AMAMENTAR é um ato FEMINISTA
Maria Alice Stock para o blog Lápis lázuli
2 anos atrás
“A mulher deve ser livre”, disse a educadora na creche que minha filha frequenta, explicando as “razões culturais” que fazem com que a amamentação prolongada seja pouco usual na França e na Suíça. Eu tinha perguntado se havia outros bebês no grupo que ainda eram amamentados. Pois então, só minha filha e um menino cuja mãe é japonesa. Ao que parece, é comum no Japão amamentar até a criança ter dois ou três anos, que sortudas.
Segundo minha interlocutora, a força do feminismo na França e na Suíça explicaria a curta duração do aleitamento materno. Achei esse raciocínio tão bizarro que tive que escrever sobre o assunto (o post original foi escrito em francês). Ora, eu sou feminista. Acho que vale a pena brigar para que o termo continue válido e relevante, apesar de ser mal interpretado atualmente, tanto por pessoas que se dizem a favor quanto contra o feminismo (a esse respeito, deixo com vocês o discurso excelente da Emma Watson, para quem ainda não viu).
Sou feminista e não vejo contradição entre a luta pela igualdade de gênero e a escolha de continuar amamentando minha filha de 11 meses.
Para algumas mulheres, incluindo eu mesma, amamentar é justamente um ato feminista. Uma afirmação de autonomia, um ato de resistência: não vamos ceder às pressões da família, dos amigos-as, colegas de trabalho, pediatra, de quem seja para substituir nosso seio por uma mamadeira. O seio é meu, o bebê é meu. Vou dar o peito pelo tempo que ela e eu quisermos.
Obviamente, não é fácil para uma mãe que trabalha em tempo integral continuar amamentando quando acaba a licença maternidade. Entendo perfeitamente que as mães considerem a mamadeira de leite em pó a única escolha possível nesse momento. Porém… será que não deveríamos então lutar precisamente para que as mães que desejem continuar amamentando possam contar com estrutura no local de trabalho para ordenhar o leite e/ou amamentar seus bebês? Que a licença-maternidade seja de seis meses para todas as mulheres que o desejem? (Obs.: Na Suíça, são 4 meses. Na França, varia de acordo com quantos filhos a mulher já tem e se é um bebê ou gêmeos que estão nascendo. Para mulheres que estejam tendo o primeiro ou segundo filho são 16 semanas, sendo que 3 dessas semanas obrigatoriamente são contadas antes do nascimento).
Seria bem bacana ter a possibilidade de uma licença ainda mais longa para o casal dividir entre si, mas estou dizendo seis meses porque, ao se iniciar a diversificação alimentar, os bebês dependem cada vez menos do leite materno. Quando a criança começa a comer bem, perto de 1 ano, passa a ser possível amamentar apenas três ou quatro vezes por dia. Por exemplo, pela manhã, na saída do berçário e antes de dormir, talvez com uma mamada na madrugada (preciso admitir que muitos bebês continuam mamando no meio da noite por bastante tempo).
A educadora acrescentou que não se trata simplesmente de uma escolha feita por causa da volta ao trabalho, mas que “é preciso que o bebê possa ficar tanto com a mãe quanto com o pai”. De novo, não vejo conflito entre uma coisa e outra. Antes de mais nada, vale dizer que um recém-nascido precisa da mãe, seja ele alimentado no peito ou na mamadeira.
O pai, por sua vez, pode fazer muita coisa, mesmo se o bebê mama na mãe. Pode fazê-lo dormir quando acorda no meio da noite. Cuidar das fraldas e das refeições sólidas. Levar para passear. Levar e buscar na creche. Dar banho. Resumindo, tudo aquilo que não requer o seio materno. Não estou dizendo que seu bebê vai necessariamente aceitar que seja o pai que fique com ele no meio da noite, por exemplo (muitos só se acalmam com a mamãe, é verdade, mas nem todos).
O ponto é testar quais tarefas funcionam bem com o pai e com a mãe para achar o equilíbrio.
Escolher amamentar ou não é exercer sua liberdade. Escolher amamentar é exercer seu poder de nutrir seu filho ou filha você mesma. Lembro daquele leite em excesso que jorrava à mais leve pressão sobre os seios nos primeiros meses. Semana após semana, meu bebê ganhava peso, e isso exclusivamente com leite materno, o leite que eu produzia. Fiquei maravilhada com isso, não sabia que eu era tão poderosa! Então, como dizer que esse não é um ato feminista? Sim, a mulher deve ser livre. Livre para escolher amamentar ou não, durante quanto tempo, escolher fazê-lo em público ou não. O essencial é fazer uma escolha consciente, respeitando a si mesma.
Homenagem do aleitamento.com ao DIA INTERNACIONAL da MULHER