Pesquisa:
1 em cada 3 mães tem dificuldade para criar vínculos imediatos com o bebê
Estudo realizado na Inglaterra mostrou também que 12% das mulheres sentem vergonha de falar sobre o assunto com profissionais de saúde
Crescer online – 27/06/2016
Você espera nove meses pelo tão sonhado filho e, quando ele nasce, sente imediatamente um amor imenso e o vínculo é estabelecido instantaneamente. Será? Saiba que nem sempre é assim…
Segundo um estudo inglês recente realizado pela National Childbirth Trust (organização que presta auxílio a pais desde a gravidez até a primeira infância), uma em cada três mães luta para criar vínculos com os filhos recém-nascidos. Segundo Elizabeth Duff, representante da instituição, pais que não sentem essa conexão imediata com o bebê que acabou de nascer geralmente sentem culpa e vergonha. “Esperamos que essa pesquisa mostre a esses pais que eles não estão sozinhos e que a formação do vínculo normalmente leva tempo para acontecer”, afirma.
A psicanalista doutora pela USP Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerar (SP), lembra que esse vínculo é mesmo trabalhoso para todos os pais. “A dificuldade está em admitir que não existe essa coisa imediata. A ligação que a mulher estabelece com o filho durante a gestação é com um bebê idealizado na cabeça dela. Esse primeiro vínculo é muito fantasiado e aquele que sai da sua barriga é um ser estranho. É um trabalho emocional a mais para fazer, e cada pessoa tem seu tempo. Isso pode acontecer rapidamente ou não”, diz.
Dia a dia
É preciso estar preparado para esse tempo necessário para a formação do vínculo, que é diferente para a mulher e para o homem. Iaconelli diz que essa ligação forte com o bebê é estabelecida no dia a dia, nos momentos de cuidado. “O vínculo vem do costume. Também é fundamental que a mulher tenha tempo para si, porque se tiver que deixar de lado a própria vida, o bebê vira um peso”, alerta. Aqui entra inclusive o risco de depressão pós-parto. Se a mulher não for bem acolhida nesse momento, pode apresentar fobias ou comportamentos que levem à depressão. “Ela tenta chamar atenção para uma coisa que ela mesma não consegue nomear. São formas que o corpo encontra de fazer a mulher ser escutada por ela mesma”, afirma Vera.
Os pesquisadores do National Childbith Trust lembram que o processo de vínculo entre mãe e bebê influencia também a resposta da criança ao estresse, comportamentos de aprendizagem e habilidades sociais. Eles ainda orientam as famílias que sentem dificuldades nesse sentido a socializar com outros pais, fazer bastante contato físico com o filho e interagir regulamente com o bebê conversando, lendo ou cantando para ele, por exemplo.
Rede de apoio
Embora o estudo fale sobre a importância dos profissionais de saúde para ajudar as mulheres a lidar com essa questão, 12% delas afirmaram sentir vergonha de abordar o assunto. Vera lembra que isso é comum porque elas acham que têm algo de errado, não contam para ninguém e, então, cria-se a confusão. “Por isso, sou super a favor dos encontros de pais e mães, para justamente eles terem a possibilidade de conversar e ser acolhidos sem julgamentos”, diz.
Para estabelecer o vínculo sem pressa
– Permita-se ter esse tempo para conhecer o bebê e o novo papel que você está assumindo.
– Não se sinta pressionada pela imagem romantizada da maternidade. Cada família é única e lida com ela da melhor forma.
– Entregue-se de corpo e alma a esse novo papel, sempre respeitando seus próprios limites. Isso pode incluir restringir as visitas e pedir ajuda, caso seja sua vontade.
– Aceite que está diante do novo, do desconhecido. Portanto, para estabelecer esse vínculo, como em qualquer outra relação, é preciso entrega, confiança e paciência. Com um bebê, isso significa respeitar o ritmo dele – e o seu! –, dar muito colo e amor. Tudo vem com o tempo.
Leia mais