: Oliveira, Dora Lúcia de. Enfermagem na gravidez, parto e puerpério – Notas de aula. 1.ed. Porto Alegre: UFRGS editora, 2005.
Moyers, R. Ortodontia. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 1993.
Valdés, V. Sánchez, A. Labbok, M. Manejo clínico da lactação. Assistência à nutriz e ao lactante. Rio de Janeiro:Revinter, 1996.
Lei impõe LIMITES ao setor de chupetas e mamadeiras
Chris Martinez – São Paulo do Jornal Valor Econômico – 02/12/2005
Uma lei rigorosa que proíbe, desde 2002, qualquer tipo de publicidade ou, até mesmo, promoção de bicos, mamadeiras, chupetas e protetores de mamilos no ponto-de-venda mudou radicalmente a estratégia das fabricantes do setor. Os bebês que emprestavam seus rostinhos bonitos para comerciais, na telinha ou em revistas, perderam o lugar cativo, e a competição entre as empresas tornou-se uma guerra tão silenciosa que passa despercebida aos olhos do consumidor.
O assunto é polêmico. Joga em lados opostos o Ministério da Saúde e ONGs, que querem incentivar o aleitamento materno, e as fabricantes do setor. Além do duelo entre governo e iniciativa privada, abriu-se uma rivalidade dentro do próprio setor: grandes fabricantes tentam conter o avanço das empresas informais, que vendem produtos a preços bem menores.
“Não somos contra o aleitamento, mas estamos sendo penalizados porque a lei nivelou por baixo todas empresas”, diz Nelson Mussolini, diretor corporativo da Novartis. A multinacional do setor farmacêutico lidera o ramo de puericultura desde que comprou a Lillo, maior empresa nacional, e reforçou o negócio com a marca internacional Gerber.
Distantes da mídia, sem armas de comunicação para chamar a atenção do freguês e sem poder de barganha para fazer o Ministério da Saúde voltar atrás, as grandes fabricantes tiveram que baixar preços para brigar nas gôndolas. Também foram forçadas a fazer um austero corte de custos para não entrar no vermelho.
A Lillo by Gerber terceirizou parte da produção, demitiu 50 funcionários (de um total de 450) e passou a produzir no Brasil o silicone usado no bico da mamadeira e das chupetas, em vez de importar dos Estados Unidos. Hoje, a fábrica de Campo Grande (RJ), que veio com a aquisição da Lillo, opera com capacidade ociosa. A empresa dispensou 70 promotoras que faziam ações no varejo.
Mussolini não nega que, eventualmente, a unidade brasileira possa ser fechada, mas acredita que ainda é cedo para falar no assunto. “Uma multinacional desse porte nunca faz investimentos de curto prazo.” No ano passado, a Novartis fechou a fábrica da Gerber na Argentina – por problemas de mercado e não de legislação.
A Gerber contabiliza, ainda, duas tentativas frustradas de estrear no mercado de papinhas para bebê no país – a última delas, no ano passado. A primeira foi na década de 70, quando a Gerber ainda não tinha sido mundialmente adquirida pela Novartis. A Nestlé continua sozinha no setor.
A austríaca MAM, que desembarcou no país antes da proibição mais rígida, vem adiando o investimento na construção de uma fábrica no Brasil. “A unidade poderia servir de base de exportação para a América Latina”, diz Jorge Pasquotto, presidente da empresa. Ele observa que a MAM compensou suas vendas, ao ampliar a distribuição, aumentar o número de itens em seu portfólio e chegar até o varejo de supermercados.
Com quase 50 anos, a brasileira Neopan também fez corte de pessoal na sua fábrica de Santo André (SP) e vai fechar este ano no vermelho, segundo César Sansano, diretor geral da empresa e presidente da associação que reúne as empresas do setor, a Abrapur. Sansano diz que as vendas físicas do setor vêm caindo 10% nos últimos dois anos. Por mês, o Brasil produz 1,5 milhão de mamadeiras e 3,2 milhões de chupetas
Sob pena de serem multadas até mesmo se oferecerem descontos nas prateleiras, as empresas silenciam sobre a queda de preço e pouco falam sobre suas estratégias de vendas. A maioria delas capricha nas negociações de vendas com o grande varejo de supermercados. Consegue, com isso, um efeito de redução de preço na gôndola.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem sido firme na fiscalização. A técnica Ana Paula Massera diz que, antes de serem punidas, as empresas recebem um alerta, mas se não cumprirem as regras podem ser multadas em até R$ 1,5 milhão. A lei obriga os fabricantes a advertir os consumidores em suas embalagens.
Na tentativa de ganhar a simpatia do médicos, que em geral são contra o uso de chupetas e mamadeiras, algumas empresas têm visitado consultórios. A MAM, que importa toda a linha de produtos, reuniu-se recentemente com pediatras ortodônticos para falar sobre o seu bico de mamadeira ortodôntico e escovas de dentes.
Na lei que limita a comercialização – na verdade são três normas com poder de lei, uma das quais originada em 1988 – o governo alerta sobre os riscos que o uso desses produtos podem causar à saúde dos bebês. “Chupetas e mamadeiras podem provocar disfunção motora e gerar problemas ortodônticos, além de cáries”, alega o pediatra Marcus Renato de Carvalho, que desde 1998 faz parte da IBFAN, uma ONG em defesa do aleitamento materno.
Carvalho diz que no Brasil o desmame dos bebês é precoce, influenciado pelo uso das mamadeiras. E o tempo médio de amamentação exclusiva (sem a introdução de outros tipos de leites) é de apenas 23 dias, enquanto o recomendado é de 180. “Mas esses dados vêm crescendo”, diz. “O Brasil tem um grande programa de incentivo e já possui um dos maiores bancos de leite dos mundo, com 274 pontos de coleta.” Os médicos defendem a amamentação até o sexto mês e, depois disso, a introdução de outros alimentos e água de coco, dada ao bebê em colheres ou copos.
Esclarecimentos quanto à esta reportagem:
Fui entrevistado por telefone por esta jornalista, que pude perceber, teve uma experiência de amamentação não exclusiva.
É lógico que NÃO falei que a AMAMENTAÇÃO ÉRA SÓ ATÉ OS 6 MESES.
Expliquei que a lei existia desde 1988 – estava na IBFAN antes disto – ela confundiu…
Os jornalistas NÃO enviam a matéria – ainda que tivesse solicitado, para revisão…
Também não sei o que significa PEDIATRAS ORTODÔNTICOS…, ODONTÓLOGOS Ortodondistas ?
De qualquer forma, vejo positivamente…
Significa que estamos incomodando e nossos esforços valem a pena.
abraços,
Marcus Renato de Carvalho
www.aleitamento.com